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Antes de capa com acusado de terrorismo, "Rolling Stone" chocou EUA com Charles Manson em 1970

Capa da revista "Rolling Stone" com Charles Manson - Reprodução
Capa da revista "Rolling Stone" com Charles Manson Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

18/07/2013 12h59

A polêmica com a capa mais recente, que traz uma foto do suspeito de terrorismo Dzhokhar Tsarnaev, não é a primeira da revista americana "Rolling Stone" envolvendo crimes que abalaram o país. Há mais de 40 anos, em 1970, a revista já chocava os leitores americanos com uma foto do assassino em série Charles Manson.

A edição trazia uma entrevista exclusiva com Manson, dada de dentro da prisão, e rendeu um prêmio nacional à revista.

Nesta quarta-feira (17), a "Rolling Stone" defendeu a polêmica capa de sua última edição, dedicada a um dos acusados dos atentados de Boston, após a chuva de críticas na internet e o anúncio do cancelamento de sua venda em vários estabelecimentos.

Frequentemente reservada para estrelas da música e celebridades, desta vez a capa da revista mostra o jovem Tsarnaev, de 19 anos, com uma foto tirada de uma de suas contas nas redes sociais e na qual aparece com o cabelo desgrenhado e olhando fixamente para a câmera.

A foto é acompanhada por um artigo no qual a revista analisa, a partir de entrevistas com amigos, professores e vizinhos de Tsarnaev, "como um popular e promissor estudante (...) se transformou em um monstro".

"Nossos corações estão com as vítimas dos atentados da maratona de Boston", que deixou no último dia 15 de abril três mortos e mais de 280 feridos, informou a publicação em comunicado.

O artigo sobre Tsarnaev "se inscreve na tradição de jornalismo e o compromisso de longa data de 'Rolling Stone' com a cobertura séria e reflexiva das questões políticas e culturais mais importantes de nosso tempo", justificou a revista.

Além do entretenimento
Desde a primeira edição da “Rolling Stone”, em 1967, a revista já dedicou várias capas a assuntos não diretamente relacionados ao universo do entretenimento e das celebridades.

Em 1977, a revista revelou como oficiais de inteligência de Israel conseguiram urânio enriquecido de uma usina nuclear do Estado americano da Pensilvânia e sequestraram caminhões na Inglaterra e na França. Israel usou o material para desenvolver ao menos 15 bombas nucleares.

  • Reprodução

    Reportagem veiculada em 1977 sobre as bombas atômicas de Israel

Em 1985, quando a Aids ainda era uma doença misteriosa, a revista fez uma reportagem sobre a enfermidade, explicando como ela havia atingido a comunidade gay e prevendo que ela poderia se espalhar para o resto do mundo.

Em 2004, a revista destacou uma declaração de Robert F. Kennedy Jr. Alegando que republicanos conseguiram impedir a contagem de 350 mil votos democratas em Ohio, Estado-chave para a reeleição de George W. Bush.

Prefeito de Boston escreveu carta
Após a divulgação da capa de agosto, a página no Facebook da "Rolling Stone" se encheu de comentários, a maioria negativos e críticos com o que consideram uma glorificação por parte da revista de Dzhokhar, que supostamente colocou junto com seu irmão, Tamerlan, as bombas que explodiram na maratona de Boston.

  • Capa da "Rolling Stone" de agosto

"Jeff Bauman, que perdeu as pernas (nesses atentados), deveria estar na capa", diz um dos comentários postados no Facebook.

Outro opina que é "doentio que ninguém se importe com a morte de pessoas, pessoas reais com vidas e famílias" nesses atentados e que os editores da revista "só se preocupem em vender".

Grandes cadeias de lojas como CVS e Walgreens anunciaram que não venderão em seus estabelecimentos exemplares desta nova edição da "Rolling Stone" em rejeição à capa.

Por sua parte, o prefeito de Boston, Thomas Menino, pediu em carta à revista que publique histórias dos "valentes" sobreviventes dos atentados e dos médicos, enfermeiras, amigos e voluntários que lhes ajudaram.

O artigo sobre Tsarnaev, elaborado por Janet Reitman, revela que o jovem estava cada vez mais isolado nos meses prévios aos atentados e que uma vez sugeriu a um amigo de escola que acreditava que os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 podiam ser defendidos.

Dzhokhar Tsarnaev se declarou, no último dia 10 de julho, inocente de 30 acusações que poderiam condená-lo à morte.

O jovem permanece hospitalizado em uma prisão do estado de Massachusetts, onde se recupera dos ferimentos que sofreu durante uma espetacular fuga junto com seu irmão após os atentados, e deve comparecer de novo perante um juiz em setembro, antes que comece o julgamento.