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Martin Scorsese vai odiar Os Parças 2, mas o azar é só dele

Tom Cavalcante e Martin Scorsese: Duelo de Titãs - Reprodução/Montagem
Tom Cavalcante e Martin Scorsese: Duelo de Titãs Imagem: Reprodução/Montagem

13/11/2019 20h26

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Saí entusiasmado da sessão inaugural de Os Parças 2 na semana passada, dedicada a imprensa e convidados. Com um fiapo de história, arremedos de personagens e a possibilidade de repetição eterna em uma franquia de fôlego, o filme oferece tudo aquilo que Martin Scorsese mais lamenta a respeito da indústria cinematográfica contemporânea.

O diretor de clássicos como Taxi Driver, Cassino e O Rei da Comédia está bastante infeliz com o espaço que sobrou no mercado para seus filmes. Como culpado, elegeu o sucesso do entretenimento de fácil acesso. "Eu não vejo os filmes da Marvel. Eu tentei, sabe? Mas aquilo não é cinema. Honestamente, o mais próximo que consigo pensar deles, por mais bem feitos que sejam, com os atores fazendo o melhor que podem sob as circunstâncias, são os parques temáticos", criticou.

A história rendeu e virou uma alavanca de divulgação para seu novo filme, The Irishman, outro lançamento deste mês, com Robert De Niro e Al Pacino. Até Francis Ford Coppola saiu da vinícola para desancar os super-heróis mais queridos do mundo. Com isso, dar razão aos decanos de Hollywood virou o esporte favorito dos cinéfilos na internet.

Em diversas medidas, Os Parças 2 apresenta todas as características que Scorsese tem ojeriza. "Não é o cinema de seres humanos tentando transmitir experiências emocionais e psicológicas a outro ser humano", disse o diretor sobre a Marvel. E é justamente nesse tipo de vácuo conceitual que residem as grandes qualidades do filme reunindo mais uma vez Tom Cavalcante, Whindersson Nunes, Tirullipa e Bruno de Luca.

Nada é desenvolvido de maneira apropriada. O roteiro propõe inúmeras tensões apenas para esquecê-las na sequência, ou resolvê-las da maneira mais frustrante possível. A direção alterna momentos de peça publicitária com lisergia fora de contexto. Colocando dessa forma, parecem aspectos negativos, mas é em cima desse contexto nonsense que os protagonistas brilham, deturpando todas as boas práticas do cinema ocidental.

Os personagens não passam por qualquer evolução durante o filme, mas as luminosas presenças do quarteto principal, com improvisos e caretas engraçadas, são mais que suficientes para sair do cinema de alma lavada.

Não entrarei aqui em pormenores sobre a história, pois ela não possui importância para a experiência. Se o filme dos Vingadores é como uma montanha-russa, Os Parças 2 é um carrinho de choque daqueles parques do interior.

Como ponto mais crítico, destaco a duração. Em vez das quase 2 horas de exibição, acredito que uns 15 minutinhos bem editados dariam conta do recado.

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