Perpignan: Festival de fotojornalismo no sul da França traz imagens que o mundo não quer ver
Em três décadas, o Festival de Fotojornalismo Visa Pour L’Image (01/09 a 16/09), em Perpignan, no sudoeste da França, se firmou como o encontro obrigatório dos profissionais e apreciadores da fotografia. Mas é uma fotografia peculiar - nem sempre, ou quase nunca, abordando assuntos leves.
Guerras, tragédias e calamidades estão sempre no cardápio. A linha diretriz do evento não mudou, continua sendo o de “dar visibilidade ao que não queremos ver”, como sintetizou o prefeito de Perpignan, Jean-Marc Pujol, em maio.
São 25 exposições gratuitas, com público esperado de 200 mil pessoas. Entre os temas principais este ano estão os conflitos na Síria, entre Israel e a Palestina, e no Iêmen. Ou a tragédia humana da minoria rohingya, que foge de Miamar em direção ao Bangladesh. Há ainda a liberação da cidade de Raqqa, na Síria, registrada pela brasileira Alice Martins.
Atualidade norteia programação
Jean-François Leroy, cofundador e diretor geral do festival, explica que a seleção é feita principalmente a partir da atualidade. “Mas há assuntos que eu quis incluir, como o trabalho de George Steinmetz sobre a má alimentação. Também há descobertas, pois são cerca de 4.500 propostas por ano. Analisamos todas, uma a uma e, de vez em quando, há verdadeiras pepitas. O eixo sempre foi confirmar nomes e descobrir outros”, conta Leroy em entrevista à RFI.
Apesar da invasão da foto digital, principalmente através dos celulares, Leroy diz que o desenvolvimento tecnológico não conseguiu apagar o verdadeiro papel do fotojornalista. “Ele prepara o tema. Quando vai a campo, ele sabe o que quer mostrar. Isso não mudou”, afirma o presidente de Visa Pour L’Image.
"Fotojornalismo não morreu"
Leroy contesta a afirmação frequente de que o fotojornalismo está morto. “Se fosse assim, não seria tão fácil montar uma programação diante de milhares de propostas. Todos os anos, muitos jovens querem fazer esse trabalho, eles têm vontade de testemunhar, de convencer, de contar o mundo. Para mim, não é o fotojornalismo que está doente, mas é a imprensa, que reduziu os orçamentos, faz menos encomendas. Antes, o profissional era mandado para uma missão de 15 dias, agora são três dias”, explica.
O festival, além das exposições, organiza encontros e palestras com grandes nomes do fotojornalismo. Durante a primeira semana, à noite, uma concorrida projeção a céu aberto, no Campo Santo, que é o gigantesco pátio de um claustro-cemitério do século 14, desfila as fotografias dos pontos altos da atualidade do ano que passou. Imagens da ocupação militar no Rio de Janeiro e a prisão de Lula devem marcar presença.
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