Sequência de "Cinquenta Tons de Cinza" tem cenas de sexo repetitivas e cai na mesmice

Depois de muito sexo e milhões de cópias vendidas ao redor do mundo, a trilogia "Cinquenta Tons de Cinza" chega à sua segunda etapa com “Cinquenta Tons Mais Escuros” (tradução de Juliana Romeiro, Editora Intrínseca) e traz a continuação do tórrido romance entre Ana Steele e Christian Grey.
A sequência do best-seller escrito por E. L. James começa a ser vendida nas livrarias brasileiras neste sábado (15) com a responsabilidade de dar continuidade ao mega-sucesso da franquia, que fez jus ao o apelido de “pornô para mamães” pelas diversas, e extremamente detalhadas, cenas de sexo ao longo das páginas.
Com uma história romântica bastante convencional, o único ponto que diferenciava a obra das demais do gênero romântico era o gosto de Grey pelo BDSM (universo que engloba o sadomasoquismo, dominação, submissão, disciplina e o uso de cordas para amarrar o parceiro durante a relação sexual), mas mesmo assim, as referências à prática eram pouco detalhadas e deixaram a sensação de que o assunto seria tratado de maneira mais profunda nos livros seguintes.
Dada a forma como “Cinquenta Tons de Cinza” acaba, com Ana decidida a abandonar Grey depois de uma surra de correias no “Quarto Vermelho da Dor”, o mínimo que se espera é que a garota, assim como o a trilogia, amadureça. O que não acontece. Depois de apenas cinco dias, a moça volta correndo para a cama de Grey. O que se nota, a partir de então, é uma história muito parecida com sua antecessora e bem mais conservadora, para não dizer careta.
As cenas de sexo continuam a nortear a obra e aparecem em abundância. Para quem terminou a primeira parte, o exercício de ler esses trechos é cansativo e repetitivo. James passa a impressão de que os momentos íntimos do casal estão ali somente para dar mais volume ao livro e apenas muda o cenário (no barco, em cima da mesa de sinuca, dentro do elevador) para tentar deixar a descrição mais variada. Em determinado momento, cinco cenas estão aglomeradas em um intervalo de menos de 100 páginas, sempre com a mesma fórmula.
A química entre a dupla parece mais afiada ainda e não há uma cena de sexo em que os dois não cheguem ao orgasmo simultaneamente (na literatura, tudo é possível). A sintonia do casal e a tensão sexual são praticamente onipresentes e até o ato de comer uma porção de ostras se torna a ação mais inexplicavelmente erótica do universo. Tudo é muito perfeito e etéreo, aparentando convencer mais as leitoras recém-iniciadas sexualmente ou prestes a serem, do que propriamente as donas de casa.
Para quem esperava mais cenas de BDSM, o livro é uma grande decepção, já que relação do casal se torna ainda mais “baunilha” e a paixão vai dando lugar ao amor. Com momentos de sentimentalismo extremo, muitas vezes culminando em passagens repletas de lágrimas compartilhadas, a autora se vale dos clichês românticos mais clássicos na tentativa de dar profundidade emotiva ao enredo.
Além de "Cinquenta Tons de Cinza"
Um novo modelo de erotismo está na moda nas livrarias. Sem a riqueza literária de um Sade, e com uma dose do romantismo meloso da clássica coleção Sabrina (Nova Cultural), estes textos ganham leitores na velocidade de uma pastelaria. Leia mais sobre outros títulos, como "Toda Sua" e "Falsa Submissão".
Em “Cinquenta Tons Mais Escuros” são revelados mais detalhes da infância de Grey e o que o motivou a ser um praticante do BDSM. O galã milionário se torna mais dócil e sua interdependência com Ana se acentua. O sentimento possessivo continua sendo uma marca forte de sua personalidade e chega a ser sufocante, manifestado principalmente quando Ana se aproxima de qualquer pessoa do sexo oposto, seja ela amiga ou colega de trabalho.
Ana, por sua vez, se rende a todos os luxos e mimos que a vida de milionária pode lhe proporcionar e acaba se submetendo economicamente ao seu príncipe encantado. Apesar das inúmeras reflexões que a moça faz sobre a vida, parece não ter coragem de tomar decisões mais drásticas, o que reflete sua essência ainda infantil , ao passo que se mostra mais sensual e provocativa fisicamente conforme a história evolui.
Uma personagem, se é que podemos chamar assim, que merece destaque é a “deusa interior” de Ana, termo que ela usa para denominar sua consciência. Ela continua a ganhar vida própria à medida que a jovem jornalista projeta seus desejos em sua mente e dá um show à parte, com piruetas, saltos mortais e até passos de balé e tango.
O livro traz momentos de suspense, protagonizados por personagens coadjuvantes que passam a impressão de que a história pode dar uma reviravolta e sair da mesmice. Entretanto, isso não acontece e figuras importantes, como a temida Mrs. Robinson, Jack Hyde (chefe de Ana), Leila (ex-submissa de Grey) e Dr. Flynn (psicólogo de Grey) deixam no ar a sensação de que ainda contribuirão e movimentarão mais a trama no seu desfecho.
“Cinquenta Tons Mais Escuros” é de leitura fácil, mas pouco desafiadora. Com poucas novidades em relação a “Cinquenta Tons de Cinza”, a história aparenta servir apenas de ponte para o último livro da saga e deixa os leitores com a expectativa de que a parte final do romance, “Cinquenta Tons de Liberdade”, traga um pouco mais de emoção e intensidade e se torne de fato um “pornô para mamães”.
“Cinquenta Tons Mais Escuros”
Tradutora: Juliana Romeiro
Editora: Intrínseca
Páginas: 512 páginas
Preço: versão impressa R$39,90; versão e-book R$ 24,90
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