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40 anos depois, os Dzi Croquettes estão de volta em nova formação

Nova formação dos Dzi Croquettes (2012) - Rafael Vilela FdE/Divulgação
Nova formação dos Dzi Croquettes (2012) Imagem: Rafael Vilela FdE/Divulgação

Rodrigo Monteiro

do UOL, no Rio

19/09/2012 12h45

Em 1972, 13 homens barbudos e peludos vestidos de mulher arrebataram o público, abalaram as estruturas sexuais das pessoas, quebraram tabus e fizeram sucesso ainda hoje lembrado no Brasil e no mundo. Quarenta anos depois, o grupo Dzi Croquettes ganha nova formação e se prepara para voltar à cena. No próximo dia 26 de outubro, às 23h, o espetáculo “Dzi Croquettes em Badália — Um musical eletrônico” estreia no Teatro do Leblon, no Rio de Janeiro. Nesta quarta (19), para marcar o aniversário da primeira apresentação, haverá uma festa de comemoração no Teatro Odisséia, na Lapa, no Rio de Janeiro.

Eu tinha 17 anos quando me emancipei para poder participar do Dzi.

Ciro Barcelos, membro original do Dzi

O autor, diretor e coreografo Ciro Barcelos, da formação original, contou, em entrevista por telefone ao UOL, que dar nova vida ao grupo, que foi comandado pelo lendário coreógrafo americano Lennie Dale, não foi fácil. 400 candidatos passaram por testes de dança, canto e interpretação. “Eu tô mexendo no meu baú. é uma emoção muito grande. Eu tinha 17 anos quando me emancipei para poder participar do Dzi. E participei muito também observando o trabalho do Lennie, o pai, o coreográfo, e o do Vagner (Ribeiro), a mãe, o autor dos quadros, o cérebro pensante do grupo. Às vezes, vendo os ensaios, eu me vejo sendo agora o pai e a mãe do grupo. Foi a minha escola”, contou Barcelos, que também atua como jurado do quadro "Dança dos Famosos". No novo espetáculo, Ciro é assistido por Kiko Guarabira e por Eliane Carvalho nas criação das coreografias.

De acordo com Barcelos, “Dzi Croquettes em Badália — Um musical eletrônico” não é um remake das produções do Dzi original, mas um novo espetáculo do Dzi que continua sendo original. "Alguns atores invadem uma garagem abandonada e decidem ocupar o espaço depois de ter assistido ao documentário sobre o grupo, realizado em 2009 por Tatiana Issa e por Raphael Alvarez. Sem dinheiro, eles resolvem abrir um cabaret clandestino para manter aberto o seu teatro e se sustentar. Com rock in roll e outro estilo de movimento, o humor ácido vai surpreender quem está acostumado à leveza comum das comédias que estão normalmente em cartaz", antecipou. 

Agora uma coisa eu me pergunto: quarenta anos depois, estamos aqui, juntando paninhos para fazer os figurinos, sem patrocínio, sem empresas que se unam ao projeto. Será que é preconceito? Será que isso continua?

Claudio Tovar, membro original do Dzi

O ator Cleiton Morais, que não conhecia o antigo grupo, está encantado com os ensaios, orgulhoso por participar da nova formação.“O espírito do Dzi continua. Sou o Cleiton, mas o Cleiton Dzi, “com a força do macho e a graça da fêmea”. Mas, claro, hoje o mundo está diferente, o impacto é outro. O novo espetáculo vai contar com brincadeiras sobre política, o repertório musical vai trazer a batida eletrônica para vários ritmos, é diferente”, relata.

Os andróginos Dzi Croquettes foram um símbolo da contracultura da mudança, da transformação social, da quebra de tabus. Os sapatos de salto alto e as roupas femininas propositalmente exibiam as pernas cabeludas e a barba cultivada pelos homens do grupo. O figurino da nova produção será assinado por Claudio Tovar, outro membro da formação original. “Aquilo era uma forma de afrontar aquele sistema militar homofóbico”, afirma Ciro Barcelos.

“A ideia, e o mérito, de remontar é toda do Ciro e veio depois do documentário. O grupo é muito famoso. Não tem um dia que eu não falo sobre o Dzi e é sempre com muito carinho que eu falo sobre essa parte importante da minha vida. Agora uma coisa eu me pergunto: quarenta anos depois, estamos aqui, juntando paninhos para fazer os figurinos, sem patrocínio, sem empresas que se unam ao projeto. Será que é preconceito? Será que isso continua? A dificuldade de produzir continua a mesma”, lamentou Tovar, que é marido da atriz Lucinha Lins há 29 anos.

Na festa dos quarenta anos, haverá pequenas amostras do que vai ser o espetáculo, além de exposição de alguns figurinos originais e fotos inéditas. Benedito Lacerda, Bayard Tonelli, além de Tovar e Barcelos, também estarão presentes. Na divulgação do evento, consta o aviso de que quem tiver o melhor “figurino DZI” ganhará prêmios. A festa será animada pelos DJs Tatah Toscano, João Fernando e Leonardo Gattuso.