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Figurinista em "Alô, Dolly!" e "O Mágico de Oz", Fause Haten dá as "receitas" de suas criações

Marília Pêra em cena com Miguel Falabella no musical "Alô, Dolly!", que tem figurinos de Fause Haten - Paula Kossatz/Divulgação
Marília Pêra em cena com Miguel Falabella no musical "Alô, Dolly!", que tem figurinos de Fause Haten Imagem: Paula Kossatz/Divulgação

Mariana Pasini

Do UOL, em São Paulo

22/03/2013 20h41

Criador do figurino de dois musicais em cartaz e dois que ainda estão para estrear, o estilista Fause Haten tem algumas "receitas" para a confecção das roupas que serão utilizadas nos espetáculos. Uma delas é a opção de não usar referências de montagens anteriores.

“Prefiro não ver. Me sinto mais livre”, conta o estilista em entrevista ao UOL. "Às vezes você pode até chegar no mesmo lugar [que o filme ou montagem anterior], mas prefiro chegar limpo, sem ter visto antes."

Outro segredo é a sua própria vivência como estudioso do teatro. Ao assistir aos ensaios, Fause utiliza sua visão interna de ator, reavivada desde que voltou a estudar artes cênicas em 2006. “Vejo de onde vem a luz, qual é o tamanho do palco e da plateia. Isso às vezes define o tamanho do xadrez que vou ter que usar para a protagonista, por exemplo.”

A primeira experiência de Haten como figurinista foi em 2010 para o espetáculo “O Médico e o Monstro”. Atualmente, suas criações podem ser vistas em “O Mágico de Oz” e “Alô, Dolly!”, ambos em cartaz em São Paulo. Para cada um, respectivamente, Fause criou cerca de 250 e 150 figurinos e estima que sua produção envolva 60 pessoas. Roupas para uma adaptação da história de Romeu e Julieta pela Turma da Mônica e um outro projeto com Miguel Falabella também estão em processo de produção.

Se em “Alô, Dolly!” os figurinos são mais homogêneos entre si, com vestidos e ternos marcados pela época em que o musical se passa – final do século 19 –, em “O Mágico de Oz”, a fantasia é que dita o corte dos modelitos. Fause criou desde o traje do Homem de Lata, feito de metal literalmente como o figurino manda, até os maiôs das flores soníferas, bordados com brilhantes e combinados com meias-calças verdes, inspirados em Las Vegas e no filme “O Mundo é um Teatro”. Tanto num musical quanto no outro, porém, a opção de Fause e os diretores foi “dar uma leve atualizada”. “Gosto muito do resultado, aproxima [o espetáculo] do público, deixa um pouco mais real”, comenta.

O estilista surpreendeu nesta quarta (20) durante a São Paulo Fashion Week, quando suas criações foram desfiladas não por modelos, mas por marionetes. Apesar de achar mais divertido criar para a passarela ou o teatro do que para desfiles, o designer diz não ter um preferido. “Quando você desenha para a passarela ou uma coleção, há uma cliente em vista. Você não sabe onde, como e com quem ela vai usar essa roupa. Costumo dizer que o trabalho do estilista é propor: é a pessoa [que usa a roupa] quem vai desenhar e definir. Já quando trabalha para o teatro, tudo isso já é desenhado: você sabe o que o ator vai viver, o que ele vai fazer e com quem, seus gestos.”

Fause explica que a primeira grande pergunta no desenho para musical, inclusive, é: que movimento os atores vão fazer? “O espaço de dança para 'Alô, Dolly!', por exemplo, era uma faixa estreita, eu não podia usar saias gigantescas, mas elas tinham que ter volume.” Uma das soluções encontradas foi o uso de armações maiores na parte das costas e laços, que dão a proporção da época, e de tecidos mais leves que rodam.

Na adaptação do conto infantil, os macacos voadores precisaram combinar cabos que os levantassem com suas vestes. “A roupa tem uma questão funcional, além da estética, e eu fico contrabalançando as duas”, diz Fause.

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A primeira grande pergunta no desenho para musical é: que movimento os atores vão fazer? A roupa tem uma questão funcional, além da estética, e eu fico contrabalançando as duas. Vou [a partir] da sensibilidade. É uma coisa meio que 'as ideias vão surgindo', não sei explicar muito.

Fause Haten, estilista e figurinista

Às vezes, como no caso de “O Mágico de Oz”, são necessários cuidados especiais como a contratação de um aderecista especializado em metal, outro em couro e outro em LED, este último para cuidar dos sapatinhos vermelhos de Dorothy, por exemplo, que têm iluminação especial.

Diferente de espetáculos de franquia em que os figurinos vêm iguais aos estrangeiros, Fause acredita que tem uma liberdade criativa em adaptações brasileiras. A sua Dorothy, ele ressalta, não tem a trança que talvez seria comum a uma criança nos anos 1940, mas os cabelos soltos. A passagem em que as flores fazem a protagonista e seus amigos dormirem também foi um exemplo curioso: o coreógrafo Alonso Barros queria trabalhar com leques. A saída: Fause criou “leques-pétalas” que são manipulados pelas atrizes em cenas.

Ainda assim, fica difícil definir os princípios norteadores de cada processo criativo. “Você dá vida ao que o diretor estava imaginando, mas não tenho um processo muito racional, eu vou [a partir] da sensibilidade. É uma coisa meio que 'as ideias vão surgindo', não sei explicar muito.”