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Artista russo gera polêmica na Alemanha ao propor novo Muro de Berlim

A East Side Gallery tem mais de 1 km do antigo Muro de Berlim - Eduardo Vessoni/UOL
A East Side Gallery tem mais de 1 km do antigo Muro de Berlim
Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Marcio Damasceno

Correspondente da RFI em Berlim (Alemanha)

23/08/2018 11h45

Um projeto artístico que promete reconstruir o Muro de Berlim está dando o que falar. Entre outubro e novembro, dois quarteirões no centro da capital alemã devem ser fechados por um grande muro de concreto igual a construção que separou a cidade durante décadas. Dentro do espaço, os visitantes poderão reviver um clima de ditadura. Até agora foram revelados poucos detalhes sobre a ideia. O projeto, que dias atrás ainda era segredo, se chama Dau e é de autoria do cineasta russo Ilya Khrzhanovsky. Mais informações devem ser divulgadas oficialmente na semana que vem.

A partir de 12 de outubro dois quarteirões do centro da capital alemã devem ser fechados por um novo Muro de Berlim. A área funcionará como uma espécie de parque de diversões, onde os visitantes terão que pagar ingresso para entrar e, dentro dele, verão performances, shows de música e outros tipos de espetáculos e viverão experiências que lembram o clima de um regime totalitarista. Isso tudo vai acontecer durante quase um mês. Em 9 de novembro, dia da queda do Muro de Berlim, a construção deve ser demolida num espetáculo que imitará o evento da abertura do Muro.

Reality-show polêmico na Ucrânia

Durante o evento berlinense, será exibida pela primeira vez a série de filmes e vídeos produzidos, no estilo Big Brother, pelo autor do projeto, o cineasta russo Ilya Khrzhanovsky, de 43 anos. Ele fez na Ucrânia uma espécie de reality-show entre 2008 e 2011 em uma grande cidade cenográfica incluindo um prédio reproduzindo um instituto de pesquisa da era Stalin.

O experimento foi centrado na vida do físico e Prêmio Nobel Lev Landau e teve a participação de centenas de pessoas, que viveram por anos voluntariamente numa espécie de realidade paralela imitando um regime totalitarista. O evento de Berlim deve fazer parte de um ciclo, começando sob o slogan “liberdade” na capital alemã e incluindo etapas que serão mostradas em Paris e Londres, com os motes “igualdade” e “fraternidade”, respectivamente.

“Ditadura não é brincadeira”

Alguns não acham a ideia boa, argumentando que ditadura não é assunto para se brincar, como alega uma política berlinense do Partido Verde. Outros estão preocupados com as proporções do evento, que deve fechar algumas ruas do centro da cidade. Mas a administração local está animada com a ideia e o prefeito de Berlim acredita que o experimento poderá contribuir para trazer mais turistas à cidade.

Essa controvérsia lembra a discussão causada pelo projeto do artista Christo, que em 1995 embrulhou o prédio do Parlamento alemão em 100 mil metros quadrados de tecido durante duas semanas. Ele precisou de mais de 20 anos para conseguir a permissão para a obra.

Já esse projeto do Muro deve conseguir todas as autorizações mais rapidamente. Mas o processo, que está em andamento, parece não ser simples. As autorizações envolvem diversos departamentos municipais, que deliberam sobre questões como segurança, infraestrutura, proteção contra acidentes e incêndios. Os órgãos públicos estão preocupados também em buscar soluções para os transtornos que serão causados para quem vive e tem negócios na região que ficará cercada por um muro durante um mês, apesar do anúncio de que quem trabalha ou mora na área receberá um passe de livre circulação.