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HQ que inspirou novo X-Men previa heróis da Marvel todos mortos em 2013

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

21/05/2014 10h04

Nunca os heróis de quadrinhos foram tão populares no cinema como no início deste século 21, mas, se dependesse do que o escritor Chris Claremont e o cartunista John Byrne imaginavam em 1980 sobre o distante ano de 2013, Homem de Ferro, Hulk, Capitão América, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e quase todos os X-Men estariam mortos.

Em “Dias de um Futuro Esquecido”, a revista que inspirou a nova aventura dos X-Men no cinema, que estreia nesta quinta (22), o mundo está prestes a enfrentar uma guerra para deter os sentinelas, robôs gigantescos criados por humanos para caçar, aprisionar e matar mutantes.

Mas, como em “Matrix”, as máquinas fogem ao controle e começam a também caçar humanos que possuam o gene mutante. O caos se estabelece em toda a América do Norte, que foi conquistada pelos robôs e dividida em três classes (humanos anômalos, mutantes e humanos, estes últimos os únicos autorizados a se reproduzirem).

Acontece que os sentinelas agora estão voltando suas atenções para os mutantes de outros continentes, o que é visto como uma ameaça imperialista por estas nações, que pretendem eliminá-los com armas nucleares.

Diante deste panorama, os quatro únicos X-Men que sobreviveram (Wolverine, Tempestade, Colossus e Lince Negra) se unem a Magneto em um plano para mudar um evento passado e, assim, impedir que os sentinelas sejam criados.

O clima da época em que esta HQ foi escrita era de Guerra Fria, e a ameaça de um confronto nuclear entre Estados Unidos e a então União Soviética rondava a política internacional. A paranoia nuclear obviamente teve reflexos na cultura pop daqueles tempos.

Filmes como “O Dia Seguinte”, “Blade Runner: O Caçador de Androides” e “Mad Max” retratavam, se não o fim da humanidade, o fim do mundo que conhecíamos. A obra de George Orwell “1984”, que relata uma sociedade em constante vigilância do Estado, cujo objetivo maior é a manutenção de conflitos armados, tornava-se cada vez mais popular conforme o ano em questão se aproximava.

Críticas ao imperialismo dos Estados Unidos, então liderado pelo republicano Ronald Reagan, eram constantes nas histórias em quadrinhos, que retratavam políticos como fanáticos totalitaristas, cuja liderança só poderia conduzir o planeta a seu fim.

Neste contexto, a figura que detona a crise de “Dias de um Futuro Esquecido” é Mística, a mutante metamórfica vivida por Jennifer Lawrence na atual série cinematográfica. Ela se torna líder da Irmandade dos Mutantes do Mal e mata o senador Robert Kelly, que vê nos mutantes uma ameaça à humanidade. A missão de Lince Negra é alterar esses fatos e, assim, o futuro.

Mística é transexual?

Nos bastidores dessa história houve muitas desavenças entre a dupla Claremont e Byrne, responsáveis inicialmente por transformar os X-Men no sucesso que são hoje. No entanto, “Dias de um Futuro Esquecido”, embora considerada por muitos fãs dos quadrinhos como a melhor aventura do grupo, foi também a história que marcou o fim da parceria.

Para começar, os dois não concordavam sobre a natureza dos sentinelas. Claremont achava que eles deveriam ser controlados por humanos antimutantes radicais. Byrne defendia a ideia que acabou sendo impressa, em que os robôs controlam todos.

No entanto, uma das maiores curiosidades sobre essa briga é a respeito da história pregressa dos personagens Noturno e Mística. Em uma cena da história, o teletransportador percebe a semelhança física entre os dois e questiona a vilã.

Em quadrinho "Dias de um Futuro Esquecido", Noturno questiona Mística sobre sua semelhança física - Reprodução - Reprodução
Em quadrinho "Dias de um Futuro Esquecido", Noturno questiona Mística sobre sua semelhança física
Imagem: Reprodução
Claremont pretendia explicar o fato dizendo que Mística era pai de Noturno, já que suas habilidades metamórficas permitiam que ela mudasse inclusive de sexo. A mãe seria outra personagem que aparece na história, Destiny, uma mutante cega clarividente que, em português, ganhou o nome de Sina. Na trama ela é mostrada como “a única da Irmandade a quem Mística chamava de amiga”.

Numa época em que raramente se retratava a sexualidade de personagens em quadrinhos, Byrne não quis discutir o assunto e teve o apoio de todo o corpo editorial da Marvel. A solução que futuramente se deu ao tema por outros cartunistas foi a de que Mística seria a mãe de Noturno.