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Artista brasileiro faz "intervenção carinhosa" em fotos de Instagram

Bruno Garcez

17/08/2015 15h24

Cuidado! Sua conta de Instagram pode estar sendo invadida neste mesmo minuto. Mas se a invasão for feita pelo artista Lucas Levitan, você poderá sorrir após conferir o resultado.

O artista gaúcho que está há 10 anos em Londres se dedica há seis meses a fazer intervenções em fotos alheias na rede social.

"Na verdade, 'roubo' a foto das pessoas, criando uma nova narrativa, criando uma nova história. E coloco a minha ilustração. No final, surpreendendo o fotógrafo original da imagem."

Mas, acrescenta Levitan, "é um roubo carinhoso. A maneira menos danosa de roubar um pertence de alguém e em troca dar um sorriso", diz.

As intervenções do artista são uma espécie de versão 'light' do que se convencionou chamar no jargão internético de ''photobombing'' o ato de arruinar uma foto com uma intervenção planejada ou acidental.

Levitan conta que quando deu início à sua trajetória de 'mão leve' do Instagram, temia que pudesse vir a ter dores de cabeça com usuários célebres ou obscuros que se sentissem lesados por suas intervenções.

"Sempre pensei que receberia feedback negativo ou uma resposta desagradável - feito 'tira isso, porque não te pertence' mas, bato na mesa isso até agora não aconteceu. Nenhum autor de uma fotografia até hoje me pediu para tirar ou não quis que a sua imagem alterada ficasse no ar'', conta ele.

O motivo, na opinião do artista, é o tom leve de seu trabalho.

"O que busco não é roubar a fotografia, mas criar uma parceria com o fotógrafo. Sou ilustrador e minha ideia é botar um sorriso na cara das pessoas. O humor sempre faz parte do que faço. Acho que a pessoa olham e veem que o processo é ingênuo", comenta.

Agora, Levitan conta que não só o roubo está sendo consentido, como até mesmo organizado. O artista criou uma hashtag, #IWantToBeInvaded, que pode ser utilizada por quem desejar ver intervenções em suas imagens.

"Já tem muita gente pedindo para ser invadia. Foi também uma maneira de organizar todo esse conteúdo. Desse baú do 'photo invasion', pego alguma que tenha uma história ou muitas vezes busco um novo usuário, que é para ter sempre um elemento surpresa.

Levitan chegou à capital britânica com a intenção de fazer mestrado, mas acabou ficando no Reino Unido, realizando bicos diversos, como designer, publicitário, artista plástico e músico, até se firmar ao menos, no momento como ilustrador. "Fiz um pouco de tudo, agora, costumo dizer que 'estou' ilustrador", comenta.

A despeito desse caráter incerto da atividade que desenvolve, Levitan vem conquistando um fã-clube e fechando novos negócios graças às suas ilustrações. Ele conta com 85,3 mil seguidores no Instagram e diz que vem recebendo propostas de agências de publicidade e de marcas que se interessaram pelo projeto de apropriação de imagens com os seus cartuns.

"Decidi largar meu trabalho anterior e me dedicar só à ilustração", afirma.

"Nunca pensei que o Instagram fosse dar tanta exposição ao meu trabalho. Pensava que ele fosse o melhor meio de esconder uma imagem, porque tem tanta foto sendo postada todo dia, que é muito difícil criar um espaço ali. É muita informação. Não esperava que o uso das redes sociais fosse virar algo profissional, porque no início estava trabalhando nesse projeto como um exercício E a rede social me surpreendeu. Pensava que era um sonho distante."

Os cartuns do artista se valem de técnicas modernas, mas encontram sua inspiração em artistas do passado.

"Faço tudo digital. Pego as imagens diretamente do meu celular e as jogo no Photoshop, uso um tablet, desenho por cima e já mando para o Instagram. Elas nem chegam a ser impressas. Sempre gostei muito de quadrinhos e de Will Eisner (o lendário criador dos quadrinhos do personagem 'Spirit'), que tem um tipo de desenho mais tradicional. Meu estilo é mais humorístico, então caí para esse lado do cartum'', conta.

E para onde ele pretende seguir, após as invasões de fotos?

"Ainda não sei onde isso vai me levar. O que mais quero é escrever um livro e seguir criando. Firmar uma parceria com uma marca seria legal, me daria a liberdade de fazer o quero. Já pensei até em fazer 'film invasion', mas, ao contrário da foto, com o filme o que se perde é a rapidez de fazer, de encontrar uma imagem, mexer nela e depois o trabalho já estar visível. É isso que me agrada."