Falando em jornalismo, vi que você criticou duramente Glenn Greenwald no Twitter...
Não sei dizer sobre o papel que ele desempenha no Brasil, minha questão é como ele pratica jornalismo. Eu fazia o trabalho dele, e eu não era enviesado. Eu não formatava meu trabalho para se encaixar na minha visão política. Às vezes, o que eu reportava poderia até ser gratificante.
Para deixar claro, eu sou de esquerda, mas houve momentos em que tive que reconhecer fatos que se opunham à minha posição política. E fiz isso porque não reportava os fatos de maneira enviesada.
Acho que, a esse respeito, Glenn Greenwald se revelou. O fato está em segundo plano. Ele é seletivo e culpado por grandes omissões. Tenho certeza que ele é um cara gente boa, mas se você me perguntar sobre o jornalismo que ele faz, eu tenho pouca consideração por ele.
E você passa o dia todo tretando no Twitter. Aquilo é um personagem?
Só uso para me divertir, é apenas uma performance. É um meio que não serve muito para discussões sérias, há mídias melhores para isso. O Twitter está lá para provocações, para fazer humor e para linkar o que está mais bem escrito em outro lugar.
Normalmente, uso o Twitter quando estou em trânsito e não tenho nada para fazer, estou no banco de trás de um carro ou quando estou no set esperando a preparação das luzes... nesse meio tempo, sou capaz de ser tão provocativo no Twitter como qualquer um. Quando tenho que voltar ao trabalho, desapareço.
Aliás, como o jornalismo te preparou para fazer séries dramáticas?
Não acho que o jornalismo tenha me preparado para uma carreira na TV. E eu nunca estudei Cinema ou coisa do tipo, nunca treinei para isso e não tinha planos de me tornar um dramaturgo. Meu livro ("Homicide: A Year on the Killing Streets") acabou adaptado para a TV por acidente. A produção de"Homicide" veio para Baltimore, eles filmaram, e eu acabei me envolvendo nos roteiros.
A partir daí, passei a prestar atenção, e isso ajudou bastante. As coisas que eu admiro no jornalismo são as coisas que eu tento replicar no meu trabalho como dramaturgo. Mas isso não vai atingir as massas. Por isso, não sou bem um modelo de como fazer TV, eu faço este tipo de TV porque não quero fazer nenhuma outra coisa.
E tipo, se eu posso ter um pouco de segurança para fazer isso, eu fico feliz. Mas não é como se o que eu faço fosse replicável de alguma maneira que pudesse garantir uma audiência, ou mesmo inimigos ou qualquer uma das métricas que as pessoas associam à TV, porque eu não tenho um público grande.