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Obras hiper-realistas de Ron Mueck chegam em março ao Rio; conheça as peças

Luciana Rosa

Do UOL, em Buenos Aires

12/02/2014 18h33

O artista plástico australiano Ron Mueck traz pela primeira vez seu trabalho para a América do Sul. A exposição, atualmente em cartaz em Buenos Aires, chega no dia 20 de março ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro com estátuas hiper-realistas. Misturando resina, fibra de vidro, silicone e pinturas acrílicas, os trabalhos cheios de detalhes do artista brincam com o limite entre realidade e ficção.

Descendente de uma família alemã de fabricantes de bonecas, Ron Mueck começou fazendo maquetes e marionetes para o cinema --em "O Labirinto" (1986), protagonizado por David Bowie, o artista caracterizou quatro personagens. Em 2002, Mueck deixou o cinema de lado para dedicar-se exclusivamente às artes plásticas.

"Mueck joga com o tamanho da representação, mas, mesmo a partir do título da obra, ele não contribui com mais informações. Tenta ser neutro e aberto em sua leitura", disse a curadora Grazia Quaroni, que, ao lado do diretor da Fundação Cartier de Paris, é responsável pelo envio das obras ao resto do mundo.

Trecho do trabalho de Ron Mueck em "Still Life"

Sete obras de Mueck vieram da Europa para a América Latina na exposição "Still Life", traduzida como "natureza morta". Dessas peças, quatro são parte do acervo do artista e as outras três foram concebidas especialmente para a mostra na América Latina. Dentre as inéditas, nota-se que são as únicas constituídas por pares de personagens e em situações nas quais nunca chegam a encontrar-se com o olhar.

A obra "Couple Under an Umbrella", ou "casal sob um guarda-sol" em português, é formada por um casal de idosos aparentemente acomodado na orla de uma praia. O homem está recostado sobre uma das pernas da gigantesca figura feminina, que o observa, enquanto ele agarra um dos braços dela. Como todas as obras de Mueck, a peça dá lugar à interpretações diversas sobre situações cotidianas registradas como escultura.

O casal mede quase 3 metros de altura e chama a atenção pela riqueza de detalhes, desde a pele enrugada de ambas figuras até as varizes nas pernas da senhora de maiô azul. Brincando com o sentido de realidade, Mueck os faz perfeitos, mas insere detalhes de desproporção entre o tamanho das cabeças e pés com relação ao corpo. Todo o processo de confecção das gigantescas figuras pode ser acompanhado no documentário "Still Life", exibido durante a mostra.

As peças "Woman with Shopping" (Mulher com as Compras) e "Young Couple" (Jovem Casal), ambas de 2013, seguem jogando com a questão das escalas (medem cerca de 1 metro de altura) e da desconexão entre os olhares perdidos. Na primeira, uma mulher operária carrega duas sacolas de compras e leva um bebê dentro de seu sobretudo que a busca com o olhar, sem resposta recíproca. Já o jovem casal, o garoto parece pedir a atenção da namorada observando-a de maneira carinhosa, mas, ao circular em torno a obra, vê-se que ele a tem agarrada por uma das mãos como se existisse uma tensão entre eles.

A mostra se completa com obras do acervo do artista australiano, o que compõe uma espécie de percurso pelas diversas fases de seu trabalho. O autorretrato "Mask 2" (Máscara 2), de 2002, é uma grande cabeça que descansa, feita à imagem de seu criador, mas totalmente oca. Estão também "Man in a Boat" (Homem em um Barco), de 2002; "Still Life" (Natureza Morta); "Drift" (À Deriva); "Youth" (Juventude); e finalmente, uma das mais marcantes, "Woman with Sticks" (Mulher com Ramos), estas últimas todas de 2009.

Making of da exposição "Still Life" em Paris

Sucesso de público

Uma semana antes da estreia em Buenos Aires, a exibição já havia causado um aumento de 64% de visitas à página na internet da Fundação Proa, que sedia a mostra na capital argentina. Hoje, passados quase um mês e meio, a exposição já atraiu 107 mil pessoas e a expectativa é que alcance os 150 mil visitantes até seu encerramento, no dia 23 de fevereiro. Em Paris, a mostra chegou ao número recorde de 300 mil espectadores.

Em Buenos Aires, a enorme fila para entrar na Fundação Proa numa tarde nublada de domingo confirma a popularidade da exposição --a média de público para os finais de semana é de 3.600 pessoas por dia. Juan Carlos Urrutía, integrante da equipe de educadores da Proa, credita o sucesso "em parte, pelo grande número de pessoas que conheciam o trabalho de Mueck através de fotos e queriam vê-lo pessoalmente".

Para o educador, o que surpreendeu entre o público de Mueck foi a quantidade de pessoas que parecia visitar uma mostra de arte pela primeira vez. "Notei muita gente que não estava acostumada a visitar museus ou que era a primeira vez que estava em uma exposição de arte. Provavelmente, atraída pelo estranhamento causado pelo super-realismo das peças".

Além das sete obras que serão levadas de Buenos Aires para a capital fluminense, o público poderá desfrutar de um documentário do diretor Gautier Deblonde, intitulado "Still Life". Em 50 minutos, o documentarista mostra todo o curioso e solitário processo de composição das obras que foram confeccionadas especialmente para a mostra, que ficará em cartaz no Rio de Janeiro até o dia 1º de junho. Ainda não há previsão de que a mostra percorra outras cidades brasileiras.