Serginho Groisman chega aos 70 com a disposição dos 30 e uma conexão única com os jovens na TV
Do UOL, em São Paulo Marcel Lisboa/UOLAs camisetas básicas e as calças jeans podem não entregar, mas Serginho Groisman acaba de chegar aos 70 anos —com a disposição de quem acabou de começar. São quase 40 anos na TV, em que o apresentador fez grandes entrevistas, promoveu ótimos shows e deixou sua marca registrada: uma ligação única com o público jovem, com quem fala como ninguém.
Não tem TikTok ou pandemia que atrapalhe: Serginho continua sendo um ícone. E não pretende parar tão cedo.
Serginho não é o único a comandar um programa destinado ao público jovem na TV aberta. Mas, sem dúvida alguma, é o mais representativo. É quem mais repercute, quem mais chama a atenção e quem tem mais audiência. Esse diferencial —hoje na programação da Globo— veio com um "modelo pronto". No SBT, o "Programa Livre" era o exemplo claro de atração que a emissora carioca gostaria de ter.
Hoje, a concorrência de Serginho não está mais na TV aberta, mas na internet: Instagram, TikTok, YouTube e outras plataformas chamam a atenção do público jovem. Nada, no entanto, que preocupe o apresentador.
"Caso eu fosse da idade jovem e estivesse com a curiosidade que sempre tive, eu iria procurar a TV aberta para informação. Claro que, na internet, principalmente nos portais mais confiáveis, a gente tem informação imediata também. Mas, por exemplo, o 'Jornal Nacional' aumentou de tempo, né? Chega a ter uma hora e meia [de duração]", frisa o apresentador em entrevista ao colunista do UOL Maurício Stycer.
Serginho tira muito de seu jogo de cintura de sua própria juventude. Ele foi um adolescente curioso e cheio de atividades extracurriculares no famoso Colégio Equipe, em São Paulo, de onde saíram artistas como Titãs e o cineasta Cao Hamburger.
Era uma Torre de Babel, e eu lá no meio. Acho que essa minha proximidade com grupos diferentes na escola, e com a classe artística levando eles para cantar, foi o que meio me detonou essa possibilidade de ir para os meios de comunicação fazer jornalismo.
A primeira vez que o Skank se apresentou foi comigo, a primeira vez que o Charlie Brown Jr. se apresentou foi comigo, a primeira vez que o Nação Zumbi se apresentou em televisão foi comigo. E assim por diante. A gente vai trocando ali, no meio de outras coisas, e algumas pessoas são agradecidas. Isso já é muito bom.
Serginho chegou à televisão no final dos anos 1980, quando dirigiu e apresentou o "TV Mix", da TV Gazeta. Mas nada que se comparasse ao que ocorreu nos anos 1990, quando passou a comandar um programa que, curiosamente, chamava-se "Matéria Prima", na TV Cultura, onde interagia com uma plateia formada por jovens.
O formato durou pouco na emissora, mas foi rapidamente transferido para o SBT e, em 1991, Serginho estreou o "Programa Livre".
O "Livre" é visto como um dos marcos da televisão brasileira, uma das primeiras atrações de auditório voltada para o público adolescente, com assuntos e atrações de seu interesse.
No palco, eram feitas entrevistas com artistas, realizadas gincanas, e a plateia participava a todo momento. A atração se destacou por elevados índices de audiência e por quadros então vistos como inovadores na televisão, como o "Beijo, Abraço ou Aperto de Mão", um dos primeiros a promover encontros de casais.
Mudou a minha vida, porque tive que fazer as escolhas que me possibilitaram ser uma profissional séria, responsável e que precisa se perdoar quando não dá conta de tudo.
Babi assumiu definitivamente a atração em 2000, após um rodízio de apresentadores. Ela vinha do "MTV Erótica", um programa que se destacou por falar abertamente de sexo na televisão. Foi procurada por um executivo do SBT que falava em nome de Silvio Santos e, quando percebeu, já estava em outra emissora.
Apesar de não ter tido chance de se encontrar com Serginho na época, Babi reforça a admiração profunda que nutre por ele.
Senti imensa responsabilidade, mas tinha 24 anos e, nessa idade, somos ousados e temos fôlego para os acertos e aprendizados. Eu sabia o que estava assumindo, o que estava herdando em termos de expectativa pública e do mercado.
Não dá para dizer que fiz um trabalho de pesquisa sobre o jeito do Serginho de apresentar. Ele é único! Fui fazendo o meu com muita honestidade, no meu momento de vida, e fui seguindo.
Meu sonho seria uma mente brilhante e de vanguarda, como a do Sérgio, para realizar um novo programa, muito livre, nos dias de hoje, com tantas vozes precisando ser ouvidas.
Serginho ajudou a popularizar a italiana por aqui, e ela até deu uma palinha em português no "Livre". Maravilhosa, né?
A colombiana, então uma estrela em ascensão, foi ao palco de Serginho par cantar "Estoy Aqui", e voltou várias vezes depois.
Serginho recebeu o Kiss no programa e deu um parabéns para Gene Simmons, aniversariante do dia. A resposta? "Obrigado, sua bunda é linda."
O músico AMA o Brasil e, nos anos 1990, fez muitos fãs gritarem no palco do "Livre" enquanto cantava sucessos como "Living on a Prayer".
