Com cena sobre casamento gay, ópera de Roger Waters faz última apresentação nesta quinta (9)
A ópera "Ça Ira - Há Esperança", criada pelo ex-integrante do Pink Floyd Roger Waters, e que tem como base a Revolução Francesa, faz sua última apresentação em São Paulo nesta quinta (9).
O público brasileiro pode ver uma adaptação nova, diferente das apresentadas pelo resto do mundo desde 2005. Na cena final, dois casais homossexuais simulam um casamento e seguram uma faixa escrita “égalité” (igualdade). Na última terça-feira, o episódio fez com que a plateia do Theatro Municipal aplaudisse de pé.
“Vivemos em um momento em que precisamos nos manifestar. Sempre quis fazer essa cena. Isso prova a contemporaneidade da mensagem e mostra que os temas da Revolução Francesa continuam atuais. Até por isso quis falar de sanidade. É um tema muito importante para ser debatido no Brasil, até porque somos um país feito de diversidade. Um país laico, em que todos pagam impostos e têm direitos. Foi com muita emoção que vi o público aplaudindo essa cena. Isso mostra que as pessoas apoiam”, afirmou o diretor cênico André Heller-Lopes ao UOL.
Com duração de 2h15, o espetáculo de 1988, sobre o libreto de Étienne e Nadine Roda-Gil, se passa em um manicômio e tem como pano de fundo o desejo de revolucionários visionários por uma sociedade mais justa, que lutam contra a monarquia, opressão social e a pela própria liberdade individual.
O diretor explica que optou pelo cenário de hospício para homenagear o artista plástico brasileiro Arthur Bispo do Rosário – tido como louco por alguns e gênio por outros – e a cultura brasileira, além de debater justamente a questão de insanidade e política. “Queria que tivesse uma identidade cultural, que não ficasse apenas como uma obra de um artista inglês”, completou Heller-Lopes, que dirige um elenco majoritariamente brasileiro, apesar de a ópera ser cantada em inglês e apresentada com legendas.
"Quando o projeto surgiu achei desafiador debater o pop e o clássico", afirmou o diretor cênico André Heler-Lopes
O projeto original da ópera seria apresentado em Paris como celebração do bicentenário da Revolução Francesa, em 1989, mas só ficou pronto em 2005 – no Brasil, foi apresentado apenas em Manaus, sob outra direção. Para dar conta de seus arranjos musicais, Waters contou com a colaboração de 20 anos do regente Rick Wentworth, responsável pela direção musical.
Apesar de ser uma obra com sopranos, tenores e barítonos – além das marcas de Waters e Heller-Lopes, quando discutem conflitos contemporâneos como a pobreza, capitalismo, opressão e autoritarismo –, o espetáculo mantém um ar de musical, mas sem perder a essência. “Quando o projeto surgiu, achei desafiador debater o pop e o clássico. As pessoas acham que ópera não pode ser moderna”, afirmou Heller-Lopes.
Além de amantes de óperas, o espetáculo também atraiu fãs do Pink Floyd e de rock, que vibraram ao final quando Roger Waters subiu ao palco para agradecer e acenar para plateia. Alguns, mais otimistas, também fizeram questão de esperar o astro na saída do teatro e acabaram ouvindo um “Obrigado. Eu amo vocês”.
Quem vai ao teatro em busca de referências conhecidas do baixista, não se decepciona. No palco, algumas cenas que misturam tons de preto e branco e vermelho lembram o filme “The Wall”, lançado pela banda em 1982.
Último dia em cartaz na capital, a ópera ainda não tem um destino certo. “O Roger quer levar o espetáculo para outros lugares do mundo. Para mim, foi um momento muito especial. Consegui trabalhar de forma criativa, discutir conceitos e pré-conceitos. Foi um exercício de liberdade. Me encontrei com esses revolucionários, que lutam por liberdade. É uma honra ‘Ça Ira’ ser dirigida por um brasileiro”, declarou o diretor cênico.
"Ça Ira - Há Esperança'
Onde: Theatro Municipal de São Paulo (Praça Ramos de Azevedo, s/n)
Quando: 9/05 (qui) Horário: 20h
Classificação: 10 anos
Os ingressos estão esgotados
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