Ao frio de 5º C, peça de sete horas de duração abre o Festival de Teatro de Curitiba
Com o frio caindo de dez graus para baixo, o público chega ao espaço Horácio Coimbra (CIETEP) para conferir a peça “O idiota – uma novela teatral”. A informação de que a apresentação vai durar 7 horas, ou 420 minutos com dois intervalos de 30 minutos cada um, assusta, mas não espanta. “Cibele Forjaz é a diretora com quem todas as celebridades agora querem trabalhar. A peça ganhou muitos prêmios, estava louca para conferir”, diz Amanda, estudante de jornalismo. Eram duas e meia da manhã quando o espetáculo chegou ao fim. A temperatura era de 5ºC.
Durante a peça, o público vai mudando de lugar. Cada cena acontece em um espaço diferente: as cadeiras ficam em volta dos atores, na frente deles, de costas. Dá pra ficar em pé e sentado em almofadas também. Há um cheiro de incenso, bebe-se espumante, tem uma cena em que os atores pisam em um espelho d´água. O tempo passa rápido, o frio atrapalha, mas ninguém vai embora antes de saber como a história termina. Nos intervalos, o clima era de descontração. Todos querendo trocar impressões e pedir dicas do que ver na programação do 21º Festival de Curitiba, que começou no dia 27 e vai até o dia 8 de abril.
Em três atos, a peça se passa no meio do século 19, na Rússia. O Príncipe Míchkin volta a São Peterburgo, vindo da Suíça. Ele estava lá fazendo tratamento para se curar de idiotia, que era como os antigos chamavam a epilepsia. Quando Fiódor Dostoiévski, o mesmo autor de “Os Irmãos Karamazov” e de “Crime e Castigo”, escreveu o livro, ele criou um personagem que fosse a imagem da pureza e da bondade. Só que, quanto melhor Míchkin é, pior parecem ficar as outras pessoas que ele encontra na cidade.
Quem interpreta Míchkin é Aury Porto. “Ele se relaciona com o mundo através do amor e da compaixão. Sempre fui interessado essa arena de embates sentimentais, ideológicos e morais, em que o Míchkin é devorado.” – revela o ator que foi quem teve a ideia de montar a peça e chamou Cibele Forjaz para dirigir.
“Participar da criação de uma obra de arte e perceber sua estrutura por dentro, aguça no público o poder criativo e a inteligência analítica. O teatro é uma obra aberta porque só se completa com a presença efetiva da plateia.” – diz Forjaz que acompanhou toda a apresentação com o público participante do segundo dia do festival. Além dela, estão participando do evento outros diretores bem conhecidos, como Gabriel Villela, Gerald Thomas, Christiane Jatahy, Jô Soares, José Wilker e Lázaro Ramos.
Já é costume: durante 13 dias, a capital do Paraná vira também capital do teatro. Este ano serão 29 espetáculos na mostra oficial e mais 365 outras produções no Fringe, que esse ano chega a sua 15ª edição. A abertura aconteceu com a peça “Los passaros muertos”, um espetáculo que veio da Espanha. Esperam-se 200 mil espectadores.
“O idiota – uma novela teatral” já passou por Bruxelas e Montevideo, além de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. “Mas, o que acho mais incrível é um evento como o Festival de Teatro de Curitiba nos convidar, porque é uma peça que realmente demanda muita energia, tanto na montagem quanto dos atores. E isso é oferecido com muita generosidade e o público responde com uma interação muito forte”, diz a diretora Cibele Forjaz. “Acho que assistir a esta peça é uma experiência que não se esquece. Demanda tempo, mas a gente leva para a vida”, assegura.
O espetáculo ganhou o prêmio especial da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e teve indicações e troféus por vários outros prêmios, como Bravo, Cooperativa Paulista de Teatro (melhor elenco e espaço não convencional), Shell (cenário, figurino, iluminação e direção) e Questão de Crítica (iluminação, figurino, direção, ator, atriz, adaptação e elenco). E hoje tem a última apresentação.
"O Idiota - Uma Novela Teatral"
Drama | São Paulo-SP | Cietep - Horácio Coimbra
Quando: 28, 29 e 30 de março e 1º e 2 de abril, às 19h30
Quanto: R$25 e R$50
Mais informações: http://www.festivaldecuritiba.com.br/
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