Nosso calendário oficial tem data especial para tudo. E hoje, 2 de setembro, a gente comemora o dia do repórter fotográfico. Aquele que traduz em imagens as reportagens e notícias que você lê. Saudosos de shows que estamos —vem, vacina!— e imbuídos do espírito "recordar é viver", reunimos as melhores fotos de shows feitas pelos fotógrafos que colaboram com o UOL nessa jornada. Aqui, as imagens são o foco, mas não só: também contamos para vocês as histórias por trás de cada cliques.
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Fui pautado para cobrir o show do Black Sabbath, no Campo de Marte, e pensei: "minha chance de ter as fotos de uma banda que comecei a ouvir aos 11 anos de idade". Geralmente, em shows grandes, a produção organiza a cobertura fotográfica perto da mesa de luz e som, bem distante do palco, num pequeno espaço reservado praticamente no meio do público. Pelo que eu havia entendido, esse show seria dessa forma. Levei uma lente 300mm, um duplicador e uma lente grande angular. Pela distância que calculava, esse equipamento estaria ok. Cheguei uma hora antes, peguei a credencial que me dava acesso a espaços que o público não pode entrar, e fui informado que as fotos seriam feitas do fosso em frente ao palco, durante as três primeiras músicas. Achei ótimo, claro.
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Minutos antes de a banda subir ao palco, nos posicionamos. O fosso não tinha muito recuo, e a lente que levei era muito fechada. "War Pigs" abriu o show, levei um tempo para encontrar um posicionamento bom. Tentei tirar algumas fotos com o duplicador. Retirei. Era muito fechado. Parti para fazer detalhes dos músicos: o palco era muito alto, mas bem próximo.
Ainda bem que a música é longa? tão longa que um dos responsáveis por acompanhar os fotógrafos no final da primeira música já queria nos tirar do fosso. Ele alegava que, pelo tempo, a banda já tinha tocado as três músicas previstas no acordo. Não conhecia o Black Sabbath, com certeza.
Colabora com o UOL desde 2009.
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O entorno do palco sunset do Rock in Rio 2019 rapidamente foi tomado pelo público, afinal lá estava Elza Soares trazendo junto consigo toda a sua arte e as muitas questões sociais e de luta contra o racismo que marcaram sua vida e sua carreira. Nove dias antes daquele 29 de setembro em que Elza pisava no palco, a menina Ágatha Félix, de 8 anos, perdia a vida quando voltava para casa com a mãe, no Complexo do Alemão, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Mais uma vida negra era ceifada por arma de fogo no Brasil. Elza fazia de sua voz um manifesto a todas essas narrativas históricas de violência. Acredito que nós, que trabalhamos contando histórias através de imagens, precisamos sempre nos deixar afetar para buscar fotografias que representem aquele instante.
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Duas pessoas de braços erguidos, dois cartazes: "Sonhos negros importam" e "Black Lives Matter". Era a síntese da voz de Elza e da voz de tantos. A imagem viralizou na internet e me deu a possibilidade de poder trocar palavras com Pablo Hércules, que segurava um dos cartazes com o seu manifesto. Hoje espero a pandemia passar para quem sabe poder encontrá-lo em São Paulo para entregar essa imagem impressa e saber olhando nos olhos dele um pouco mais sobre essa história. É a forma de devolver o instante que ele me cedeu ao ter fotografado aquele show.
Repórter fotográfica, colabora com o UOL desde 2017
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Um dos shows de rock mais originais, tumultuados, autênticos e caóticos que já registrei em 25 anos de profissão: Mr. Iggy Pop. E talvez duas das mais inusitadas imagens que fiz em shows saíram dali. Estava cobrindo o festival Claro q é Rock, em 2005, pelo UOL e depois de fotografar uma sequência de shows, aguardávamos a atração principal da noite no fosso, entre o público e o palco. Mas, diferentemente de todos outros festivais, dessa vez o fosso era elevado, quase da altura do palco. Por um lado estávamos muito perto do palco e poderíamos ter boas imagens, por outro, atrapalhávamos o público que estava na pista. Rapidamente nos tornamos alvos de bolas de lama, copos de cerveja e cusparadas.
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Em apenas três músicas tudo aconteceu. Iggy Pop entra em palco ensandecido, correndo de um lado a outro do palco, simulando fazer sexo com a caixa de som e levando o público ao delírio. Em meio a bolas de lama e urina que atingiam as nossas costas, corríamos de um lado para outro do fosso buscando registrar a loucura do Iggy Pop. De repente, um dos fotógrafos que estava entre nós simplesmente pula no palco, abaixa a câmera e canta junto com Iggy um dos seus maiores sucessos: "1969". A cena surreal do então jovem fotógrafo/fã cantando em meio àquela loucura toda culminou no Iggy Pop deixando o microfone de lado e dando uma apertada no nariz do rapaz. Uma cena hilária e surreal que instigou Iggy Pop a deixar o palco e pular em nossa direção. Eu, coberto de lama e cheirando a urina estava com a adrenalina a mil, enquanto Iggy vinha em minha direção absolutamente enlouquecido. Já bem perto de mim, Iggy olha na minha câmera e canta como se tivesse cantando para audiência da tevê. Um registro histórico e marcante na minhas coberturas de shows.
repórter fotográfico, colabora com o UOL desde 2004.