É difícil pensar em um apresentador que já tenha recebido famosos tão diferentes em seus programas. Serginho vai de Ivete Sangalo a Kiss, de Anitta a João Carlos Martins, de Laura Pausini a É o Tchan... E tudo bem!
Ele entendeu a importância de abraçar a música popular quando recebeu no "Matéria Prima" o cantor Ovelha, que fez sucesso nos anos 1980 com "Te Amo, o que Mais Posso Dizer?".
Com o tempo, fui percebendo que o importante não é quem você convida, mas o que você faz com o convidado. O que você extrai desse convidado. Porque, às vezes, tem histórias muito interessantes com convidados que são muito populares e que não são extraídas.
Mas a história de Serginho com os artistas começou bem antes, nos anos 1970, quando ele produzia shows no Centro Cultural Equipe —sim, do mesmo colégio em que estudou. Ele levava os artistas que não podiam se expressar, por conta da ditadura militar. No dia das apresentações, ia buscar os convidados em casa com seu fusca branco.
No meu fusca foram, em um dia só, Cartola, Nelson Cavaquinho, Delegado, Dona Zica e Clementina, todos amontoados ali. Peguei Gil, Caetano, João Bosco, Walter Franco. Conheci Luiz Melodia, conheci os Novos Baianos. Então, isso vem de quando eu tinha 20 e poucos anos, essa minha relação com os artistas.
O resto é história, e ninguém acha estranho que, mesmo em plena pandemia, Serginho tenha conseguido reunir, para um "Altas Horas" especial de aniversário (a distância, claro) um time com nomes como Cauã Reymond, Tony Ramos, Taís Araújo, Lázaro Ramos e Sandy.
Os 70 anos de Serginho vêm no mesmo ano de outro aniversário especial: o de duas décadas do "Altas Horas". Sim, já são 20 anos do programa, que anima as noites de sábado da Globo.
O programa passou por várias reformulações, ao longo do tempo. Uma logo no começo, antes mesmo da estreia: o apresentador queria que a atração fosse exibida ao vivo, da meia-noite às 4h, mas acabou desistindo para não prejudicar sua plateia.
Vejo pessoas que vêm ao programa, elas dirigem 14 horas, sabe? Dirigem não, elas vêm de ônibus. Quatorze horas, 15 horas, depois voltam no mesmo dia. Vêm só para assistir ao programa. Imagina fazer um programa da meia-noite às 4h? Ia ser absurdo.
Outro acerto? O quadro de educação sexual apresentado por Laura Muller, que tira dúvidas de adolescentes e até de famosos. A sexóloga, aliás, é só elogios ao apresentador.
A minha experiência de trabalho com o Serginho é a melhor possível. Ele criou esse quadro tão bacana, e eu adoro fazer, acho fundamental para a gente poder trabalhar com qualidade a educação sexual. Eu só tenho a agradecer ao Serginho e parabenizá-lo por todo esse trabalho, essa criatividade e essa jornada incrível que ele tem.
Bem direta, Simone se empolgou com a presença de Laura Muller e perguntou: "Eu queria saber se tem alguma forma que facilite a gente 'dar a roda'". A plateia caiu na gargalhada, a sexóloga foi pega de surpresa, e a internet ama o causo até hoje.
Lá em 2014, Anitta e Pitty fizeram um debate no programa. Anitta disse que algumas mulheres "não se respeitam", e Pitty explicou as diferenças de como homens e mulheres são tratados. A discussão causou na web, mas Pitty fez questão de dizer que não foi uma briga.
A maior parte da vida de Serginho se deu sob os holofotes. Talvez por isso surpreenda como o apresentador conseguiu manter tanta privacidade em torno de sua família —ele é casado com a dentista Fernanda Molina e tem com ela um filho, Thomas, de cinco anos.
Apesar disso, ele reconhece que a exposição é inevitável.
Quando você se torna alguém que as pessoas conhecem, não dá para falar em privacidade absoluta, mas dá para falar no desincentivo ao culto da tua personalidade, vamos chamar assim.
O apresentador reforça que sempre tentou proteger o filho.
Tento evitar ao máximo essa exposição. Acho que, de modo geral, os pais têm essa preocupação grande. Agora, quando eu me tornei pai, virou realmente uma coisa curiosa. Eu demorei tanto porque eu queria ter certeza de um monte de coisas. Essa relação com o tempo é engraçada para mim, porque não consigo projetar muito o futuro. E sempre foi assim.
Serginho conta que foi justamente em seu "não planejamento" que acabou conhecendo a mulher. Ele apresentava o programa "Ação", nas manhãs da Globo, que falava sobre educação e o terceiro setor.
Ela andava pela Amazônia, dentista e preocupada com amamentação, trabalhando com as comunidades ribeirinhas e os índios. E veio com essa coisa da amamentação, que ela sempre quis amamentar, e a gente se casou.
Apesar de evitar projetar o que virá pela frente, ainda mais em tempos tão conturbados, Serginho tem uma certeza sobre o que os próximos anos trarão:
Meu futuro agora é com meu filho. Minha mulher, meu filho, isso eu penso do futuro. Penso muito. Penso no futuro dele. A gente está há 90 dias juntos e tem sido, nesse sentido, muito maravilhoso. Essa convivência muito, muito especial.
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