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Verissimo sobre João Ubaldo Ribeiro: "Ele era o verdadeiro Caymmi"

Do UOL, em São Paulo

18/07/2014 11h03

O escritor Luis Fernando Verissimo acordou na manhã desta sexta-feira (18) com a notícia da morte do amigo João Ubaldo Ribeiro. "Fiquei muito surpreso. Não sabia que ele estava doente", disse o gaúcho, por telefone, ao UOL. "Era um grande escritor, um dos nossos melhores". Ubaldo, autor de obras como "A Casa dos Budas Ditosos" e "Sargento Getúlio", morreu aos 73 anos, vítima de embolia pulmonar, em sua casa no Rio.

Atualmente, Verissimo e João Ubaldo se viam pouco, mas continuavam amigos. "Ele era muito divertido. Brincávamos que ele tinha uma boa voz. Cantava muito. Falávamos que o verdadeiro Dorival Caymmi era ele".

Da obra do baiano, Verissimo destaca "O Sargento Getúlio", lançado em 1971, como sua obra-prima. "Talvez tenha sido a melhor coisa que ele escreveu. Essa e toda obra dele falam sobre o povo brasileiro, o que é a brasilidade, quais são as características do nosso povo".

Segundo livro de Ubaldo, "Sargento Getúlio" foi consagrado como um marco do moderno romance brasileiro, levando o escritor a comparações com Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. A obra, que aborda o banditismo no sertão e usa uma linguagem coloquial repleta de regionalismos, foi adaptado ao cinema e protagonizado por Lima Duarte, e lhe rendeu um Prêmio Jabuti de autor revelação.

Velório

O velório de João Ubaldo Ribeiro, inicialmente marcado para as 10h, foi adiado para as 13h desta sexta-feira no Salão dos Poetas Românticos na sede da ABL, no Rio (av. Presidente Wilson, 203, Castelo), e será aberto ao público. O corpo dele será enterrado no sábado no mausoléu da ABL, no cemitério São João Batista, também no Rio. O horário ainda não foi definido --a família aguarda a chegada de Manuela, filha do escritor, que mora na Alemanha e está a caminho Brasil.

João Ubaldo, que também é pai do apresentador e ex-VJ da MTV Bento Ribeiro, passou mal em sua casa no Leblon, no Rio de Janeiro. Um funcionário do prédio onde o escritor morava há cerca de 20 anos disse à GloboNews que, por volta das 3h da manhã, a família pediu por ajuda médica, mas que não houve tempo de prestar socorro.

Trajetória de João Ubaldo

Sétimo ocupante da cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras desde 1994, como sucessor de Carlos Castello Branco, João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu em Itaparica, na Bahia, em 23 de janeiro de 1941. Formado em direito (1959-1962) pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), ele nunca chegou a advogar, mas construiu uma carreira que o consagrou como romancista, cronista, jornalista e tradutor.

Aos 21 anos, escreveu seu primeiro livro, "Setembro Não Tem Sentido", que ele desejava batizar como "A Semana da Pátria", contra a opinião do editor. Em 1999, João Ubaldo foi um dos escritores escolhidos para dar depoimento, ao jornal francês "Libération", sobre o Terceiro Milênio.

"Viva o Povo Brasileiro" foi o tema do exame de "agrégation", concurso para detentores de diploma de graduação na universidade francesa. Este romance (que virou tema de samba-enredo da Império da Tijuca em 1987) e "Sargento Getúlio" (adaptado ao cinema) constaram na maior parte das listas dos cem melhores romances brasileiros do século e ambos lhe renderam o Prêmio Jabuti.

No mesmo ano, ele lançou "A Casa dos Budas Ditosos", narrado por uma mulher de 68 anos que nunca se furtou a viver as infinitas possibilidades do sexo. Foi adaptado para o teatro por Domingos de Oliveira em 2004, em forma de monólogo e encenado por Fernanda Torres.

João Ubaldo trabalhou como professor de administração e filosofia, e como jornalista colaborou com diversas publicações, como "Frankfurter Rundschau" (Alemanha), "Diet Zeit" (Alemanha), "The Times Literary Supplement" (Inglaterra), "O Jornal" (Portugal), "Jornal de Letras" (Portugal), "Folha de S. Paulo", "O Globo", "O Estado de S. Paulo" a "A Tarde", entre outros. O escritor foi ganhador do Prêmio Camões em 2008, maior prêmio da língua portuguesa.

Entre 1990 e 1991, ele morou em Berlim, a convite do Instituto Alemão de Intercâmbio. Na volta, passou a morar no Rio de Janeiro. Era casado com Berenice de Carvalho Batella Ribeiro, com quem tinha dois filhos, Bento e Francisca. Do casamento anterior com Mônica Maria Roters, João Ubaldo teve duas filhas, Manuela e Emília.