"Já fiz grosserias em prol da gargalhada, mas aprendi", diz Jorge Fernando, em cartaz com peça sobre sua vida no Rio
Há anos, o ator e diretor Jorge Fernando, de 56 anos, tinha vontade de montar um espetáculo sobre sua vida. Em 2012, ele realizou o desejo ao estrear “Salve Jorge” no Teatro dos Quatro, na zona sul do Rio. A peça reúne vários momentos da vida pessoal e profissional de Jorginho – como é conhecido no meio artístico. Da infância no subúrbio carioca até a entrada para as novelas da Globo como ator e, mais tarde, como diretor, tudo é relatado pelo próprio na peça. Com noventa minutos de duração, a produção tem ares de show, com direito a telão, cenário caprichado e interação com a plateia. “Gosto de fazer show: com cortina, cenário, fogos... Fiquei 12 anos em cartaz com ‘Boom’, que foi visto por mais de um milhão de pessoas. Sou um dos dinossauros do stand up”, afirmou ele, em entrevista exclusiva ao UOL.
No camarim do teatro – onde fica uma hora se concentrando antes de entrar no palco para apresentar o monólogo –, Jorginho falou sobre a peça, o humor feito no Brasil atualmente, seus futuros projetos e até mesmo o que fez para emagrecer 20 quilos em um ano. “O humor tem que ser livre, sem censura. Mas acho que cada um tem que ter o seu limite. Já fiz grosserias em prol da gargalhada, mas aprendi”, afirmou ele, que em julho já começa a dirigir o remake da novela “Guerra dos Sexos”, de Silvio de Abreu, na Globo. “Por isso só vou ficar em cartaz com a peça até maio. Aí paro, faço a novela e, quando ela acabar, estreio ‘Salve Jorge’ em São Paulo”, adiantou.
Leia, a seguir, a entrevista completa com Jorge Fernando:
UOL – Como você definiria “Salve Jorge”?
Jorge Fernando – A peça conta resumidamente a história da minha vida. Ela tem uma hora e meia de duração. Depois de uma hora e meia, toca uma sirene e sou expulso do palco [risos]. A cada dia tenho um material bruto grande. Tem cenas que faço alguns dias que não ensaiei direito. Aí faço uma vez e percebo que não gostei. Tenho uma liberdade bem grande para improvisar, apesar de o espetáculo ser todo amarrado por cenas. Há várias deixas de vídeos e de música. Ao mesmo tempo, estou bem livre no que costura essas cenas. Tem um início meio armadinho, mas aí saco o tipo de público e, dependendo dele, vejo se conto uma história mais de sacanagem ou de espiritualidade – se tem muitas senhoras no teatro [risos].
UOL – Então o espetáculo varia de acordo o público?
Jorge Fernando – A peça nunca vai estar pronta. Tem as histórias que dão mais certo sempre e as outras que ainda estou testando. De repente, falo em um dia e a história é boa. Desde a estreia, cada dia veio uma pessoa diferente: já teve Claudia Raia, Marília Pêra. Cada pessoa que bato o olhar, se tiver uma história interessante, vai ser só naquele dia, entendeu?
Comia macarrão com queijo ralado à noite, de madrugada. Agora não. Quando acaba a peça, por exemplo, não janto, tomo só um suco. Como tudo, mas em menor quantidade.
UOL – Como você fez para editar esse apanhado de relatos sobre sua vida pessoal e profissional?
Jorge Fernando – Estou há um tempão fazendo isso. “Boom” ficou 12 anos em cartaz porque sempre fiz novela e filme junto. Nas folguinhas fazia o espetáculo. E me deu vontade de fazer uma peça com a mesma cara de “Boom”. Cheguei a pensar em um livro, mas achei a peça melhor. “Salve Jorge” é para quem viu “Boom” e gostou. Nele, consegui manter os aplausos de três em três minutos, aquele ritmo de show de “Boom”. Só que agora conto coisas mais sérias, que é a minha vida, né? O “Boom” tinha um personagem que partia para o absurdo. Aqui sou eu, por isso começo do zero, sem maquiagem, para não mentir nem para mim.
