UOL Entretenimento 29º Bienal de Arte
 
20/09/2010 - 16h45

Ampla e com muitas obras, 29ª Bienal de São Paulo se prepara para abrir

MARIO GIOIA
Colaboração para o UOL
  • Visitante caminha em frente a uma das obras da 29ª Bienal de São Paulo (20/09/2010)

    Visitante caminha em frente a uma das obras da 29ª Bienal de São Paulo (20/09/2010)

Nesta terça (21), às 19h, quando a 29ª Bienal de São Paulo abrir as portas do seu amplo pavilhão para a inauguração da mostra (apenas para convidados), a história das recentes turbulências de uma das maiores exposições do mundo, ao lado da Documenta de Kassel e da Bienal de Veneza, parece que ganhará dias mais felizes.

Estavam otimistas os organizadores da Bienal, que apresentaram na tarde desta segunda (20) em entrevista para a imprensa a exposição, que tem uma seleção de 159 artistas -- sem contar os presentes em debates, performances, projeções de filmes e encontros distribuídos pelos seis "terreiros" do evento, espaços de descanso e atividades propostos pelos curadores chefes, Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias. É quase um contraponto à 28ª Bienal, de 2008, que ganhou o rótulo de "Bienal do Vazio", devido à ausência de obras em um andar inteiro, e que foi quase unanimemente malvista por crítica e público, reflexo da crise pela qual a fundação se encontrava.

Na entrevista, o presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, destacou a parceria com o MinC (Ministério da Cultura) e a secretaria municipal de Cultura de São Paulo, além das parcerias com a iniciativa privada. "Em um determinado momento, um ano e meio atrás, a Bienal morreu efetivamente. A Bienal foi salva por esse grupo que forma sua diretoria atual", afirmou o secretário municipal da Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil. "No final da década de 70, vi o mesmo fenômeno. Graças ao Sábato Magaldi, que deu os humildes, mas essenciais, recursos da Prefeitura, ela não morreu naquele momento."

José Luiz Herência, do MinC, disse que a pasta continuará apoiando a exposição e que, apesar das leis de incentivo serem responsáveis por grande aporte financeiro à edição, isso pode mudar com a criação de um programa permanente para a manutenção de instituições, além de um prêmio, que ganhará o nome de José Mindlin, a ser divulgado em breve. "A Bienal ainda é uma instituição frágil. O MinC não vê a Bienal como uma instituição privada que fagocita o dinheiro público. O projeto curatorial, a ação educativa e a abrangência da mostra garantem que tais verbas serão bem aplicadas", declarou ele. "Precisamos criar estruturas que façam com que as instituições não vivam só de privilegiar a catraca e eventos que acabem rapidamente."

Martins disse que, entre os próximos planos da fundação, estão a reestruturação do Arquivo Wanda Svevo, "que está em uma situação acanhada", e a climatização completa do pavilhão. Um quadro permanente de educadores também deve ser efetivado após a realização da 29ª Bienal.

  • Marcelo Justo/Folhapress

    Obra do artista pernambucano Gil Vicente que vem causando polêmica na 29ª Bienal

Sobre a polêmica em torno da presença da série "Inimigos", de Gil Vicente, que virou alvo de possível ação da OAB-SP vetando a sua exibição, Farias disse que "é desalentadora tal iniciativa. É uma ação tacanha, mesquinha". "A liberdade de expressão, vista por meio da autonomia da obra de arte, é um valor fundamental que devemos defender. Espero que a OAB paulista reverta essa posição", declarou Herência.

Vicente lembrou ao UOL que a mesma série já foi vista em Recife, Natal, Campina Grande e Porto Alegre em mostras exclusivas, sem causar o mesmo alarde. "A galeria Mariana Moura também exibiu um dos desenhos em uma das edições da SP Arte, sem haver o mesmo barulho", contou o artista pernambucano.

Praças e vielas
Nesta 29ª edição, que segue até 12 de dezembro (a mostra é aberta para o público no sábado, às 10h), com entrada gratuita, o edifício desenhado por Oscar Niemeyer é sede de obras de grandes dimensões espalhadas pelos três andares, algumas de grande envergadura. Uma delas é "Bandeira Branca", de Nuno Ramos, instalada no vão central entre os pisos e que tem urubus, formas escultóricas, porções de terra batida e caixas de som.

Farias destaca o projeto expositivo de Marta Bogéa, que criou relações especiais com o prédio de linhas modernistas de Niemeyer. "Oscar fez uma construção otimista, ampla e que dialoga com o desenvolvimentismo de sua época. A Marta, por sua vez, criou um espaço estilhaçado, um convite à deriva, como que a querer que o público se perca. São praças, vielas, becos, corredores, todos pontuados pelos espaços de descanso, os terreiros."

Bogéa acertou na expografia, que, apesar de parecer uma "cidadela medieval", como os curadores frisaram anteriormente, garante respiros junto das fachadas que dão para o parque Ibirapuera, criando espaços mais arejados ao redor.

  • Eduardo Knapp / Folhapress

    Montagem da obra "Bandeira Branca", de Nuno Ramos, que ocupa o vão central do pavilhão e que tem urubus, formas escultóricas, porções de terra batida e caixas de som

As instalações com filmes e vídeos (leia mais sobre cinema na Bienal) estão bem espaçadas e com boas projeções. Isso faz com que alguns dos trabalhos mais potentes da exposição, como "Static", de Steve McQueen, "Balada da Dependência Sexual", de Nan Goldin, "Le Clash", de Anri Sala, "Lydda Airport", de Emily Jacir, "Tarantismo", de Joachin Koerster, e "Nada Levarei Qundo Morrer Aqueles que Mim Deve Cobrarei no Inferno", de Miguel Rio Branco, sejam bem assistidos.

Além dos nomes mais incensados no circuito internacional, algumas das boas surpresas recaem sobre nomes nacionais, como o do alagoano Jonathas de Andrade em trabalho fotográfico que remete aos anos 70, a pintura de Rodrigo Andrade na série "Matéria Noturna", bastante diversa da que fazia, e a série fotográfica "Sim e Não", da gaúcha radicada em Curitiba Juliana Stein, entre outros destaques. Nos artistas de mais amplo lastro histórico, Anna Maria Maiolino, Antonio Manuel e o grupo Rex estão bem representados -- a sala do Rex, de artistas como Wesley Duke Lee (1931-2010) e José Resende, inédita em âmbito nacional, é um alento na pesquisa das artes plásticas brasileiras.

A exposição ainda tem um escopo generoso, que pode propiciar ao público a exibição de peças delicadas -- como a instalação da franco-italiana Tatiana Trouvé, as Monotipias de Mira Schendel, a sala “sensorial” de Albano Afonso e a instalação de Alfredo Jaar -- próximo de trabalhos mais expansivos e quase delirantes, como o do coletivo japonês Chim Pom. Jovens, os artistas asiáticos passeavam pelo terceiro andar do pavilhão, onde "Brazil Love", sua instalação que mescla cultura de rua, funk e pop de Tóquio, está montada em grande espaço. A trupe seguia sorridente admirando as obras, de semblante nada carrancudo, algo muito diverso do que predominou em edições recentes da mostra.


29ª BIENAL DE SÃO PAULO
Quando:
sáb., 25/9, às 10h (público); de seg. a qua., das 9h às 19h (entrada até as 18h); qui. e sex., das 9h às 22h (entrada até as 21h); sáb. e dom., das 9h às 19h (entrada até as 18h); até 12/12
Onde: Pavilhão da Bienal (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5576-7600)
Quanto: entrada franca
Mais informações: www.29bienal.org.br
 

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