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Novo disco de Paul McCartney homenageia Brasil e alfineta haters: "Quem se importa?"

O cantor e lenda Paul McCartney - Rob Grabowski/Invision/AP
O cantor e lenda Paul McCartney Imagem: Rob Grabowski/Invision/AP

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

23/08/2018 00h00

Não é de hoje que Paul McCartney anseia por um mundo melhor, mas, ao menos em seu novo álbum de estúdio, essa concepção passou a incluir doses de sexo, de pop abertamente radiofônico e um recado pra lá de direto a haters e maus políticos do planeta.

A viagem sonora de “Egypt Station”, que chega às plataformas digitais no próximo dia 7 de setembro, conta ainda com uma estratégica paradinha em nosso país, local de tantos e tantos shows, na homenagem “Back in Brazil”, um samba-bossa-gringo de pegada elétrica e letra onírica.

Capa de "Egypt Station" - Reprodução - Reprodução
Capa de "Egypt Station"
Imagem: Reprodução

O UOL já ouviu o disco de Paul McCartney, que traz 16 faixas inéditas e é marcado pela mistura de temas, sonoridades e timbres, apostando no ritmo do "morde e assopra": uma música mais agitada é quase sempre seguida por outra bem mais lenta, como ele costuma fazer nas apresentações.

Agora sob a batuta de dois novos produtores —Greg Kurstin, de Adele, e Ryan Tedder, líder do grupo OneRepublic, Paul dá continuidade a sua recente jornada rumo ao desconhecido, iniciada em “New” (2013), um disco mais experimental, atual, e que serviu para apontar caminhos.

Irregular e pouco linear, “Egypt Station” tem seus momentos, mas é provável que fãs mais ortodoxos dos anos 1960 e 1970 estranhem a fórmula. Melodias e riffs que grudam na cabeça surgem diluídos ao longo das músicas, polvilhadas de autorreferências. Há pouquíssimos solos de guitarra, ao contrário das mensagens de amor sincero e otimismo.

Acompanhe abaixo um faixa a faixa de “Egypt Station".

1. Opening Station

A introdução traz ecos da fictícia estação que dá título ao álbum, que foi inspirado em figuras de um livro sobre o Egito lido por Paul McCartney.

2. I Don't Know

Uma das três faixas já divulgadas, junto de “Come On to Me" e "Fuh You". Começa melancólica, ao piano, antes de ganhar a típica cadência das "semibaladas" de Paul. Versa sobre adversidades pessoais e a força interior necessária para dar a volta por cima.

3.  Come on to Me

As primeiras guitarras surgem aqui. A bateria reta e o arranjo crescente são pano de fundo para um refrão minimalista, que deve encontrar eco em estádios. A música é direta ao falar sobre desejo sexual. “Precisamos encontrar um lugar onde possamos ficar sozinhos/Para passar algum tempo especial sem interrupção”, canta Paul, aos 76 anos.

4. Happy With You

Momento “álcool, tô fora, eu quero é amar”. Paul dedilha um violão à la “Blackbird” e “Here Today” e canta de forma singela, provavelmente para a mulher Nancy Shevell. A letra tem sacarose e condiz com sua idade. “Costumava ficar chapado/Gostava de ficar louco/Mas hoje em dia, não/Porque eu estou feliz com você/Eu tenho muita coisa boa para fazer.”

5.  Who Cares

Microfonia e riffs ao estilo anos 1970 chegam a lembrar clássicos dos Wings. A mensagem, no entanto, é a cara de 2018. “Você já se magoou com o que as pessoas dizem ou com as coisas que fazem quando te criticam?”, diz Paul em tempos de haters. “Quem se importa com o que os idiotas dizem?/Quem se importa com o que fazem?/Quem se importa com a dor no seu coração? Quem se importa com você?”

6. Fuh You

Única faixa produzida por Ryan Tedder, do grupo de indie pop OneRepublic. Não por acaso, é a que mais destoa do restante do trabalho. O refrão moderno e grandioso poderia muito bem estar em um disco do Imagine Dragons. Claramente uma aposta para fisgar o público jovem.

7. Confidante

A homenagem aqui é ao violão, velho companheiro de Paul McCartney. A música estreou ao vivo em julho, em show no The Cavern Club, em Liverpool. “Quando era garoto, tocava violão o tempo todo. Mas deixei de fazer isso por um tempo. Ele ficou um pouco abandonado. Ele costumava ser meu confidente, meu amigo embaixo da escada”, explicou o ex-Beatle.

8. People Want Peace

Paul fala em vozes de liberdade e diz que o ser humano deseja vivenciar a paz, seja ela qual for. É um dos recados mais politicamente incisivos do álbum. “Nada é mais triste e solitário na vida quanto procurar pela paz”. Termina com coro e palmas, em uma alusão a “Give Peace a Chance”, de John Lennon.

9. Hand in Hand

Paul ainda acredita no amor e faz questão de exaltá-lo na faixa, que é minimalista, conduzida por voz, piano e violão. “Me deixe entrar na sua vida, vou mostrar minha paixão. Podemos ser felizes se fizermos direito”, canta o músico, esperançoso e “romanticão”.

10. Dominoes

Mais violões, agora com arranjo “para cima”. Mais uma letra com viés politizado, que fala sobre encontrar uma forma melhor de viver no mundo de hoje. A sonoridade lembra Beatles fase “White Album” e os primeiros trabalhos solos do cantor, lançados no início dos anos 1970. É uma das melhores do disco.

11. Back in Brazil

A homenagem ao Brasil inicia com o gorjeio de um blackbird –ou seria um assum preto? Sobem o piano elétrico e um solo de clarinete, arranjado pelo compositor Alan Broadbent. O samba-bossa-gringo elétrico e meio torto narra a saga de uma brasileira que conhece um rapaz em uma terra de luzes brilhantes, música, dança e diversão, e juntos eles roubam a cena.

12. Do It Now

Novamente uma quebrada de ritmo. É uma balada “clássica” composta ao piano, que ressalta a urgência do “aqui e agora”. Termina com arranjo de cordas, marca da parte final de “Egypt Station”.

13. Caesar Rock

Experimentação de timbres e efeitos de guitarra acenam e uma letra sobre um amor difícil. O vocal aparece berrado e roqueiro, mas não se trata exatamente de uma música pesada. Está mais para southern rock com groove. É boa para dançar.

14. Despite Repeated Warnings

É a faixa “épica” do disco. Tem sete minutos de duração, letra politizada e diversos movimentos. O vasto uso de instrumentos, com orquestra, e a estrutura de composição a aproxima de clássicos como “Band on the Run” e “Live and Let Die”.

15. Station II

Mais ecos da estação de trem.

16. Hunt You Down-Naked-CLink

Riffs são acompanhados ora por sintetizadores, ora por cordas. O arranjo acelera e desacelera, culminando em um blues instrumental. É possível interpretar este medley como uma ode à trinca "Golden Slumbers", "Carry that Wight" e "The End", que encerra o álbum “Abbey Road” e as apresentações de Paul McCartney.