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"Poliamor ficou tão comum que acabou a transgressão", diz cartunista Adão

Capa de álbum de tiras da personagem Aline, de Adão Iturrusgarai - Reprodução
Capa de álbum de tiras da personagem Aline, de Adão Iturrusgarai Imagem: Reprodução

Silvano Mendes

26/09/2018 15h27

O cartunista brasileiro Adão Iturrusgarai participa de uma série de eventos em Paris, como parte do festival Jours du Pantanal (Dias de Pantanal). Conhecido por seus personagens irreverentes, ele falou nos estúdios da RFI sobre os limites do humor e a recente polêmica envolvendo um personagem de histórias em quadrinhos europeu, que acabou entrando na corrida presidencial brasileira.

Além de animar ateliês de criação no instituto franco-brasileiro Alter-Brasilis, Iturrusgarai participa na sexta-feira (28) de uma noite de autógrafos na Livraria Portuguesa e Brasileira de Paris, onde expõe trabalhos inéditos na França. "Trago um livro de cartoons que foi traduzido em francês, que eu apresentei em um festival na Bélgica no ano passado, além de livros em português, do Rocky & Hudson, da Aline e um terceiro, de tira autobiográficas, chamado 'Momentos brilhantes de minha vida ridícula'", conta o cartunista.

Aline e Rocky & Hudson foram escolhidos pois estão entre os personagens mais famosos do cartunista, conhecido por histórias marcadas por sua conotação sexual. A primeira, uma jovem feminista à sua maneira, que mantinha um relacionamento amoroso com dois homens ao mesmo tempo, fez sucesso durante anos nas páginas do jornal Folha de S. Paulo. Já o casal de cowboys gays foi precursor, sendo criado bem antes do mundo se emocionar com o filme "O Segredo de Brokeback Montain".

"Poliamor ficou comum"

"Tem sempre pessoas que ficam chocadas como esse tipo de assunto, como a homossexualidade ou as drogas. Afinal o Brasil é um país católico. Mas sempre dá para trabalhar esses temas", comenta Iturrusgarai. Além disso, ele lembra que o ineditismo desses assuntos já passou, e que as problemáticas abordadas antes causam menos polêmica nos dias atuais. "O poliamor ficou tão comum que acabou a transgressão", avalia o cartunista, em alusão ao personagem de Aline.

No entanto, mesmo se mora na Argentina, Iturrusgarai não ficou alheio à recente polêmica envolvendo uma história em quadrinhos europeia criticada por sua conotação sexual. Questionado sobre as denúncias lançadas pelo candidato da extrema direita à presidência do Brasil, Jair Bolsonaro, que acusou o personagem Titeuf, do franco-suíço Zep, de promover a homossexualidade entre as crianças nas escolas brasileiras, o cartunista é categórico: "Bolsonaro representa a banda podre do país. O Brasil sempre teve uma banda podre, com pouca cultura, só que agora parece que esses caras conseguiram se unir", sentencia. "Estou um pouco afastado do Brasil, mas vejo o que está acontecendo. Parece uma coisa bem assustadora", diz.

Iturrusgarai tem vários novos projetos em andamento. Além dos livros na gaveta, prontos para serem publicados, ele trabalha na criação de uma revista e em adaptações audiovisuais. "Estamos fazendo 13 episódios dos cowboys Rocky & Hudson em desenho animado", afirma. Aline também deve ganhar vida em breve e até uma versão na televisão está nos planos do cartunista.

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ROGGE

CORREÇÃO: A erotização da cultura brasileira começou a conta-gotas, por meio dos filmes ditos "chanchadas" e foi se tornando cada vez mais explícita com o passar dos anos e da diminuição da força moral da Igreja católica no meio do povo. Quando vejo uma pessoa falar de sexo sem limites como sendo uma conquista social, eu sinto pena dela. Os valores vistos sob o ângulo da vivência desregrada do sexo são tão frágeis, que eu temo sobre o futuro da humanidade. Quando o prazer se tornar o único motivador das ações humanas, a humanidade chegará ao fundo do poço. A renúncia à dignidade humana, a vivência de algo além do sexo e a droga resultarão na alienação total da realidade e a animalização do homem. Nem a heterossexualidade é uma virtude, nem a homossexualidade, um pecado, pois ninguém escolhe sua orientação sexual. Mas saber vive-las com sabedoria é preciso.

ROGGE

A erotização da cultura brasileira começou a conta-gotas, por meio dos filmes ditos "chanchadas" e foi se tornando cada vez mais explícita com o passar dos anos e da diminuição da força moral da Igreja católica no meio do povo. Quando vejo uma pessoa falar de sexo sem limites como sendo uma conquista social, eu sinto pena dela. Os valores vistos sob o ângulo da vivência desregrada do sexo são tão frágeis, que eu temo sobre o futuro da humanidade. Quando o prazer se tornar o único motivador das ações humanas, a humanidade chegará ao fundo do poço. A dignidade humana, a vivência de algo além do sexo e a droga resultarão na alienação total da realidade e a animalização do homem. Nem a heterossexualidade é uma virtude, nem a homossexualidade, um pecado, pois ninguém escolhe sua orientação sexual. Mas saber vive-las com sabedoria é preciso.

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