O artista paulista Henrique Oliveira, 37, um dos estreantes da Bienal em sua 29ª edição
No terceiro andar do Pavilhão da Bienal, o barulho de martelos e furadeiras não para. Amontoados de pedaços de madeira se espalham por um espaço que difere do restante do andar, que já está com a expografia preparada para a inauguração da mostra, no próximo dia 21. Os ruídos são da equipe que finaliza a instalação de Henrique Oliveira, "A Origem do Terceiro Mundo", que conta com 12 assistentes envolvidos na tarefa de terminar o projeto.
"A Origem do Terceiro Mundo" deve ser um marco na carreira do paulista de 37 anos, que estreia na Bienal de São Paulo, uma exposição considerada de destaque na trajetória de qualquer artista. Oliveira já expôs em outras bienais, como a do Mercosul, em Porto Alegre, e a de Monterrey, no México, ambas no ano passado, mas a participação na 29ª edição do evento paulistano é mais relevante.
"Foi muito bom ter sido convidado para a Bienal, ainda mais para um espaço especial dentro da configuração da mostra, já que a instalação fica em uma das saídas do espaço climatizado do prédio", explica o artista, que une duas vertentes da sua obra na realização da peça, uma mais ligada a elementos pictóricos e a outra que sugere ligação com um universo mais pop, de HQs e desenhos animados. "Sempre me falam que minhas obras parecem aquelas de desenhos como Akira e os do [Hayao] Miyazaki. Acho interessante essa leitura. Mas há referenciais pictóricos que têm a ver com Philip Guston e outros pintores."
Detalhe de obra do artista Henrique Oliveira, em processo de montagem para a 29ª Bienal
A instalação de Oliveira é um dos caminhos que o público pode fazer após ter visto as gravuras e os desenhos de Oswaldo Goeldi (1895-1961), por exemplo, que estarão no espaço climatizado. A obra tem dois andares estreitos, onde o espectador poderá caminhar pela particular constituição do "organismo" proposto pelo artista -- a base é feita de PVC, a segunda camada é de compensados mais resistentes e a última, uma espécie de "pele", é formada por madeira descartada em canteiros de obra diversos.
Da mesma idade que Oliveira, Marcius Galan, artista radicado em São Paulo, também estreia na Bienal em ótimo momento na carreira. Fez a exposição individual "Área Útil: Área Comum" na galeria Silvia Cintra, no Rio (encerrada no último dia 4), e esteve também neste ano em coletiva elogiada no Centro Cultural São Paulo, "Dimensões Variáveis". Sua participação na Bienal é de risco: em um lugar de bastante movimento -- na saída de uma das rampas que unem os três andares do edifício --, ele exibirá oito fotografias e instalação que lidam com a escala de modos diversos.
A instalação, "Ponto em Escala Real", é uma espécie de materialização de um ponto de um mapa, em escala 1: 130.000, que representa onde está o Pavilhão da Bienal. Assim, o que antes era um dado cartográfico ganha uma materialidade quase impensável. No retângulo de concreto de 6 m x 5 m, será aplicada uma tinta epóxi, industrial e na cor negra, mas os ferros da construção permanecerão soltos. "É quase um convite para entrar", diz o artista.
"Fora de uma Bienal, seria muito difícil produzir uma obra dessas. É uma peça cara, feita especificamente para o espaço, o que me atrai muito", conta Galan. Na série de fotografias, o artista faz operação inversa à da instalação e expõe, numa escala gigantesca, as linhas divisórias de um mapa. Ampliadas em um laboratório, as fotografias exibem um mundo orgânico, onde surgem tipos de formas semelhantes a galhos, árvores e texturas vegetais. "Colocar qualquer trabalho nesse prédio também envolve uma outra percepção, já que as dimensões são grandiosas", afirma ele.
Detalhe da obra que a artista brasileira Tatiana Blass, 30, exibirá na 29ª Bienal
Piano sem som
A paulistana Tatiana Blass, 30 anos, é uma das brasileiras mais jovens presentes na seleção da curadoria. A participação também coroa boa fase na produção da artista, que apresentou exposição individual na galeria Millan, em São Paulo, em março deste ano.
"O convite foi surpreendente, porque existe uma produção de arte contemporânea muito extensa e, apesar de parecer que a lista de artistas é grande, na verdade não é, porque abrange artistas de diversas gerações e nacionalidades. Acho que a Bienal é muito importante por diversos fatores, mas principalmente porque cria um contexto da arte contemporânea. É um grande estímulo e uma grande oportunidade para se fazer algo relevante", diz ela ao UOL, por e-mail, de Miami, onde finaliza instalação para a Fundação Cisneros.
Metade da "Fala no Chão – Piano" é uma instalação/performance que revela um lado tridimensional forte na produção da artista. É um desdobramento da série que começou em 2008, quando Blass criou formas escultóricas com instrumentos que perdem sua função. "A ideia da obra é criar uma fisicalidade do invisível, como se o som estivesse preso a um corpo, transfigurado em matéria."
No dia da abertura da Bienal, 21 de setembro, o pianista Thiago Cury vai executar cinco composições de Chopin em um piano de cauda. O pequeno concerto vai pouco a pouco ser inviabilizado em razão de dois homens prepararem parafina e derramarem algumas vezes no instrumento, fazendo com que as teclas, quando tudo virar uma massa rígida, fiquem imóveis.
Percebo que é uma grande responsabilidade estar aqui [na Bienal], mas, ao mesmo tempo, é uma exposição a mais
Albano Afonso, 45, um dos artistas "veteranos" a estrear na BienalO paulistano Albano Afonso, 45, é um dos "veteranos" a estrear na 29ª Bienal. Tendo ganhado individuais em espaços na França, Espanha, Portugal e EUA, entre outros países, faz sua primeira incursão na tradicional mostra paulistana já mais maduro. "Foi o momento certo para expor meu trabalho. Se fosse alguns anos atrás, eu teria ficado mais ansioso. Nesse ponto da minha trajetória, percebo que é uma grande responsabilidade estar aqui, mas, ao mesmo tempo, é uma exposição a mais. Obviamente, é de grande visibilidade, mas minha carreira continua", conta ele.
Como Oliveira, Galan e Blass, Afonso também se encontra em momento fértil. A individual que estava na Casa Triângulo, no início deste ano, "O Jardim – Faço, Nele, A Volta do Infinito", representou um ponto importante em sua obra, quando ele cria trabalhos unindo a fotografia, a escultura, a instalação e a obra sonora. Muito do que ele apresentará na Bienal é um desdobramento dessas suas pesquisas. Sua sala terá um jogo de projeções, imagens e reflexões que envolverá o público sensorialmente, mas sem deixar de lado questões que o artista abordara em oportunidades anteriores, como o status da representação e a releitura da história da arte.
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