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Protestos na fronteira de Gaza fornecem inspiração e matéria-prima a artista palestino

19/03/2019 11h57

Por Nidal al-Mughrabi

GAZA (Reuters) - Um ano após o início dos protestos na fronteira de Gaza, os confrontos semanais com soldados de Israel se tornaram parte do cotidiano do enclave palestino, proporcionando inspiração, e até matérias-primas, a artistas locais.

O criador de dioramas Majdi Abu Taqeya passa horas fazendo réplicas tridimensionais em miniatura de cenas dos protestos com figuras esculpidas em restos de munição israelense recolhida nas proximidades da fronteira.

Lã e algodão se transformam na fumaça branca e negra que emana dos cinco campos de protestos que foram montados ao longo da divisa fortificada desde que as manifestações começaram, em 30 de março de 2018.

Em outros locais das tábuas de madeira de Abu Taqeya, manifestantes palestinos, ambulâncias, tropas e tanques israelenses e até a cerca de arame são recriados em miniatura. Ele usa cartuchos vazios de balas, cilindros de gás lacrimogêneo e às vezes estilhaços de mísseis israelenses.

Uma bala desencadeou a ideia, contou ele. No primeiro dia dos protestos, o irmão caçula de Abu Taqeya levou um tiro na perna e os médicos retiraram a bala, que ele levou para casa.

"Eu a transformei em uma pequena estátua de um soldado e lhe dei", disse ele à Reuters.

"Foi então que tive a ideia de começar a reciclar os restos da ocupação", explicou Abu Taqeya, policial naval aposentado de 38 anos.

Autoridades de saúde de Gaza disseram que cerca de 200 pessoas foram mortas por disparos de Israel desde que os palestinos iniciaram os protestos quase um ano atrás. Eles exigem o direito de voltar às terras das quais seus ancestrais fugiram ou foram expulsos durante os confrontos que acompanharam a fundação do Estado judeu em 1948.

Um soldado israelense foi morto por um franco-atirador palestino na fronteira.

Israel diz usar força letal para defender a divisa de militantes que tentam destruir a cerca da fronteira e se infiltrar encobertos pelos protestos. Na segunda-feira, investigadores de crimes de guerra da Organização das Nações Unidas (ONU) exortaram Israel a conter suas tropas na fronteira

No campo de refugiados de Nusseirat, onde Abu Taqeya mora, alguns vizinhos que foram feridos presentearam o artista com balas extraídas de seus corpos.

"Esta bala foi tirada do corpo de uma menina, eu a transformei em uma bala com uma borboleta no topo", contou Abu Taqeya.