* O então jovem fotógrafo/fã do Iggy Pop que pulou no palco e teve seu nariz carimbado é hoje o editor de fotografia do UOL, Lucas Lima.
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Curto Sandy e Junior desde a minha pré-adolescência, comprava os CDs, via os clipes na MTV e sempre tive vontade de ir num show deles. A dupla se separou e eu nunca consegui.
Em 2019, tive a oportunidade de fotografar para o UOL a coletiva de imprensa que anunciou a turnê "Nossa História", a imensa fila que se formou no Estádio do Pacaembu para a compra dos ingressos (que foram muito disputados), e o grande dia, o show!
O Allianz Parque estava lotado, uma energia muito boa, todos cantando bem alto, felizes de rever a dupla junta no mesmo palco. Muitas dessas pessoas, assim como eu, não tiveram a oportunidade de ir num show antes da separação. Foi bem emocionante ver e sentir a energia do público e a resposta recíproca da dupla. Foi um show bem marcante de forma pessoal e profissional, porque eu sempre gostei de Sandy e Junior e ter a oportunidade de ir pela primeira vez num show deles e fotografando foi uma experiência muito legal. A Mariana de 15 anos —idade que eu tinha quando a dupla se separou— jamais imaginaria que seria assim!
colobora com o UOL desde 2017
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A produção do rapper não permitiu foto do pit, o tempo estava meio estranho, mas quem quisesse uma imagem teria que encontrar um espaço, um ângulo para tentar um clique. Eu fui para o meio do público. Era o último show daquele dia, e eu já estava bem cansado de toda a maratona. Mas eu queria uma imagem. Na cinco primeiras músicas, não havia luz frontal no rapper. Kendrick estava 100% na contraluz. O cara pulava para frente e para trás, era quase impossível achar o foco. Eu estava quase desistindo quando começaram aos poucos alguns pontos de luz frontal. Eram fracos, mas já iriam ajudar. Foram muitas tentativas e poucas tinham foco. Esse foi uma delas.
Repórter fotográfico, colabora com o UOL desde 2017.
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Posicionado no "pit" dos fotógrafos diante do palco montado no gramado do Maracanã para o início do show dos Rolling Stones, durante a passagem da turnê "Olé" pela América Latina, me lembrei e até me assustei. Fazia quase 26 anos da primeira e última vez que eu havia fotografado esses dinossauros do rock. Foi durante o show da turnê "Voodoo Lounge", no estádio do Pacaembu, em São Paulo, em janeiro de 1995. Era a primeira vez da banda no Brasil. Na época, a ansiedade e o ineditismo fez todos os órgãos de imprensa madrugarem no aeroporto de Guarulhos para cobrir a chegada dos Stones, eu inclusive. Voltar tanto tempo depois para buscar o foco nas reboladinhas, corridinhas e caras&bocas de Mick Jagger; nos solos de Keith Richards e no difícil enquadramento de toda a banda na mesma imagem foi bom demais.
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Os rostos estão envelhecidos, mas a força, o som e a vitalidade pareciam as mesmas, pelo menos nas três músicas iniciais que tive permissão para fotografar a pelo menos 25 metros de distância. Em 1995, fomos proibidos de registrar a primeira música. Lembro bem do meu nervosismo no início do show antes de poder levantar minha Nikon F4, coração batendo a mil por estar ali, de frente e a três metros de distância para esses monstros e ídolos, tendo a capa do jornal que eu trabalhava na época esperando minha foto para fechar a edição. Engraçado mensurar hoje os diferentes níveis de adrenalina no meu sangue durante as duas distantes coberturas fotográficas.
Editor assistente de fotografia do UOL entre 2009 e 2017
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Em janeiro de 2011, embarquei no Projeto Emoções em Alto Mar para fotografar pela primeira vez um show do "Rei" Roberto Carlos em seu famoso cruzeiro. Desde a subida ao navio estivemos o tempo todo confinados em uma grande sala, vigiados pela produção e proibidos de circular pelo convés ou qualquer outra parte da embarcação. A cobertura começou com a coletiva de imprensa no fim da tarde, repleta também de fãs, e após o jantar a bordo finalmente aconteceria a tão esperada apresentação. Fazia tempo que não fotografava um show inteiro, aliás, com um roteiro já bem conhecido pelos seus súditos, similar aos tradicionais especiais de fim de ano. As músicas eram as de sempre, o microfone aquele velho conhecido "de lado" e o falso beijo nas rosas vermelhas sem espinhos jogadas para a plateia extasiada.
