Silêncio na biblioteca: evento cultural virou mera propaganda política?
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A roteirista Helen Ramos conversou com a dramaturga Livia Piccolo sobre "Maternidade e Pandemia". A escritora e crítica literária Noemi Jaffe estabeleceu pontes entre sua obra e o clássico "O Diário de Anne Frank" ao responder perguntas da editora Rita Mattar. A atriz Nilda Maria fez uma leitura dramática de poemas de Adélia Prado. No começo de julho, dialoguei com o colega jornalista Fábio Silvestre Cardoso a respeito da biografia que ele escreveu de Gustavo Capanema, brasileiro que mais tempo ficou à frente do Ministério da Educação.
No começo do ano, a ideia da Biblioteca Mário de Andrade era ter uma programação muito mais intensa - falava-se em cinco vezes mais atrações - do que outrora. Veio a pandemia e planos precisaram ser retraçados. Os encontros presenciais que vinham levando multidões ao prédio no centro de São Paulo (destaco o lugar abarrotado no dia em que a historiadora Lilia Schwarcz falou sobre "1984", de George Orwell, durante Festival Verão Sem Censura) migraram para a internet. Perdeu-se a proximidade física, mas os eventos passaram a ser acompanhados por gente de todo o Brasil.
Não mais. Por conta das leis que regulamentam o período eleitoral, todos os canais vinculados à Secretaria Municipal de Cultura, da qual a Biblioteca faz parte, precisaram ser retirados do ar. Com isso, até que esteja definido quem assumirá a prefeitura, adeus Youtube, Facebook, Instagram, Twitter e outras eventuais contas da Mário de Andrade. Com as restrições impostas pela pandemia e as plataformas virtuais escondidas por obrigação legal, a Biblioteca deixa de dialogar com seu público, a troca de ideias fica suspensa.
"Tudo isso é muito triste: chegamos a esse ponto como país, o de entender Ação Cultural como simples propaganda partidária", escreveu Josélia Aguiar numa mensagem publicada em sua conta particular do Facebook. À frente da Biblioteca desde março de 2019, Josélia, jornalista, biógrafa de Jorge Amado e ex-curadora da Flip, é a maior responsável por mudar a cara, arejar a cabeça e revigorar a alma da agora calada Mário de Andrade. Instituições culturais de outras cidades, como Belo Horizonte, passam por situação semelhante.
Os meandros jurídicos têm sua própria lógica e períodos eleitorais exigem regras rígidas, que precisam ser cumpridas (em todos os casos e em todas as esferas, com possíveis penalidades tendo que ser aplicadas mesmo após os pleitos quando há a comprovação de fraude, diga-se). Mas isso não quer dizer que as regras não possam ser questionadas. Não enxergar a diferença entre propaganda política ou partidária e troca de ideias sobre assuntos diversos promovidas por uma biblioteca municipal é de uma estupidez rara. E se essa estupidez vem da lei, que apontemos a visão tacanha por trás da regra. Não dá para achar normal não discernir o diálogo, o debate e o incentivo à cultura de mera propaganda.
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