O começo do fim

Arya e Sam de "Game of Thrones" contam como o final da série foi "libertador"

Beatriz Amendola Do UOL, em São Paulo Manuela Scarpa/Brazil News

Maisie Williams tinha 12 anos quando foi escalada para interpretar a destemida Arya Stark em "Game of Thrones", o épico de fantasia da HBO que se tornaria uma obsessão internacional. Em 2019, quando estreia a oitava e última temporada da série, ela terá passado dez anos --quase metade da sua vida-- envolvida com o trabalho que a levou ao estrelato. 

Dizer adeus a uma experiência dessas não é fácil. Tanto a atriz quanto seus colegas vêm passando por um processo que transita entre o luto e a liberdade que vem com a possibilidade de buscar novos trabalhos e fazer coisas tão corriqueiras quanto cortar ou pintar os cabelos.

E tudo isso enquanto dividem a responsabilidade de manter em segredo absoluto os detalhes do final de "Thrones", o mais aguardado da TV em anos.
 

Manuela Scarpa/Brazil News
Jeff Spicer/Getty Images

Mudança nos cabelos

"Eu pintei os cabelos de rosa", diz Maisie ao UOL, ao ser questionada sobre como está lidando com o iminente fim da série, cujas filmagens se encerraram em julho. "São pequenas coisas. Eu e Sophie [Turner, a Sansa] fizemos tatuagens. Nós estávamos sob contrato há tantos anos, e foram anos muito definitivos de crescimento. As pessoas superam esse tipo de coisa pintando o cabelo de rosa", acrescenta, brincando.

Irmãs em frente às câmeras e melhores amigas nos bastidores, Maisie e Sophie já haviam tatuado a data em que entraram para a produção, o dia 8 de julho de 2009. Mas, desde o fim das filmagens, cada uma delas gravou a série na pele de outras formas. Maisie eternizou a expressão "no one" (ninguém), enquanto Sophie desenhou um lobo, símbolo da casa Stark, acompanhado da expressão "the pack survives" (a alcateia sobrevive). 

"Geralmente as pessoas fazem isso com 15, 16 anos, mas eu não podia, então estou fazendo agora. São coisas da vida que não pudemos fazer por muito tempo, e agora estou fazendo tudo de uma vez. Tem sido muito divertido e libertador", define a atriz, momentos antes de apresentar na CCXP 2018 (Comic Com Experience), em São Paulo, um painel com o colega John Bradley-West, o Samwell Tarly, e os criadores da produção, David Benioff e Dan Weiss. 

John, ao lado de Maisie, compartilha da sensação de liberdade. Ele não era tão jovem quanto a atriz quando entrou na série --já tinha 21 anos--, mas também encontrou em "Thrones" seu primeiro trabalho na TV. "É muito intenso. A série se torna uma grande parte do seu trabalho; talvez a melhor parte, a joia da coroa.

Mas você quer fazer mais coisas, crescer como um ator e não ser só um ator de 'Game of Thrones', mas um ator que fez 'Game of Thrones' e muitas outras coisas da qual pode se orgulhar.

O que os colegas já falaram sobre a despedida

Fiquei bem emotivo na última semana pensando sobre ter acabado de gravar a série. Foi uma jornada incrível. Eu disse no meu discurso de encerramento para a equipe que sempre foi mais do que um emprego. Eles eram minha família, e a série era minha vida. Eu amei cada minuto dela.

Kit Harington, o Jon Snow

Deixar a Sansa e as pessoas para trás é como um divórcio, uma morte na família. É muito emotivo, mas a gente continua adiando a obrigação de dizer 'adeus'. Ficamos pensando: 'Não vamos dizer agora, vamos dizer na pré-estreia, ou na Comic-Con'. Vamos acabar nunca nos despedindo.

Sophie Turner, a Sansa

Foi muito triste. Esta não é só uma grande série da qual temos que nos despedir, mas também uma enorme família que formamos. Acabei formando raízes na Irlanda e nos países onde filmamos. Foi difícil se despedir porque não era só uma série, e sim uma vida que eu construí por lá.

Peter Dinklage, o Tyrion

Divulgação

Acabou mesmo?

Para os dois atores, no entanto, a série ainda não acabou totalmente. Faz sentido, já que a oitava temporada só estreia em abril e, até lá, equipe e elenco ainda terão uma extensa agenda de divulgação para cumprir, com viagens, entrevistas e premières. 

"Quanto mais falamos sobre isso, mais obcecados ficamos", conta Maisie. "O negócio é que, quando você acaba de filmar, é como se você se libertasse de apenas uma das várias partes de algo. Estamos aqui, agora, temos pela frente muitos compromissos da série. Mas quanto mais falamos sobre isso, mais começo a perceber que acabou".

"Mas você mantém isso vivo também", completa John. "Nós temos uma desculpa para ir a eventos e continuar nos vendo. Temos muitas coisas para fazer ainda, e estamos muitos felizes em ir a esses lugares e manter a comunidade que criamos". 

O fim (e os segredos)

Divulgação Divulgação

Tanto Maisie quanto John estão proibidos de contar qualquer coisa que acontece nos novos episódios de "Game of Thrones". Ambos podem, porém, revelar como se sentiram ao ler a conclusão da saga baseada nos livros "As Crônicas de Gelo e Fogo", de George R. R. Martin. 

"Satisfeito" é a palavra escolhida pelos dois atores para descrever a sensação. E John deixa escapar uma comparação com o sombrio Casamento Vermelho, que acabou com a morte de vários Starks na terceira temporada.

"Muitas séries foram ótimas, mas têm fins que não se justificam. Acho que o da nossa série é bom", diz o ator. "'Game of Thrones' nunca deu às pessoas o que elas querem, ou o que elas acham que querem. É uma série sempre desafiadora. Ninguém queria que Robb Stark morresse porque era doloroso, mas nós fizemos isso porque era difícil e desafiador. O fim [da série] não é um fim que as pessoas esperam, mas é um fim satisfatório". 

O ator jura de pés juntos que não revelou a ninguém de seu círculo como a série termina, e diz se sentir responsável por ajudar a guardar os segredos. "A série é muito importante para nós, e encerrá-la do jeito certo também é muito importante. Então nós guardamos esse segredo com as nossas vidas. Sabemos como as pessoas vão se sentir com o final, e sabemos que será uma montanha-russa emocional." 

Com a proximidade da estreia, entretanto, a paciência encurta. "Estou um pouco impaciente para as pessoas verem, porque eu sei que eles vão amar", admite.

Maisie revelou o final para uma pessoa: sua mãe. "Quando eu comecei na série, minha mãe lia os roteiros. Então eu avisei quando peguei esse último. Ela disse: 'Posso ler?'. E eu falei: 'Não'. Mas depois entreguei para ela. É legal conversar com ela sobre isso".

O melhor? A mãe da atriz aprovou. E isso é uma boa notícia, na opinião de John: "É um belo teste, o teste familiar". 

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