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"Pedófilo me convenceu de que aliens matariam minha família se eu contasse sobre estupros"

Jan Broberg em cena do documentário  Sequestrada à Luz do Dia - Divulgação
Jan Broberg em cena do documentário Sequestrada à Luz do Dia Imagem: Divulgação

Kathryn Doherty e Clare Fordham

17/06/2019 16h49

O pesadelo de Jan Broberg começou quando ela tinha 12 anos. Acordou com os pés e mãos amarradas a uma cama, enquanto escutava uma gravação que lhe dava ordens diretas.

"Pensei que tinha sido sequestrada por extraterrestres", recorda. "Foi a coisa mais assustadora que já me aconteceu. Estava aterrorizada por essa voz e o que dizia essa voz", conta Jan em uma entrevista à BBC Radio 5 Live.

No início da década de 1970, Jan foi sequestrada na própria casa em Idaho, nos EUA, por um homem que abusou dela por anos e chantageou a família. A história de Jan virou documentário da Netflix - Abducted in Plain Sight -, que ganhou o título em português de Sequestrada à Luz do Dia.

Robert Berchtold era um amigo da família Broberg. Frequentava regularmente a igreja e era respeitado na comunidade. Tratava os Broberg com carinho e os fazia sentir especiais.

Quando Jan foi sequestrada, os pais não imaginavam que Berchtold fosse suspeito ou pudesse fazer algum mal a ela.

Cartaz do documentário Sequestrada à Luz do Dia - Reprodução - Reprodução
Cartaz do documentário Sequestrada à Luz do Dia
Imagem: Reprodução

Drogada e amarrada

Ela conta que os pais chamaram a polícia no dia em que ela foi andar a cavalo mas não voltou para casa. "Mas não passou pela cabeça deles que se tratava de um sequestro ou um desaparecimento. Acreditavam que poderia ter havido um acidente", diz.

Mas, na verdade, Jan tinha sido sequestrada. Foi drogada e levada para quilômetros de distância, no deserto mexicano. Jan acordou no motorhome de Berchtold. As gravações que escutou ao abrir os olhos diziam que os extraterrestres haviam tomado conta de tudo. Ela acreditou.

"A mensagem dizia: 'vá até a frente do motorhome e conhecerá seu companheiro'." "Nas fitas, me chamavam o tempo todo de 'a companheira'. Me levanto e quem está deitado no pequeno sofá? Robert Berchtold."

Berchtold usou essa história para controlar Jan durante quatro anos. "Literalmente fiz tudo o que (os extraterrestres) me disseram para fazer, porque ameaçaram levar minha irmã caçula se não cumprisse a missão", recorda.

Jan e Berchtold foram localizados pelo FBI, a polícia federal americana, cinco semanas depois de terem sumido. Jan estava assustada demais para contar o que os extraterrestres estavam falando para ela e também para revelar os abusos aos quais era submetida.

"Meu pai nunca deixou que Berchtold voltasse à nossa casa", disse. "Sabia que tinha algo errado com ele. Mas (meu pai) não sabia que tinha abusado de mim, que me havia violado, porque não contei a ninguém."

Berchtold ficou preso alguns dias pelo sequestro de Jan.

Meses antes do sequestro, havia convencido tanto a mãe quanto o pai de Jan a ter relações sexuais com ele. Usou isso para chantageá-los e conseguir declarações de que deram autorização para levar Jan ao México.

Pôster do documentário Sequestrada à Luz do Dia. - Reprodução - Reprodução
Pôster do documentário Sequestrada à Luz do Dia.
Imagem: Reprodução

Por isso, Berchtold voltou à vizinhança e continuou se encontrando e controlando Jan.

Os abusos e a história alienígena se transformaram em parte da vida da garota até o dia em que foi a um acampamento de verão, quando estava prestes a completar 16 anos.

Até então, sempre havia evitado se relacionar com outros meninos. "Basicamente era uma das muitas regras que tinha de seguir. Regras que os ETs me impuseram". "Não podia me relacionar com outros meninos senão minha família morreria."

Quando um menino a convidou para tomar um sorvete, ela entrou em pânico e ligou para casa. Todo mundo estava bem. "Foi o suficiente para começar a perceber o que estava acontecendo", afirma.

Nos meses seguintes, ela testou outras pequenas coisas, por exemplo, falar com outro menino na escola e aceitar um convite para uma festa.

"Se voltasse para casa e meu pai não estivesse morto, se minha irmã não tivesse sido sequestrada nem estivesse desaparecida, se minha outra irmã não estivesse cega e minha mãe e eu não tivéssemos evaporado, então (a ameaça) não era real", conta. "E foi isso que aconteceu."

Aos poucos, Jan se sentiu capaz de contar à família o que estava acontecendo. Revelou como um homem que a família pensou ser um grande amigo havia feito uma lavagem cerebral para estuprá-la por vários anos.

"Não pude falar de forma definitiva e explícita sobre o abuso sexual. Foi muito difícil para mim fazê-lo", conta.

Quando Jan conta sua história de anos de controle e abusos, parece difícil acreditar que seus pais não perceberam o que realmente estava acontecendo.

"Não acredito que tenham tido algum indício (de que algo estava errado). Quero dizer, literalmente, que não era possível porque (Berchtold) realmente tinha uma relação próxima com a família."

Curando feridas

Durante a década seguinte, Jan revelou o que realmente aconteceu. Buscou ajuda e reconstruiu a vida. Berchtold desapareceu. Quase três décadas depois, voltou a assediar Jan, aparecendo em eventos em que ela estava.

Ela registrou queixa contra Berchtold e enfrentou o homem que abusou dela no tribunal. Mas ele ficou apenas 15 dias preso por ter abusado dela e de outros jovens.

Jan segue pedindo para que as pessoas desmascarem pedófilos. Ele quer que as pessoas confiem em seus instintos "e não desviem o olhar".

Ela diz esperar que, depois que as pessoas escutarem a história dela, outras vítimas se sintam capazes de "seguir adiante com a própria vida e de consertar as coisas que estão erradas".