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Barco que naufragou com 700 migrantes será exposto na Bienal de Veneza

Barco que naufragou com imigrantes em 2015 vira obra em Veneza - Tiziana Fabi/AFP
Barco que naufragou com imigrantes em 2015 vira obra em Veneza
Imagem: Tiziana Fabi/AFP

De Veneza (Itália)

07/05/2019 18h56

A tragédia das vidas que se perdem no mar, dos migrantes que naufragam na busca por proteção na Europa, estará no coração da 58ª Mostra Internacional de Arte da Bienal de Veneza, que acontece de 11 de maio a 24 de novembro de 2019.

Um barco que afundou em 18 de abril de 2015, em uma das maiores tragédias da história do Mediterrâneo, virou uma instalação artística nas mãos do suíço Christoph Buchel e ficará em exposição no Arsenal de Veneza, antigo estaleiro que hoje serve de palco para a Bienal.

A embarcação chegou à cidade na tarde de ontem, após uma viagem de três dias de navio iniciada em Augusta, na Sicília, e foi conduzida por uma barcaça através do Canal de Giudecca, até aportar em seu destino final.

A instalação foi batizada por Buchel como "Barca Nostra" ("Nosso Barco", em tradução livre) e tem como objetivo lembrar que as viagens da morte continuam sendo uma realidade no Mediterrâneo.

"Longe de distrações, longe do barulho, o barco nos convida a um grande silêncio e à reflexão", disse o presidente da Bienal de Veneza, Paolo Baratta.

Barco que naufragou com imigrantes em 2015 vira obra em Veneza  - Tiziana Fabi/AFP - Tiziana Fabi/AFP
Barco que naufragou com imigrantes em 2015 vira obra em Veneza
Imagem: Tiziana Fabi/AFP


O barco afundou no Canal da Sicília, no auge da crise migratória no Mediterrâneo, e levava mais de 700 pessoas. Apenas 28 sobreviveram. A embarcação foi resgatada de uma profundidade de 350 metros em junho de 2016, em uma operação de 10 milhões de euros bancada pelo governo, e ainda abrigava centenas de corpos - o número exato de mortos nunca foi determinado, já que muitas vítimas acabaram levadas pela correnteza.

"Ter recuperado aquele barco e sepultado os cadáveres foi uma escolha obrigatória. É desumano dizer: 'a mamata acabou'. Para essa pobre gente, a mamata nunca começou. Obrigado à Bienal de Veneza por acolher os destroços. Continuamos humanos", declarou Matteo Renzi, primeiro-ministro na época do naufrágio, aproveitando também para ironizar um bordão do líder antimigração Matteo Salvini, ministro do Interior e vice-premier da Itália.

Após a Bienal, o barco será levado novamente a Augusta e colocado em um "Jardim da Memória", monumento coletivo para lembrar os migrantes mortos no mar.

A liberação de embarcação para viajar a Veneza teve a participação decisiva de Sebastiano Tusa, arqueólogo de fama internacional e secretário de Cultura da Sicília até 10 de março de 2019, quando morreu em um acidente aéreo na Etiópia.

"Sua última ligação antes de entrar no avião foi para obter permissão para transportar o barco", contou ao Guardian a curadora Maria Chiara di Trapani, colaboradora de Buchel.