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Morte de estrela de reality no Japão reabre debate sobre bullying na web

Atleta vinha sendo alvo de insultos nas redes sociais por participação em reality da Netflix - Etsuo Hara/Getty Images
Atleta vinha sendo alvo de insultos nas redes sociais por participação em reality da Netflix Imagem: Etsuo Hara/Getty Images

Da AFP, em Tóquio

29/05/2020 08h35Atualizada em 29/05/2020 14h17

A morte da jovem participante Hana Kimura do reality show "Terrace House: Tokyo", no Japão, causou uma onda de choque e relançou no país o debate sobre medidas mais severas contra o assédio na internet.

Hana, de 22 anos, era uma das seis participantes do popular programa exibido pela Netflix no Japão e no exterior. Após sua morte, a plataforma anunciou o cancelamento da temporada atual.

O programa acompanha jovens vivendo juntos em uma residência em Tóquio, e a atleta profissional de luta livre de cabelo rosa rapidamente chamou a atenção dos telespectadores. Mas também se tornou alvo de insultos na internet, com comentários como "todo mundo ficará feliz quando você se for".

Sua morte em 23 de maio provocou uma muitas reações de seus fãs nas redes sociais, pedindo ao governo que tome medidas imediatas contra o bullying virtual.

Uma petição online lançada por um ex-atleta olímpico japonês — reunindo dezenas de milhares de assinaturas — pede que as redes sociais e os provedores de serviços de internet possam ser responsabilizados se não cooperarem na luta contra o assédio.

O governo prometeu responder rapidamente, embora a reforma legislativa no Japão seja geralmente lenta. Os parlamentares disseram nesta semana que esperam encontrar "consenso sobre a direção a seguir" neste outono.

Longo percurso

A ministra das Comunicações, Sanae Takaichi, disse que o assédio online é "imperdoável" e assegurou que um grupo de especialistas consideraria "soluções para simplificar o processo" de identificar pessoas postando comentários difamatórios.

A organização de luta livre à qual Hana Kimura pertencia planeja processar seus perseguidores. Mas, atualmente, as armadilhas para esse procedimento são numerosas, segundo especialistas.

As vítimas de assédio cibernético no Japão devem primeiro provar até que ponto os comentários são difamatórios, ou constituem uma invasão de sua privacidade.

Devem seguir um processo legal complexo em duas etapas: a primeira para encontrar o endereço de "IP" do suposto assediador e, em seguida, obter sua identidade.

No total, "leva cerca de dez meses", estima Yohei Shimizu, advogado especializado nessa área, entrevistado pela AFP. "Se alguém escreve 'Morra!', É uma palavra forte, mas também pode ser interpretada como uma expressão de repulsa", explica ele.

Esse percurso de obstáculos e as indenizações relativamente baixas que as vítimas podem esperar — entre 300.000 e 600.000 ienes (cerca de R$ 14 mil a R$ 30 mil) — muitas vezes os desencorajam de recorrerem à Justiça.