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Exclusivo: João Kléber relembra causos com Ibrahim Sued, que faria 93 anos

Ibrahim posa com Brooke Shields e Valentino no Copacabana Palace --sem que eles saibam, aparentemente - Renato dos Anjos/Reprodução "Anjos 80"
Ibrahim posa com Brooke Shields e Valentino no Copacabana Palace --sem que eles saibam, aparentemente
Imagem: Renato dos Anjos/Reprodução "Anjos 80"

23/06/2017 17h02

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Ibrahim Sued está entre meus personagens preferidos no panteão tropical de nossa história. Um jornalista de pouco estudo, de comportamento adoravelmente chucro e cheio de ótimas tiradas, que cobriu como ninguém a vida dos playboys brasileiros do século 20.

Falecido em 1995, a fascinante figura completaria 93 anos hoje. Depois de relembrar, na última segunda-feira, sua mitológica entrevista com Chiquinho Scarpa, achei que seria de bom tom reservar mais este espaço para homenageá-lo.

Para quem não conhece direito, um breve contexto: Sued foi o colunista social que abriu caminho para que a fofoca se misturasse a notícias de bastidores sobre política. Escreveu durante décadas para "O Globo", além de ter apresentando programas e quadros na emissora dos Marinho. Também escreveu livros com títulos como "20 Anos de Caviar" e "Vida, Sexo, Etiqueta e Culinária (Do Pobre e do Rico)".

IBRAHIM, COPACABANA PALACE E CHACRINHA

Meu ídolo João Kléber leu a coluna da última segunda-feira e avisou: "Tenho ótimas histórias sobre Ibrahim e Chiquinho". Logo conversamos a respeito do aniversariante do dia, e agradáveis lembranças afloraram na cabeça do apresentador.

"Tive momentos interessantíssimos com o Ibrahim depois do ano de 87. Já conhecia ele, mas principalmente em 88, quando comecei a apresentar o programa do Chacrinha. E o Leleco Barbosa (filho do Chacrinha) tinha uma amizade muito grande, enorme, com o Ibrahim. O Chacrinha também gostava muito dele.

Sued - Reprodução - Reprodução
Sued e Chacrinha, fantasiado de Batman, no palco
Imagem: Reprodução


O Ibrahim era uma pessoa extremamente interessante e engraçada. Eu vivi no Copacabana na época em que o Chico Anysio dirigiu meu show no Rio de Janeiro, ali no Teatro Ipanema, na Lagoa Rodrigo de Freitas, então eu via sempre o Ibrahim no Copa. Cumprimentava, brincava, ele frequentava o restaurante Pérgula."

NOSTALGIA, PAIXÃO E WINDSURF

"Os anos 80 foram anos maravilhosos no Rio de Janeiro, foram anos incríveis que jamais vou esquecer. E em 89 mais ou menos eu comecei a ter mais proximidade com o Ibrahim. O Leleco sempre convidava o Ibrahim pra casa dele lá na Barra, para jantares e eventos. O Leleco é um cara de ótimos relacionamentos, amigo dos amigos, uma pessoa que eu amo de paixão. É uma amizade entre a família Barbosa e eu.

Me lembro de uma época interessantíssima, comecinho dos anos 90, eu tive um relacionamento muito rápido, mas um pouquinho intenso, mas rápido, com uma esportista que infelizmente teve uma tragédia, faleceu. Uma mulher que era lindíssima, a Dora Bria, foi campeã brasileira, sul-americana, de windsurf. Uma loira linda, de olhos azuis, alta, atleta.

O Leleco marcou um jantar no Hippopotamus, que inclusive o Ibrahim tinha uma amizade enorme com o Ricardo Amaral (dono do estabelecimento, rei da noite carioca). Eu também tenho até hoje, é um cara incrível. A Gisela, esposa do Ricardo, também.

Na verdade estava já na mesa sentado, era um jantar com o Ibrahim a Simone, que era a esposa dele naquele momento. Era extremamente companheira, bem mais jovem do que ele, mas uma pessoa muito bacana, muito educada, muito legal mesmo. Só tenho elogios à Simone e ela sempre foi muito gentil comigo.

Quando cheguei com a Dora no restaurante do Hippopotamus, estavam na mesa o Leleco com a Maninha (sua esposa) e o Ibrahim com a Simone. Porque volto a te dizer: os anos 80, início dos anos 90, o Rio de Janeiro era incrível, o Hippopotamus era fascinante, como aqui em São Paulo era o Gallery.

A primeira coisa que o Ibrahim fala: 'Bola branca para o JK!'. Porque o Ibrahim só me chamava de JK, por conta do nome João Kleber. Tudo que era positivo o Ibrahim falava que era 'bola branca'. E aí ele me viu com aquele mulherão e 'bola branca pro JK', porque eu tava muito bem acompanhado. E ele brincando comigo o tempo todo e tal."

