Topo

Polícia recupera esculturas do acervo de Hitler feitas por dois artistas

Esculturas de cavalos em bronze feitas pelo artista Josef Thorak para Hitler - EFE
Esculturas de cavalos em bronze feitas pelo artista Josef Thorak para Hitler Imagem: EFE

Rodrigo Zuleta

De Berlim

27/05/2015 06h11

O sonho do ditador nazista Adolf Hitler (1889-1945) de criar um império com uma capital cheia de obras monumentais que mostrassem a força do nazismo e a superioridade da raça ariana incluía os nomes de dois escultores, o austríaco Josef Thorak e o alemão Arno Breker, agora resgatados do esquecimento por uma investigação policial.

Thorak era o escultor preferido do ministro de Propaganda do 3º Reich, Josef Goebbels, mas Breker ganhou o primeiro lugar nos favores de Hitler.

A investigação acontecia há muito tempo, mas a notícia se tornou pública recentemente com a descoberta de dois cavalos gigantes esculpidos em bronze por Thorak, para a chancelaria de Hitler. As obras estavam na cidade alemã de Bad Dürkheim, no depósito de um homem chamado Rainer Wolf. No mesmo local, também foram descobertas obras de Breker, principalmente figuras humanas de formato monumental.

Além disso, na cidade de Kiel, em um lugar que pertencia a outro suspeito, de sobrenome Flick, estavam mais esculturas de Breker. O homem parece ser um colecionador de objetos do período nazista. Segundo a revista alemã "Der Spiegel", Flick tem até um veículo blindado do Exército do 3º Reich. Ele afirmou ter comprado as obras do artista em mercadinhos de antiguidades.

A polícia alemã considera tratar-se de objetos roubados, mas o dono do depósito em que os cavalos e outras esculturas estavam garantiu tê-los comprado do Exército Vermelho da antiga União Soviética, segundo seu advogado, Andreas Himsch.

Os cavalos estavam desaparecidos desde 1989 e, nos últimos anos, haviam aparecido no mercado negro com preços entre 1,5 milhão e 4 milhões de euros (R$ 5,1 milhões a R$ 13,7 milhões). Por volta de 1943, em plena Segunda Guerra, Hitler ordenou transferir os cavalos de Thorak e outras esculturas para uma oficina a 20 quilômetros de Berlim, onde as peças depois foram encontradas pelo Exército Vermelho.

Decoração de campo de esportes

Os cavalos de Thorak e outras esculturas nazistas então passaram, a partir de 1950, a fazer parte da decoração de um campo de esportes do Exército soviético na cidade alemã de Eberswalde, perto de Berlim. Algumas pareceram servir de alvo para práticas de tiro.

Essas obras passaram muito tempo despercebidas, até que, em 1986, o artista Frank Lanzendörfer "tropeçou" nelas e fez um filme de 49 minutos chamado "Eisenschnäbelige Krähe" ("Gralhas com Bico de Ferro").

Mais tarde, em janeiro de 1989, a historiadora da arte Magdalena Busshart publicou um artigo sobre as esculturas de Hitler no jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung", em que, entre outros detalhes, falava de sua localização no campo de esportes de Eberswalde.

Semanas depois, uma leitora escreveu uma carta ao jornal informando que as obras de arte haviam desaparecido.

Segundo o jornal alemão "Bild", ainda não está claro como os cavalos de Eberswalde desapareceram. Com o passar dos anos, surgiram várias hipóteses para o sumiço, desde a transferência deles para Moscou até uma venda pelo regime da extinta República Democrática Alemã (RDA).

Há dois anos, de acordo com o "Bild", os cavalos foram oferecidos à historiadora de arte Magdalena Busshart por 1,5 milhão de euros (R$ 5,1 milhões), proposta feita por um homem que garantiu ter trabalhado com Alexander Schalck-Golodkowski, político da RDA.

Segundo a "Der Spiegel", os cavalos também foram oferecidos em 2013 a uma comerciante de arte berlinense, chamada Traude Sauer, por 3,1 milhões de euros (R$ 10,6 milhões).

Investigação

Provavelmente foi aí que começou a história posterior, pois Traude era informante da polícia e reportou o caso a René Allonge, diretor do departamento de artes roubadas do Escritório Criminal em Berlim.

Paralelamente, o detetive holandês Arthur Brand soube, também através de um informante, que os cavalos estavam sendo oferecidos no mercado negro e fingiu ser um milionário americano, identificado como Moss, para fazer chegar a quem oferecia as esculturas a informação de que ele estava disposto a pagar 8 milhões de euros (R$ 27,5 milhões) por elas.

A cooperação entre Allonge e Brand levou a uma série de investigações que terminou com a descoberta dos cavalos de Thorak e das outras esculturas nazistas.