UOL – E por que o nome “Salve Jorge”?
Jorge Fernando – Meu nome é Jorge por causa de São Jorge. Aliás, começa a peça com uma homenagem para ele.
UOL – Como tem sido resgatar lembranças desde a infância no subúrbio até a época em que entrou para a Globo?
Jorge Fernando – É engraçado porque, a cada apresentação, me emociono em um trecho diferente. Dependendo do que penso, de alguma coisa que aconteceu na semana ligada àquela pessoa de que estou contando a história. Já me emocionei quando falei da morte do meu pai, falando de quando comecei no teatro. Tem momentos que esqueço que estou em cena. E tem outros em que tenho o domínio do sentimento. Mas tem horas em que o sentimento extrapola.
UOL – Em “Boom”, você colocava o bumbum de fora para a plateia. Em “Salve Jorge” também?
Jorge Fernando – Agora a b... de fora fica para o meu bonequinho. É que a minha b... caiu [risos].
UOL – Você emagreceu 20 quilos em um ano. O que fez para perder tanto peso?
Jorge Fernando – Na verdade, fiz uma mudança alimentar. Comia macarrão com queijo ralado à noite, de madrugada. Agora não. Quando acaba a peça, por exemplo, não janto, tomo só um suco. Antes da peça como normalmente. Como tudo, mas em menor quantidade. Tomo coca-cola, como pastel e até doce, se me der vontade. Estou com 72 quilos. Agora preciso malhar para pegar massa. Porque depois dos 55 anos cai tudo [risos].
UOL – Além da peça, você está com outros projetos?
Jorge Fernando – Vou lançar o filme da minissérie “Dercy De Verdade” e em julho começo a dirigir o remake de “Guerra dos Sexos” na Globo. Por isso só vou ficar em cartaz com “Salve Jorge” até maio. Aí paro, faço a novela e, quando ela acabar, estreio em São Paulo.
UOL – O que você acha dos humoristas brasileiros da atualidade, especialmente dos que fazem stand up? Acha que, às vezes, eles extrapolam os limites do bom senso em nome da gargalhada?
Jorge Fernando – Gosto de fazer show: com cortina, cenário, fogos... Fiquei 12 anos em cartaz com ‘Boom’, que foi visto por mais de um milhão de pessoas. Sou um dos dinossauros do stand up. Para mim, o humor tem que ser livre, sem censura. Mas acho que cada um tem que ter o seu limite. Já fiz grosserias em prol da gargalhada, mas aprendi. Já tive processo, já joguei uma garrafa d´água na cabeça de um garçom. Deu a maior m.. Não devia ter feito. Mas na hora, mil pessoas me assistindo, fiz. Você “se sente” e só pensa depois. Acho que tem muita coisa que sai sem filtro. Se o exercício é fazer rir você tem que pensar junto com o que está falando. Senão sai armado e o público já não ri. O mundo mudou, ficou mais rápido. Tanto que no seu dia, antigamente, acontecia uma novidade. Agora acontecem milhões. Você pode se apaixonar duas vezes no mesmo dia [risos]. A coisa ficou muito imediata. O entendimento do público é mais rápido. Agora você dá um subtexto e eles sacam. Acho que o stand up ajudou o público a ter essa visão humorada do cotidiano.
"SALVE JORGE"
Onde: Teatro dos Quatro (Shopping da Gávea – Rua Marquês de São Vicente, 52)
Quando: de 20 de janeiro até 29 de abril (sextas e sábados, às 21h ; domingos, às 20h). Nos dias 17, 18 e 19 de fevereiro não haverá peça por causa do Carnaval. As apresentações serão retomadas a partir do dia 24 de fevereiro
Quanto: R$80 (inteira) e R$40 (meia)
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