NATAÇÃO, AFOGAMENTO E TRAGÉDIA

"Já sentado eu disse ao Ibrahim que o Leleco queria que eu namorasse a Dora de qualquer maneira. Era muito a favor do relacionamento. A Dora, como eu disse, era uma esportista, uma mulher que, além de bela e linda, não bebia, levantava 5h30 para fazer o windsurf dela.

Doria Bria - Reprodução - Reprodução
A carismática atleta Dora Bria, infelizmente falecida em 2008
Imagem: Reprodução

Quando comecei a dizer que ela era esportista, campeã, o Ibrahim ficou brincando comigo: 'Ela entra no mar, mas o JK se afoga até na banheira do hotel do Copacabana Palace'. Foi uma risada incrível, um lado de bom humor dele.

Porque eu não sei nadar mesmo, até hoje. Nunca nadei. Morei no Rio por 18 anos. Nasci em São Paulo, fui pra lá com 17 anos e eu não nado. Todo mundo sabia que eu não sabia nadar.

Como é que pode um cara que namora uma campeã de windsurf, que entra no mar às vezes muito agitado, pega aquelas ondas todas, aquela coisa toda, e namora um cara que se afoga no Copacabana Palace? Foi uma risada incrível, eu nunca tinha dito à Dora que eu não sabia nadar.

Então esse foi um dos momentos incríveis. Me faz lembrar da Dora, que foi uma menina maravilhosa, uma pessoa incrível. Ela faleceu prematuramente num acidente de automóvel na estrada. Terrível. Tinha uma vida enorme pela frente. Uma pessoa cheia de determinação, de sonhos, uma pessoa que só tenho elogios. Foi uma pessoa maravilhosa.

Só tenho boas memórias do Ibrahim e essa é uma das coisas que eu guardo."

GIGI, COCADINHAS E PANTERAS

João Kléber foi muito generoso com a coluna ao dividir essa memória conosco, prezado leitor.

E "bola branca" era apenas um dos famigerados bordões do Ibrahim Sued. No dia seguinte da sua morte, o jornal "O Globo" publicou o "abecedário completo" do seu colunista mais proeminente. Você pode ver a lista completa nesse link, mas separei meus 20 preferidos abaixo.

Ibrahim Sued - Divulgação - Divulgação
Ibrahim Sued: O maior frasista brasileiro depois de Millôr
Imagem: Divulgação

  1. Ademã, que eu vou em frente: Saudação final nos programas de TV
  2. Bola preta!: Exclamação de desagrado
  3. Bonecas e deslumbradas: As mulheres lindas e bem nascidas, as novas-ricas
  4. Café society: Top da granfinagem, referência ao high society
  5. Cavalo não desce escada: Alerta, aviso para se tomar cuidado
  6. Caixa alta: Sujeito com grana
  7. Caixa baixa: Sujeito metido a rico
  8. Os cães ladram e a caravana passa: provérbio árabe, do qual se apropriou
  9. Cocadinha: Nome que dava às moças bonitas de pele dourada pelo sol
  10. De leve: Ir com calma (advertência)
  11. Depois eu conto: Aviso de que haverá continuação da notícia, suspense
  12. Ela passou e deu aquele alô: Mulher linda e simpática
  13. Em sociedade tudo se sabe: Estar por dentro das coisas na alta roda
  14. Gigi, eu chego lá: Exclamação de otimismo
  15. Não me mandem canetas: Protesto contra a censura do AI-5, por não ter liberdade de escrever naquele período
  16. Níver: Aniversário
  17. Padre de passeata: Padre que se mete em política
  18. Pantera: Mulher linda
  19. Periferia: Aqueles que estão por fora da sociedade; os não colunáveis
  20. Sorry, periferia: Confirmação de um furo (usada para chatear os concorrentes)

ADEMÃ

Ibrahim foi uma figura tão fantástica que até seu obituário na "Folha", escrito por Fernanda da Escóssia, é um primor. Veja o breve relato sobre o último grande evento prestigiado pelo colunista.

"No sábado, Sued estivera em uma festa na casa de Humberto Saade (dono da grife Dijon), organizada para comemorar o aniversário de Paulo Roberto Barros, diretor do Unibanco. 'Ele estava muito bem. Foi uma de suas noites mais brilhantes, abrindo garrafas de champanhe com um facão, como fazem os franceses', disse Saade."

Se fosse possível escolher uma forma de sair de cena, também adoraria ir embora abrindo garrafas de champanhe com um facão. Vida longa a Ibrahim Sued!