Projeto inacabado de Niemeyer no Líbano é reaberto com exposição de arte
A “Feira de Trípoli”, obra inacabada de Oscar Niemeyer no Líbano, se tornou palco de uma exposição temporária de arte contemporânea, chamando atenção para o enorme parque de 50.000 metros quadrados com 14 estruturas de concreto. Construído como exemplo da modernização sonhada pelo presidente libanês Fouad Chéhab nos anos 1960, o projeto permaneceu fechado para visitação durante 25 anos.
“A primeira pedra foi posta em 1963, mas houve problemas de construção, então os trabalhos só começaram de verdade em 1967. Até 1974, havia uma estrutura básica, mas o interior não tinha sido terminado”, conta Karina El Helou, organizadora da exposição de arte contemporânea da Feira de Trípoli. A guerra do Líbano, que começou em 1975, condenou definitivamente o complexo.
“Quando visitamos a obra em 2018, voltamos aos anos 1970, porque é como se o tempo tivesse se congelado. Voltamos a esse Líbano que foi sonhado. Essa jovem República libanesa que sonhou com esse espaço, que devia receber 15 mil visitantes por dia, com seu teatro experimental e seu Museu do Espaço”, explica Karina El Helou.
Foi precisamente a ideia de um Museu do Espaço o que atraiu os artistas Joana Hadjithomas e Khalil Joreige, que dirigiram um documentário sobre a epopeia espacial libanesa dos anos 1960. Os dois cineastas colocaram, no prédio inacabado, um dos foguetes lançados ao espaço na época.
“É um lugar grande, com 60 metros quadrados, geometricamente perfeito, com uma arquitetura mínima, simples, mas forte”, descreve Khalil Joreige. “A obra é muito bonita. Subterrânea, o que é raro, em geral os prédios de Niemeyer são visíveis. É construída como se fosse uma espaçonave”, afirma Joana Hadjithomas.
Projeto quase foi substituído pela “Disneylândia do Oriente”
Na exposição de arte contemporânea da Feira de Trípoli, o eco é o protagonista do teatro inacabado de Niemeyer. Debaixo de uma imensa cúpula, atravessada por barras de aço, o artista Zad Moultaka colocou cordas, reproduzindo uma teia de aranha. Através de uma instalação sonora, feita de pulsações e batimentos, os visitantes são invadidos por ecos, que transformam o local numa espécie de ser vivo, à procura da memória esquecida.
Agora que a Feira de Trípoli foi finalmente reaberta ao público, graças à exposição de arte contemporânea, a questão é saber qual será seu futuro. O lugar, que quase foi substituído por um projeto de “Disneylândia do Oriente”, corre sérios riscos ligados à estrutura de seus prédios.
“As obras, de concreto, nunca foram restauradas. Segundo estudos, o concreto dura 60 anos. Nos próximos dez anos, é preciso que haja trabalhos de restauração, ou vamos perder essa herança”, lamenta Karina El Helou. “Ter um lugar construído por Niemeyer e não preservá-lo é extremamente triste. É preciso que as autoridades locais e internacionais tomem uma atitude.”
A mostra de arte contemporânea da Feira de Trípoli vai até o dia 23 de outubro.
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