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Projeto de memorial de Jorge Amado é apresentado no centenário do escritor

O escritor Jorge Amado no Rio de Janeiro (1984) - Lewy Moraes/Folhapress
O escritor Jorge Amado no Rio de Janeiro (1984) Imagem: Lewy Moraes/Folhapress

Carlos A. Moreno

Do Rio de Janeiro

10/08/2012 17h28Atualizada em 10/08/2012 17h45

O sonho que Jorge Amado anunciou ainda em vida, de ver sua casa transformada em um museu, começou a se transformar em realidade nesta sexta-feira, data que marca o centenário de nascimento do escritor baiano, com a apresentação do projeto arquitetônico do que será seu memorial.

O projeto do "Memorial Casa do Rio Vermelho" - realizado por uma empresa portuguesa, custeado pelo governo do país europeu e doado à família de Jorge Amado, foi apresentado hoje no mesmo local onde será a obra realizada - a casa número 33 da rua Alagoinhas, no bairro Rio Vermelho, em Salvador, a mesma que o escritor viveu quase quatro décadas com a também escritora Zélia Gattai.

"Acima de todas as celebrações pelo seu centenário, as quais acabam amanhã, é muito mais importante que essa casa possa ser transformada em um museu capaz de conservar o legado do meu avô", disse à agência Efe João Amado, um dos netos do autor de "Tereza Batista Cansada da Guerra" (1972).

Há cem anos nascia Jorge Amado


Para a família do escritor, apesar da necessidade de captar recursos e negociar acordos de incentivos com as autoridades para dar vida ao museu, o projeto é uma das principais homenagens que o autor poderia ter recebido por seu centenário.

Entre essas homenagens, aparecem: o filme baseado no romance "Capitães da Areia" (1937) e dirigido por Cecília Amado, também neta do romancista; o enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense no último carnaval carioca e uma nova adaptação de "Gabriela, Cravo e Canela" (1953) para a televisão, além de reedições de seus livros e até um inédito, que resgata as cartas entre Zélia e Amado.

O comitê responsável pelas comemorações do centenário do escritor também organizou exposições com peças que no futuro podem integrar o acervo do Memorial, entre elas uma mostra aberta na sede da Academia Brasileira das Letras no Rio de Janeiro.

O acervo do museu reunirá os objetos pessoais de Amado e de Gattai, como roupas, joias, livros, manuscritos e algumas obras que o casal recebeu de amigos, entre eles os artistas Pablo Picasso, Carybé, Lasar Segall e Alfredo Volpi.

O projeto para transformar a casa de 2 mil metros quadrados em um museu, que teve um custo de quase um milhão de euros, dá grande importância ao imenso jardim da residência, o lugar preferido pelo romancista e onde as cinzas do casal foram espalhadas.

O trabalho, que transforma alguns quartos em salas de exposição e mantém outros da mesma forma, foi apresentado pelos herdeiros do escritor, proprietários do imóvel, em um ato que contou com a presença do governador da Bahia, Jacques Wagner.


"Conversamos com a família e vamos encontrar uma forma viável para abrir essa casa ao público", afirmou o governador sobre o projeto, cujas obras podem demorar um ano. "O financiamento não é problema, já que o governo está comprometido com as celebrações do centenário", acrescentou Wagner, que pela primeira vez manifestou a intenção de investir recursos públicos no sonho de Amado.

A família calcula que a adaptação da casa pode custar cerca de R$ 2,5 milhões, uma quantia que tenta captar em parcerias com empresas privadas e públicas.

"O projeto é maravilhoso e queremos vê-lo pronto o mais rápido possível. Agora, como um português nos deu o projeto gratuitamente, esperamos que os brasileiros concluam essa obra", afirmou Paloma Amado, filha do romancista, que lembrou que o sonho do pai de ver a casa transformada em museu foi relatado por sua mãe no livro "Memorial do Amor" (2004).

Na casa onde será erguido o memorial, Jorge Amado escreveu alguns de seus principais romances, como "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1966), e também recebeu ilustres artistas e intelectuais, como o ator americano Jack Nicholson, o diretor franco-polonês Roman Polanski, o escritor português José Saramago e o poeta cubano Nicolás Guillén.