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Só o figurino fugia do script televisivo, dando lugar ao traje e o quepe de comandante do navio, além das taças de champagne distribuídas ao público para o brinde no grand finale. Imediatamente após o encerramento do show fomos todos convidados a nos retirarmos e conduzidos para deixar a embarcação, que em momento algum deixou o cais para se aventurar em alto mar.
Editor assistente de fotografia do UOL entre 2009 e 2017
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O festival São Paulo TRIP aconteceu em 2017, foram muitos shows legais durante os quatro dias de cobertura, mas eu estava aguardando ansiosamente a apresentação do Bon Jovi. Afinal, quem é que nunca cantou alto "It's My Life" e "Livin' On a Prayer"? Na hora do show, num palco enorme e alto com uma passarela no meio, a produção do artista avisou: "Não pode fotografar de frente para a passarela, apenas nas laterais dela. Escolham um lado. Não pode trocar de lado escolhido durante o show. Vocês têm as três primeiras músicas para fotografar e depois sair do fosso e direto para a sala de imprensa".
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Fotografar show é uma adrenalina, temos poucas músicas para resumir em imagens um show inteiro. Além disso, cada artista tem suas regras: alguns liberam para fotografar apenas de longe, outros de perto. De forma livre para transitar ou com limitações de ângulo e de lado, como foi o caso do Bon Jovi. Lado escolhido, as luzes do palco se apagam e o público vai ao delírio, bateria começa a tocar e é hora de fotografar! O que me marcou neste show foi a presença de palco e animação de Jon Bon Jovi com o público. Ele ficava andando de um lado para o outro, sorrindo muito, pulando, fazendo biquinho e mandando beijinho. Ele fez render em três músicas fotos que representam o show inteiro, cheio de energia! Hora de ir pra sala de imprensa descarregar as fotos e enviar pra redação publicar.
colabora com o UOL desde 2017.
Coleção de credenciais da fotógrafa Mariana Pekin
A ansiedade é grande e precisamos nos preparar para fotografar muitas vezes nossos ídolos. Nesse momento, é preciso deixar de lado toda admiração e não nos deixar envolver pela emoção. Normalmente chegamos cedo e temos lugares diferenciados do público, alguns muito perto e outros distantes, e em alguns casos, momentos exclusivos, onde ficamos cara a cara com o astro. Em geral, temos poucos minutos para registrar e transmitir nossa maneira de ver o espetáculo.
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No espetáculo do Cirque Du Soleil visitamos o circo antes da abertura para o público e acompanhamos a preparação dos artistas. Parecia que estávamos visitando um novo mundo com tudo muito bem organizado e cheio de detalhes, que muitas vezes passam despercebidos.
Interessante também assistir aos treinamentos que têm uma intensidade muito grande, e certamente exigem muito dos artistas para a sua execução, fazendo que automaticamente criemos uma admiração por eles. Lá, escutamos muitos idiomas, e é aí que surge a nossa parte do trabalho, que tenta resumir tudo aquilo que vimos em apenas uma imagem e de uma maneira bem particular.
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O que chama mais atenção nesse tipo de cobertura é perceber a alegria e orgulho das pessoas que se apresentam. Tudo parece perfeito porque eles realmente se sentem muito bem fazendo aquilo, e nós também.
editor de fotografia do UOL entre 2007 e 2016.
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Cobrir o show da cantora norte-americana St. Vincent foi uma experiência única. Apesar de cantar sozinha (ela e a guitarra), sua presença de palco, beleza e atitude fizeram com que os registros fossem muito mais fáceis de fazer. São poucos os artistas que você realmente consegue passar a energia do show para a foto.
repórter fotográfica, colabora com UOL desde 2009.
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Fazia bem pouco tempo que o Mr. Catra tinha morrido. Fomos cobrir a gravação do programa "Música Boa", com a cantora Iza. Como o programa seria todo dedicado ao funkeiro carioca com alguns convidados especiais, como MC Kekel, Lexa e MC Sapão, o clima era de bastante nostalgia e saudade. O shows foram repletos de muita emoção e homenagens. Não tinha como não se emocionar fotografando.
repórter fotográfica, colabora com UOL desde 2009
Publicado em 2 de setembro de 2020.
Edição: Liv Brandão e Lucas Lima;
Fotógrafos: Alexandre Schneider, Bruna Prado, Flávio Florido, Flavio Moraes; Iwi Onodera, Júlio César Guimarães; Moraes, Mariana Pekin, Reinaldo Canato;