Com mais de cem grafites pelo mundo, Kobra pinta Einstein de bike em SP
A ideia de grafitar o gênio alemão de cabelos arrepiados Albert Einstein em um momento corriqueiro da vida – andando de bicicleta – veio à mente do artista plástico e muralista paulistano Eduardo Kobra em 2013, mas só agora, há pouco mais de duas semanas, a obra foi finalmente executada.
Batizado de “Genial é Andar de Bike”, o colorido painel com formas geométricas, de 15 m de altura por 7 m de largura, foi feito em apenas seis dias. A pintura estampa uma das laterais de um prédio da Rua Oscar Freire, próximo à Rua Bela Cintra, nos Jardins, região nobre de São Paulo. À frente da bicicleta, no lugar da famosa fórmula da relatividade geral, E=mc², o artista escreveu <3=Eu+Vc².
“Eu ia pintar esse mural inicialmente na Vila Madalena, depois pensei no Brooklyn, em Nova York, e por fim ficou na Oscar Freire, onde consegui o espaço”, contou o artista de 39 anos, nascido no bairro periférico do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, em entrevista ao UOL.
Segundo Kobra, Einstein gostava mesmo de pedalar, e a “brincadeira” também pretende fazer com que as pessoas reflitam sobre essa possibilidade no transporte urbano. “A obra não tem a ver com física ou o trabalho do Einstein, mas com a genialidade dele em cima de uma bicicleta”, diz.
Hoje, o artista mora na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação e apoia o uso das ciclovias, mas acredita que as metrópoles ainda precisam evoluir muito para ter condições de abrigar as bicicletas com segurança. “Eu costumo pedalar, mas São Paulo ainda não está preparada para isso, embora caminhe nessa direção. Quanto mais se der condições para os ciclistas, não só aos finais de semana e feriados, melhor será para a vida da cidade. Mas é preciso pensar em tudo, na ciclofaixa, na calçada para o pedestre, nas vias funcionando. Não adianta priorizar um ponto e esquecer dos outros”, destaca o artista, que em suas produções (a maioria, voluntária) gosta de lidar com personalidades importantes da história.
“Sempre que tenho uma ideia, anoto, crio um desenho e faço pesquisas iconográficas. Também busco informações sobre essas figuras humanas e um local para pôr as imagens”, explica o paulistano, que já havia feito um grafite com o rosto de Einstein há três anos, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Na época, o painel integrou o projeto “Olhar a Paz”, que reuniu vários nomes importantes na luta pela paz mundial, como Martin Luther King, Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá e a jovem paquistanesa Malala, vencedora do Nobel da Paz em 2014.
Como base para seus desenhos realistas, Kobra usa fotos dos próprios personagens retratados. “Preservo sempre as características de luz e sombra das fotos, a perspectiva, a anatomia”, ressalta.
Eduardo Kobra
Quando você pinta na rua, acostuma-se com essa arte efêmera. Por mais que um grafite dure cinco ou seis anos, um dia vai sumir dali
Grafites pelo mundo
Desde que começou a pintar muros, paredes e fachadas de prédios, em 1988, Kobra contabiliza mais de 3.000 trabalhos pelo mundo. Mas, como as cidades mudam o tempo todo e a arte urbana também, muita coisa já foi apagada. Por isso, ele estima que hoje tenha mais de cem obras no Brasil e no exterior, em países como Estados Unidos, México, Japão, Rússia, Inglaterra, França, Itália, Suécia, Finlândia, Taiti e Emirados Árabes.
“Quando você pinta na rua, acostuma-se com essa arte efêmera. Por mais que um grafite dure cinco ou seis anos, um dia vai sumir dali. Mas também é complicado dedicar até 30 dias em um mural e, de repente, ele desaparecer. Por isso, em algumas pinturas tenho um cuidado maior de preparar a parede, aplicar verniz, usar uma tinta mais resistente”, revela Kobra, que tem atualmente cerca de 30 painéis espalhados pela capital paulista e uma grande sequência de trabalhos nas cidades norte-americanas de Los Angeles, Miami e Nova York.
Para dar conta de tanta demanda, o artista vive viajando: passa temporadas de cinco ou seis meses por ano no Brasil e o restante em cidades como Nova York e Londres, onde a arte urbana é forte, com representantes como Jean-Michel Basquiat (1960-1988), Banksy e Mr. Brainwash (de quem Kobra é parceiro). Nos próximos meses, o brasileiro deve grafitar na Austrália, nos Estados Unidos – nas cidades de Minneapolis e Nova York – e no Haiti, onde planeja pintar dois ou três muros em regiões destruídas pelo terremoto de 2010.
“Faço parte do projeto ‘Renascimento do Haiti’, que surgiu em Nova York com um grupo de voluntários. Seremos os primeiros a pintar murais em uma área que foi totalmente destruída. Vou no início de julho e devo ficar duas semanas por lá”, afirma Kobra, que começou a carreira criando painéis em preto e branco para retratar a cidade de São Paulo antiga, das décadas de 1920 e 1930, no projeto "Muro de Memórias", e a partir daí passou a colorir suas obras, misturando padrões xadrezes e retrôs.
Para pôr seus planos em prática, o artista às vezes conta com apoios e patrocínios. E o que lhe garante renda mesmo são pinturas vendidas em galerias de street art europeias e norte-americanas. A última exposição realizada por Kobra foi há dez anos, na galeria Proarte, em São Paulo, mas ele adianta que deseja fazer em breve algo maior na capital paulista e no exterior, para mostrar seu trabalho em espaços públicos.
Eduardo Kobra 2
Vou passar por vários lugares diferentes [de São Paulo, no fim de junho], desde a periferia até regiões nobres. Estou planejando pintar murais, escrever frases e fazer coisas interativas
Intervenções sociais
Em sua arte urbana, Kobra também manifesta uma preocupação com a sociedade, os animais e o meio ambiente. Para externar sua opinião sobre vários assuntos que o paulistano vive no dia a dia, o artista prevê, entre os dias 20 e 30 de junho, uma série de dez intervenções (uma por dia) na cidade. As atividades serão divulgadas – e os trabalhos, publicados – nas páginas de Kobra no Facebook e no Instagram.
“Vou passar por vários lugares diferentes, desde a periferia até regiões nobres. Estou planejando pintar murais, escrever frases e fazer coisas interativas. As pessoas vão poder descobrir esses locais, dar sugestões, falar dos problemas sociais e acompanhar os resultados”, afirma o artista, que não vê nenhuma relação de sua obra com a do pernambucano Romero Britto. “Ele segue um caminho completamente diferente do meu, nunca tivemos ligação. O que ele faz é mais personagem de desenho animado, usa um colorido com contorno preto. Não sou contra, cada um faz o que acha conveniente”, comenta Kobra, que já teve sua arte estampada em garrafas de água Perrier em Paris, Nova York e Toronto, no Canadá.
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