Poderia ser uma quinta-feira qualquer, mas naquele dia, no hospital, a enfermeira me avisou que iria passar uma criança bem debilitada em direção à UTI. Por trás da minha máscara, consegui observar os olhinhos atentos e vi que ela estava carequinha. Nessa hora entreguei a touca do Flash e disse que ele ia se recuperar tão rápido quanto o superpoder dele. Me despedi. Fomos para outros quartos, mas acabei voltando para falar com ele. Miguel. Voltei.
Dava para ver que ele queria mais, queria falar mais. Me entreguei. Parece que a gente pega pedaço nosso e entrega para criança.
Me despedi desse garotinho quatro vezes. Mas eu ia e voltava. Eu queria fazer mais. Queria dar mais. Queria tentar fazer algo pro dia dele ficar melhor. Ali me desliguei do personagem. E foi triste. Tive tempo para pensar. E a gente se cobra porque às vezes não é suficiente. Desmoronei. No outro dia fizemos outro evento e recebemos a notícia que ele tinha ido embora. Ao chegar no outro evento vi a mãe do Miguel, com a touca que demos para ele. Ela foi até lá agradecer a gente pelo dia que ele teve.
Ele passou o último dia dele com o Flash.