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Temendo 'linchamento público', Polanski não irá à cerimônia do César

Roman Polanski dirige Jean Dujardin em J"Accuse: O Oficial e o Espião - Divulgação/IMDb
Roman Polanski dirige Jean Dujardin em J'Accuse: O Oficial e o Espião Imagem: Divulgação/IMDb

27/02/2020 11h09

Após semanas de polêmicas, o cineasta franco-polonês, Roman Polanski, anunciou que não irá à 45ª cerimônia do César, amanhã. Na premiação, equivalente ao Oscar, o novo filme do diretor, "O oficial e o espião", concorre em 12 categorias, o que revolta organizações e lideranças feministas.

"Há vários dias, me perguntam: você vai ou não à cerimônia do César? E eu respondo com a seguinte pergunta: como eu poderia?", afirma Polanski.

Feministas programaram uma manifestação diante da sala Pleyel, em Paris, onde o evento será realizado, na sexta-feira. Elas reclamam da aclamação de uma personalidade acusada de diversos estupros agressões sexuais contra mulheres. Um coletivo também teria colado cartazes nas paredes externas do prédio nesta semana com os dizeres "Violanski: o César da vergonha", em um trocadilho com a palavra "viol" (estupro em francês) e o sobrenome Polanski.

"Já sabemos o que vai acontecer nesta noite. As ativistas me ameaçam de um linchamento público. Algumas anunciam protestos, outras querem fazer de seu combate uma tribuna. Tudo isso promete mais ser um simpósio do que uma festa do cinema que deve recompensar seus maiores talentos", afirma o cineasta.

Polanski acredita que, com sua ausência da cerimônia, vai proteger sua esposa e seus filhos que, segundo ele, "são vítimas de injúrias e ataques". A decisão foi tomada "com pesar" para "não apoiar um tribunal de opinião autoproclamado pronto para 'chutar' os princípios do Estado de Direito para que o irracional triunfe novamente".

No total, Polanski é acusado agredir sexualmente doze mulheres, desde os anos 1970. A última acusação é da fotógrafa francesa Valentine Monnier. Em novembro do ano passado, ela contou ao jornal Le Parisien detalhes de um estupro que atribui ao cineasta e teria acontecido em 1975, quando ela tinha 18 anos.

O diretor nega essa e outras acusações. A maioria dos fatos prescreveram. Polanski também é um fugitivo da justiça dos Estados Unidos, onde em 1977 foi acusado de estuprar uma menor de 13 anos.

Falta de representatividade

Na véspera da cerimônia da premiação do César, o jornal Aujourd'hui em France também destaca outra polêmica em torno da premiação. Cerca de 30 atores e diretores lançaram um movimento que contesta a representatividade de artistas franceses de territórios fora da Europa, além de imigrantes africanos e asiáticos no cinema na França. Fazem parte dos manifestantes atores como Aissa Maiga, Edouard Montoute, Firmine Richard, e cineastas como Olivier Assayas, Mathieu Kassovitz e Olivier Marchal.

Em uma tribuna, eles lamentam que a França mantenha seus atores de diferentes origens e cores em papéis insignificantes, impedindo que eles jamais sejam indicados a prêmios no César. O texto é uma clara crítica aos papéis secundários e estereotipados a que são delegados esses atores imigrantes.

O grupo espera com isso que as mudanças anunciadas pela direção da Academia venham realmente permitir a inclusão de artistas que representam a chamada "diversidade". Uma outra carta-aberta de estrelas do cinema contra o funcionamento "elitista e fechado" do César motivou o autor desta tribuna, o ator francês de origem camaronense Eriq Ebouaney, a reivindicar mais paridade por parte da Academia do César.

O artista enfatiza que gostaria que este perfil de atores também fosse incluído "na foto de família" da premiação. "Eu conheço tantos atores que saem das escolas de teatro, que percorrem todo um percurso tradicional, mas acabam sem trabalho", lamenta Ebouaney. Segundo ele, há mais mudanças no teatro francês do que no universo do cinema, citando o ator Omar Sy como uma rara exceção.

O artigo enfatiza que os signatários da tribuna esperam serem ouvidos às vésperas da premiação, mas sem que precisem fazer qualquer tipo de manifestação. A matéria lembra que a premiação acontece apenas algumas semanas após a demissão da direção da Academia, o que promete lançar uma atmosfera talvez ainda mais tensa ao evento.