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Banksy encerra residĂȘncia em NY e levanta debate sobre valor do grafite

Rafael Cañas

De Nova York (EUA)

01/11/2013 18h19Atualizada em 01/11/2013 19h02

Envolvido em sua aura de mistĂ©rio, Banksy encerrou seu mĂȘs de trabalho em Nova York provocando opiniĂ”es opostas sobre o valor de suas obras e sobre a autenticidade de sentido da arte nas ruas.

Adorado por uns, criticado por outros, incompreendido por vĂĄrios e ainda ignorado por muitos, o britĂąnico Banksy teve em seu mĂȘs de "residĂȘncia" novaiorquina altos e baixos artĂ­sticos e provocou muitas discussĂ”es, um dos objetivos deste tipo de arte.

O certo Ă© que Banksy criou um grande interesse graças aos vĂĄrios seguidores que buscavam cada nova obra publicada em seu site para vĂȘ-las e registrĂĄ-las antes que desaparecessem ou fossem danificadas.

"Forma-se uma comunidade em torno das peças, um sentimento de grupo", ressaltou Ă  AgĂȘncia Efe o crĂ­tico de arte Hrag Vartanian, diretor da publicação digital www.hyperallergic.com.

Outro crítico de arte, Jason Kaufman, acredita que Banksy tentou se redimir no cenårio mundial que é Nova York para os membros da comunidade da arte de rua que o consideram "um vendido" ao mercado, agora que suas obras custam milhÔes em leilÔes ou por ter colaborado com Damien Hirst, um dos paradigmas da monetização da arte.

O Ășltimo ato de Banksy em Nova York foi o leilĂŁo beneficente de uma pintura modificada por ele e que na noite da quinta-feira arrecadou US$ 615 mil.

Trata-se do quadro "A Banalidade da Banalidade do Mal", que representava inicialmente uma idĂ­lica paisagem de montanhas, florestas e lagos, ao qual o artista acrescentou um nazista sentado em um banco observando a cena.

A Ășltima montagem do artista britĂąnico na 'Big Apple', realizada em 31 de outubro, foram letras inflĂĄveis com seu nome, penduradas na fachada de um edifĂ­cio abandonado em uma rua do Queens.

Esta montagem final não se livrou de confusÔes, jå que quatro homens foram detidos por entrar ilegalmente na propriedade quando estavam roubando as letras.

"Isto Ă© tudo. Obrigado pela paciĂȘncia. Foi divertido. Salvem 5pointz. Tchau.", disse em sua mensagem final no site, em referĂȘncia ao edifĂ­cio, meca do grafite nova-iorquino, que serĂĄ demolido para a construção de um prĂ©dio de apartamentos de luxo.

Talvez com a doação caridosa ou a mensagem sobre 5pointz, ou com uma mensagem de amor a Nova York (o tradicional I Love NY com um balĂŁo em forma de coração cheio de curativos), tentou se aproximar dos nova-iorquinos depois de seu artigo sobre a feiĂșra do edifĂ­cio que substituirĂĄ as Torres GĂȘmeas para o jornal "New York Times" nĂŁo ter sido bem visto na cidade.

O trabalho de Banksy neste mĂȘs se resume a 23 pinturas ou mensagens (muitas feitas em estĂȘncil), um vĂ­deo e seis filmes de rua, alĂ©m de um dia de detido "por atividade policial".

Algumas obras foram cobertas rapidamente, mas outras foram protegidas por placas de grades, e outra removida provavelmente para ser vendida. Inclusive um malandro cobriu uma das obras (mesmo o edifĂ­cio nĂŁo sendo seu) e por algum tempo cobrou dinheiro para que a vissem.

Outras obras foram vĂ­timas de rĂĄpidos grafites pintados por cima, jĂĄ que existe uma "tensĂŁo" entre a arte de rua e o grafite, explicou Vartanian.

Mas, do ponto de vista puramente artĂ­stico, o resultado foi desigual.

Para Vartanian, sĂł cinco ou seis peças "eram realmente boas", entre elas a montagem com um caminhĂŁo dos usados para transferir animais ao matadouro, carregado com vacas, porcos e ovelhas de pelĂșcia, que botavam as cabeças pelas aberturas da caçamba do veĂ­culo.

O crítico explica que Banksy "tem o dom de atrair a atenção com mensagens muito simples", como na publicidade.

Boa parte do interesse gerado pelo artista britùnico é seu anonimato. "Parte de seu atrativo é que, enquanto a NSA espiona todo o mundo, torna-se mais incrível que alguém seja anÎnimo".

Kaufman lembrou que Bansky manteve em Nova York o que o distingue: "sua crĂ­tica polĂ­tica e ao sistema", em uma tentativa de voltar Ă s raĂ­zes e acalmar seus crĂ­ticos.

Talvez o ponto mais chamativo deste mĂȘs tenha sido a barraquinha que montou no Central Park no dia 13, vendendo a apenas US$ 60 suas prĂłprias obras. Ele vendeu poucas peças, inclusive precisando dar desconto para clientes que pechincharam. "É uma metĂĄfora da arte de rua. Do que nĂŁo olhamos e Ă© melhor olhar de perto", explica Vartanian.

Esta "piada de si mesmo mostra que Banksy é também uma marca, algo do que ele mesmo é consciente", reforça o crítico.

Para Kaufman, trata-se de "uma ironia muito forte" sobre o mercado da arte, em que o prĂłprio artista admite que suas obras nĂŁo atraem se nĂŁo se souberem que sĂŁo suas.