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Sequência de "Cinquenta Tons de Cinza" tem cenas de sexo repetitivas e cai na mesmice

"Cinquenta Tons Mais Escuros" é segundo livro da trilogia de E. L. James - Reprodução
"Cinquenta Tons Mais Escuros" é segundo livro da trilogia de E. L. James Imagem: Reprodução

Oscar Fujiwara

Do UOL, em São Paulo

15/09/2012 07h00

Depois de muito sexo e milhões de cópias vendidas ao redor do mundo, a trilogia "Cinquenta Tons de Cinza" chega à sua segunda etapa com “Cinquenta Tons Mais Escuros” (tradução de Juliana Romeiro, Editora Intrínseca) e traz a continuação do tórrido romance entre Ana Steele e Christian Grey.

A sequência do best-seller escrito por E. L. James começa a ser vendida nas livrarias brasileiras neste sábado (15) com a responsabilidade de dar continuidade ao mega-sucesso da franquia, que fez jus ao o apelido de “pornô para mamães” pelas diversas, e extremamente detalhadas, cenas de sexo ao longo das páginas.

Com uma história romântica bastante convencional, o único ponto que diferenciava a obra das demais do gênero romântico era o gosto de Grey pelo BDSM (universo que engloba o sadomasoquismo, dominação, submissão, disciplina e o uso de cordas para amarrar o parceiro durante a relação sexual), mas mesmo assim, as referências à prática eram pouco detalhadas e deixaram a sensação de que o assunto seria tratado de maneira mais profunda nos livros seguintes.

Dada a forma como “Cinquenta Tons de Cinza” acaba, com Ana decidida a abandonar Grey depois de uma surra de correias no “Quarto Vermelho da Dor”, o mínimo que se espera é que a garota, assim como o a trilogia, amadureça. O que não acontece. Depois de apenas cinco dias, a moça volta correndo para a cama de Grey. O que se nota, a partir de então, é uma história muito parecida com sua antecessora e bem mais conservadora, para não dizer careta.

As cenas de sexo continuam a nortear a obra e aparecem em abundância. Para quem terminou a primeira parte, o exercício de ler esses trechos é cansativo e repetitivo. James passa a impressão de que os momentos íntimos do casal estão ali somente para dar mais volume ao livro e apenas muda o cenário (no barco, em cima da mesa de sinuca, dentro do elevador) para tentar deixar a descrição mais variada. Em determinado momento, cinco cenas estão aglomeradas em um intervalo de menos de 100 páginas, sempre com a mesma fórmula.

A química entre a dupla parece mais afiada ainda e não há uma cena de sexo em que os dois não cheguem ao orgasmo simultaneamente (na literatura, tudo é possível).  A sintonia do casal e a tensão sexual são praticamente onipresentes e até o ato de comer uma porção de ostras se torna a ação mais inexplicavelmente erótica do universo. Tudo é muito perfeito e etéreo, aparentando convencer mais as leitoras recém-iniciadas sexualmente ou prestes a serem, do que propriamente as donas de casa.

Para quem esperava mais cenas de BDSM, o livro é uma grande decepção, já que relação do casal se torna ainda mais “baunilha” e a paixão vai dando lugar ao amor. Com momentos de sentimentalismo extremo, muitas vezes culminando em passagens repletas de lágrimas compartilhadas, a autora se vale dos clichês românticos mais clássicos na tentativa de dar profundidade emotiva ao enredo.

Além de "Cinquenta Tons de Cinza"

  • Um novo modelo de erotismo está na moda nas livrarias. Sem a riqueza literária de um Sade, e com uma dose do romantismo meloso da clássica coleção Sabrina (Nova Cultural), estes textos ganham leitores na velocidade de uma pastelaria. Leia mais sobre outros títulos, como "Toda Sua" e "Falsa Submissão".

Em “Cinquenta Tons Mais Escuros” são revelados mais detalhes da infância de Grey e o que o motivou a ser um praticante do BDSM. O galã milionário se torna mais dócil e sua interdependência com Ana se acentua. O sentimento possessivo continua sendo uma marca forte de sua personalidade e chega a ser sufocante, manifestado principalmente quando Ana se aproxima de qualquer pessoa do sexo oposto, seja ela amiga ou colega de trabalho.

Ana, por sua vez, se rende a todos os luxos e mimos que a vida de milionária pode lhe proporcionar e acaba se submetendo economicamente ao seu príncipe encantado. Apesar das inúmeras reflexões que a moça faz sobre a vida, parece não ter coragem de tomar decisões mais drásticas, o que reflete sua essência ainda infantil , ao passo que se mostra mais sensual e provocativa fisicamente conforme  a história evolui.

Uma personagem, se é que podemos chamar assim, que merece destaque é a “deusa interior” de Ana, termo que ela usa para denominar sua consciência. Ela continua a ganhar vida própria à medida que a jovem jornalista projeta seus desejos em sua mente e dá um show à parte, com piruetas, saltos mortais e até passos de balé e tango. 

O livro traz momentos de suspense, protagonizados por personagens coadjuvantes que passam a impressão de que a história pode dar uma reviravolta e sair da mesmice. Entretanto, isso não acontece e figuras importantes, como a temida Mrs. Robinson, Jack Hyde (chefe de Ana), Leila (ex-submissa de Grey) e Dr. Flynn  (psicólogo de Grey) deixam no ar a sensação de que ainda contribuirão e movimentarão mais a trama no seu desfecho.

“Cinquenta Tons Mais Escuros”  é de leitura fácil, mas pouco desafiadora. Com poucas novidades em relação a “Cinquenta Tons de Cinza”, a história aparenta servir apenas de ponte para o último livro da saga e deixa os leitores com a expectativa de que a parte final do romance, “Cinquenta Tons de Liberdade”, traga um pouco mais de emoção e intensidade e se torne de fato um “pornô para mamães”.

“Cinquenta Tons Mais Escuros”
Tradutora: Juliana Romeiro
Editora: Intrínseca
Páginas: 512 páginas
Preço: versão impressa R$39,90; versão e-book R$ 24,90