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Cannes revela uma mostra competitiva de tom político

"Three Faces", do iraniano Jafar Panahi, estará em Cannes - Reprodução
"Three Faces", do iraniano Jafar Panahi, estará em Cannes Imagem: Reprodução

04/05/2018 08h23

O Festival de Cannes terá este ano uma competição com tom político, graças à participação do dissidente iraniano Jafar  Panahi e do russo Kirill  Serebrennikov, que está em prisão domiciliar, ambos na disputa pela Palma de Ouro.

A 71ª edição do festival, que acontecerá de 8 a 19 de maio, também será marcada pelo retorno à competição oficial do americano Spike  Lee, com "BlacKKKlansman", baseado em uma história real, e do franco-suíço Jean-Luc Godard, com "Livre d'image".

Na semana passada, a organização do festival já havia anunciado que "Todos lo Saben", longa-metragem rodado em espanhol pelo iraniano Asghar  Farhadi e protagonizado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín, será o filme de abertura de Cannes, além de estar na disputa da Palma de Ouro.

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Os organizadores revelaram nesta quinta-feira em Paris a lista de 18 filmes da mostra competitiva. O júri da Palma de Ouro de Cannes será presidido pela atriz australiana Cate Blanchet.

Apenas três diretoras estão na disputa pelo principal prêmio: a francesa Eva Husson com "Les  Filles  du Soleil", a libanesa Nadine Labaki com "Capharnaüm" e a italiana Alice Rohrwacher con, com "Lazzaro Felice".

Mulheres cineastas

"Em Cannes nunca teremos uma seleção baseada em uma discriminação positiva em relação às mulheres", afirmou o diretor geral do festival, Thierry  Frémaux.

"Há uma diferença entre as mulheres cineastas e o movimento #MeToo", disse.

Panahi, vencedor do Urso de Ouro em Berlim por "Táxi Teerã em 2015", competirá com "Three faces".

Frémaux explicou que as autoridades iranianas receberão uma carta do evento e das autoridades francesas "para que autorizem Panahi a sair do território, apresente seu trabalho e retorne a seu país".

Também informou que convidou Serebrennikov, que está na disputa com o filme "Leto".

Spike  Lee, 61 anos, apresentará seu filme mais recente, que narra a história de um policial afro-americano infiltrado entre os membros da Ku Klux Klan em 1978. Adam Driver e John David Washington estão no elenco.

A participação anterior de Lee em Cannes aconteceu em 1991, quando o americano apresentou "Febre da Selva".

Godard participará da competição oficial pela sétima vez e quatro anos depois de receber o Prêmio do Júri por "Adeus à Linguagem".

Entre os outros filmes candidatos a vencer a Palma de Ouro estão "Under the silver lake", do americano David Robert Mitchell, "Dogman", do italiano Matteo Garrone, "En guerre", do francês Stéphane Brizé, "Ash is Purest White", do chinês Jia Zhangke, e "Shoplifters", do japonês Hirokazu Kore-Eda.

Netflix fora

Ao contrário do ano passado, nenhum filme produzido pela Netflix estará na mostra competitiva, depois que a plataforma de streaming decidiu abandonar o festival por discordar das normas de exibição na França.

Frémaux explicou que propôs a inclusão de um filme na mostra oficial e outro - uma obra inacabada de Orson Welles e finalizada pela Netflix - fora da competição.

Mas a gigante do streaming se negou a aceitar que a estreia aconteça nos cinemas da França.

A lei francesa determina que após a estreia nos cinemas, um filme deve aguardar quatro meses para ser lançado em DVD ou no sistema OnDemand. Depois de 10 meses pode ser exibido na TV aberta e após 36 meses em qualquer serviço 'streaming'.

Desta maneira, o Netflix decidiu não participar em absoluto do Festival de Cannes.

"Queremos que nossos filmes estejam em pé de igualdade com os demais. Se existe o risco de nossos filmes e cineastas receberem um tratamento desrespeitoso no festival (...) acredito que é melhor não estarmos lá", afirmou à revista "Variety"  Ted  Sarandos, diretor de conteúdo da empresa americana, antes de pedir a "modernização de Cannes.

"É uma pena", disse Frémaux.

No ano passado, a presença de dois filmes da Netflix na mostra oficial provocou a irritação dos proprietários de cinema franceses.

Em mais um tema que provoca tensão, o Festival de Cannes foi alvo de protestos dos críticos de cinema por ter acabado com sessões de filmes para a imprensa, que aconteciam antes das projeções oficiais, o que segundo a Federação Internacional de Críticos de Cinema dificultará em grande parte seu trabalho.