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Bernardo Bertolucci se via como um "descobridor de atrizes"

O diretor Bernardo Bertolucci no Festival de Cannes em 2012  - AFP Photo/Valery Hache
O diretor Bernardo Bertolucci no Festival de Cannes em 2012 Imagem: AFP Photo/Valery Hache

26/11/2018 10h44

Em uma entrevista à AFP em novembro de 2013 em Los Angeles, o diretor Bernardo Bertolucci, morto em Roma aos 77 anos, evocou seu legado, considerando que ele ficaria na memória provavelmente como um "descobridor de jovens atrizes".

"Isso me importa pouco", declarou o cineasta italiano, ao ser questionado à qual posteridade ele aspirava.

"Meus filmes existem, e as pessoas podem vê-los", afirmou, durante a apresentação de uma versão em 3D de sua obra-prima "O último imperador", que lhe valeu nove Oscars, incluindo melhor filme e melhor diretor, em 1988.

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"Mas, às vezes, me diverte pensar que as pessoas se lembrarão mais de mim como um descobridor de jovens atrizes do que como cineasta", acrescentou.

"Eu descobri tantas!", completa, citando Dominique Sanda, dirigida por ele em "O conformista" (1970); Maria Schneider, em "Último tango em Paris" (1972); Liv Tyler, em "Beleza roubada" (1996); ou Eva Green, que deu seus primeiros passos diante das câmeras em "Os sonhadores" (2003), antes de fazer carreira os Estados Unidos.

Em meio à sua impressionante filmografia, ele admite ter-se "enganado às vezes": "Mas todas as minhas escolhas foram sinceras".

Apegado à película, ele tentou passar para o digital em "Você e eu" (2012), seu último filme. "A definição e a nitidez eram muito grandes, mas eu queria que o filme tivesse uma qualidade impressionista", comentou.

Ele estava atento para as mudanças tecnológicas que agitam o cinema. "Em breve, vamos ver filmes nos maços de cigarro, ou no nosso relógio. Vai ser preciso inventar histórias capazes de se adaptar aos diferentes formatos".

"Se um jovem me perguntasse a coisa mais importante a fazer para começar uma carreira de cineasta, eu diria a ele para ser sincero e seguir seu coração. É muito importante ser completamente honesto no que a gente faz", acrescentou.

No fim de sua carreira, o diretor confessava sua admiração pela nova onda de séries de televisão americanas, em especial "Breaking Bad". "Os filmes, nesses últimos tempos, não são muito interessantes, enquanto que as séries são enormemente", dizia ele.

As séries, observou, "conservaram o ritmo que a gente via antes no cinema. Hoje, todos os filmes têm de ser filmes de ação, mesmo que não sejam. Nas séries, ainda podemos ver personagens que olham as coisas, ou contemplam o céu". Nascido em Parma, nordeste da Itália, em 1941, Bertolucci é considerado um mestre do cinema italiano e mundial e foi um dos poucos cineastas de seu país a dirigir filmes no exterior com frequência.