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Na Flip, Enrique Vila-Matas conta que seu último livro nasceu num passeio pela avenida Paulista

O escritor catalão Enrique Vila-Matas posa para foto na Cidade do México (28/7/08)  -  EFE/David de la Paz
O escritor catalão Enrique Vila-Matas posa para foto na Cidade do México (28/7/08) Imagem: EFE/David de la Paz

Natalia Engler

Do UOL, em Paraty (RJ)

05/07/2012 12h36

Convidado da Flip pela segunda vez, depois de participar do evento em 2005, o escritor catalão Enrique Vila-Matas retorna à festa ao mesmo tempo em que chega ao Brasil seu novo romance, "Ar de Dylan", que, segundo o autor, nasceu durante sua última visita ao país, em 2011, quando participou de um evento da revista "Cult" sobre jornalismo cultural.

"Na minha segunda viagem ao Brasil, mais ou menos há um ano e meio, caminhando pela av. Paulista, em São Paulo, eu tinha começado a escrever 'Ar de Dylan', mas ainda não sabia que tipo de romance seria. Passando pelo [parque] Trianon, enxerguei a estrutura do livro. Então, 'Ar de Dylan' tem seu nascimento mental no Brasil. São coisas que acontecem quando você viaja", contou o escritor durante uma entrevista coletiva na manhã desta quinta (5).

Viagens
Vila-Matas diz que, quando viaja, toma notas e pensa em estruturas, mas só escreve em casa. "Nas viagens, me separo do computador e da criação. Muitas vezes, estou em casa paralisado porque me falta inspiração, então me levanto e vou para a rua. No momento em que levanto, tenho a inspiração. Por isso, as viagens são muito criativas para mim. E tudo que conto tem estrutura de viagem também", diz.

Seu novo livro, "Ar de Dylan", publicado pela Cosac Naify no início de julho, tem como ponto de partida a viagem de um escritor espanhol que é convidado a participar de um congresso literário sobre o fracasso na Suíça. Lá, ele assista à conferência de um jovem fisicamente parecido com o músico Bob Dylan, que pretende fracassar na própria palestra, fazendo com que todos deixem a sala. Além de ter nascido no Brasil, a obra também traz uma curta passagem no Mercado Municipal de São Paulo.

 

Obra: "Ar de Dylan"
Autor: Enrique Vila-Matas
Editora: Cosac Naify
Páginas: 320
Preço: R$ 59,00

O que é: História do jovem Vilnius Lancastre, cuja principal característica é sua semelhança física com Bob Dylan. Após um tombo em que bate a cabeça no chão, Vilnius herda a memória do pai, um escritor recém-falecido.

Por que ler: O espanhol Enrique Vila-Matas tem, desde 1975, 33 livros em mais de 30 países, tornando-se uma dos grandes nomes da literatura contemporânea. Recebeu os prêmios Rómulo Gallegos e Cidade de Barcelona por seu romance "A Viagem Vertical" (2001) e o prêmio francês Médicis por “Bartleby e Companhia” (2003). Na Flip, Vila-Matas divide a mesa “Apenas Literatura” com o chileno Alejandro Zambra.

Outras obras: “A Viagem Vertical” (2001), “Bartleby & Companhia” (2003).

Literatura
Questionado sobre o interesse pelo fracasso, tema que já havia aparecido em livros anteriores, o catalão diz que "os temas da literatura são sempre os mesmos, são as formas de contar que mudam". "O fascínio pelo fracasso é a fascinação pelo negativo, pelo obscuro. Nós conhecemos a luz do sol, mas não conhecemos tanto seu outro lado, as tempestades solares. E a literatura se interessa pela zona mais obscura", completa.

Já se mostrou que não é possível escrever um grande romance sobre futebol, não existe nenhum bom livro sobre isso.

O catalão Enrique Vila-Matas, que é fã do esporte e torce pelo Barcelona

Vila-Matas diz que outro papel de seu trabalho como escritor é a manutenção da tradição cultural. "Para recordar quem somos e o que ocorreu antes". "Estamos aqui, em Paraty, celebrando a literatura, e isso é maravilhoso, mas, no mundo de hoje, a literatura não tem a menor importância. É uma crise geral de ideias e pensamentos. E a literatura trata de manter essa memória cultural."

Futebol
Torcedor declarado do Barcelona, o escritor também aproveitou uma pergunta sobre futebol para expressar sua admiração pelo esporte. "Já se mostrou que não é possível escrever um grande romance sobre futebol, não existe nenhum bom livro sobre isso. O futebol nos atrai pelo imprevisível. Até o último segundo, não se sabe o vai ocorrer e pode mudar. Essas mudanças súbitas e imprevisíveis são coisas que muitos escritores não conseguem fazer", diz. "O futebol é mais inteligente que nosso tempo, tem estrutura, orientação, coordenadas, coerência. Nosso tempo é um caos absoluto", conclui.

Autor de 28 livros, entre romances e ensaios, Vila-Matas participa de duas mesas nesta edição da Flip: "Apenas literatura", ao lado do chileno Alejandro Zambra (quinta, 5, às 15h), e "Música para malogrados" (sábado, 7, às 19h30), em que substitiu o francês J.M.G. Lé Clézio, que cancelou sua participação.