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Museu de Berlim abre exposição "boa para cachorro"

Clarissa Neher

12/08/2015 10h21

Os cachorros são considerados "os melhores amigos do homem". Mesmo assim, continuam excluídos das nossas atividades, principalmente, nas que envolvem arte. Um museu em Berlim, porém, decidiu abrir as portas para cães.

A exposição "Wir kommen auf den Hund", em cartaz até o dia 20 de setembro, reúne mais de 100 desenhos e gravuras em torno do tema canino. Há até quadros expostos na altura dos olhos dos animais.

O nome do evento em alemão joga com o duplo sentido: na tradução literal, a expressão significa "descobrimos o cachorro", mas também quer dizer "nos demos mal". "A ideia é mostrar que a relação próxima e emocional entre humanos e cachorros é histórica e vem desde a Antiguidade", contou o diretor do museu, Heinrich Schulze Altcappenberg.

Obras de grandes pintores como Albrecht Dürer e Rembrandt são as grandes atrações da mostra, mas a presença canina no Kupferstichkabinett (Gabinete de Gravuras, em tradução livre) – permitida apenas em horários específicos – também chama atenção.

Curiosidade
Altcappenberg explicou que seria discutível montar uma exposição sobre cães no mundo das artes e proibir a entrada deles. "Queríamos abolir essa proibição, pelo menos, durante um tempo determinado ou em ocasiões especiais, por isso pensamos nas visitas guiadas para cachorros."

Engana-se quem pensa que os donos vêm à exposição na esperança de que os seus bichos de estimação se tornem apreciadores de arte – a curiosidade parece mesmo ser o principal motivo.

As expectativas na entrada do Kupferstichkabinett, ponto de encontro do grupo que visitou o museu no início da semana, eram realistas. "Acho que Lulu vai gostar do museu, principalmente, se estiver fresco lá dentro", disse, com certa ironia, Joachim Lehmann, em um dia no qual a temperatura na capital alemã passou dos 35ºC. Para outros, a experiência tinha quase um caráter "científico" – de observar as reações caninas.

'Suborno'
Apesar do visível desinteresse por arte, os cachorros comportaram-se muito bem. Nenhum latido foi ouvido durante a visita. Os animais pareciam se divertir brincando entre eles. Já as imagens penduradas na altura dos quadrúpedes passaram despercebidas – ou quase.

Os donos da cachorra Lila já imaginavam que ela não iria parar para contemplar as obras e vieram preparados: compraram a atenção dela com saborosos biscoitos caninos. "Lila se interessou por vários quadros, mas para isso ela precisou de uma ajuda especial", disse o dono, Wolfgang Roddewig, em tom de piada. Apesar da brincadeira, ele gostou da experiência de ir ao museu com a sua melhor amiga e disse que a repetiria outras vezes.

Para Deborah Cohen, a presença dos animais no museu enriqueceu a temática da exposição, além de ampliar a possibilidade de lazer. "Queria muito ver a mostra, e sem a chance de trazer Freyja não poderia. Não posso deixá-la sozinha em casa por muito tempo porque ela fica com muito medo e começa a ganir", disse.

Já Lehmann acertou quando previu que Lulu gostaria do clima fresco do museu. Ela era uma das mais tranquilas e parecia aproveitar o ar condicionado, enquanto os seus donos prestavam atenção no guia. "A temática é interessante, passamos a ter outra visão de algumas obras, pois não costumamos prestar atenção nos cachorros retratados", avaliou Lehmann.

Experiência positiva
Mesmo com o pequeno entusiasmo canino, a exposição pode ser considerada um sucesso. Os ingressos para as próximas visitas guiadas já estão esgotados. "A exposição é agradável para os cachorros, porque há outros cães. Mas sabemos que cachorros não distinguem arte como apresentamos aqui no museu. Organizamos essa exposição para as pessoas, mas a percepção canina sobre arte seria um interessante tema de pesquisa", afirmou Altcappenberg.

O diretor contou que, no início, houve certa resistência em abrir o museu para os cachorros, porém, depois de muito conversa, a iniciativa, atualmente, é apoiada com unanimidade.

Apesar do sucesso, o museu não tem planos de organizar, em breve, outras exposições abertas a cães.