Cientistas húngaros temem pela liberdade acadêmica, depois de nova interferência do governo
BUDAPESTE (Reuters) - Integrantes da histórica Academia Húngara de Ciências afirmaram que a sua liberdade acadêmica está ameaçada por um novo acordo dando ao governo nacionalista influência sobre as instituições de pesquisa.
O primeiro-ministro Viktor Orban, líder conservador que chegou ao poder em 2010, apertou o controle sobre a vida pública húngara, incluindo tribunais, mídia, economia, e também educação e agora a pesquisa científica.
A maior e mais velha instituição acadêmica da Hungria, a academia (MTA) é unicamente financiada pelo governo, mas se autoadministra, com uma rede de pesquisa científica que emprega cerca de 5.000 pessoas.
Na sexta-feira, o presidente da MTA, Laszlo Lovasz e o ministro de Tecnologia e Inovação, Laszlo Palkovics, anunciaram que chegaram a um acordo para separar a rede de pesquisa científica das instituições de ensino da academia. O acordo encerra vários meses de incerteza sobre como a MTA seria reorganizada.
O braço de pesquisa será administrado por um novo órgão de administração, com membros selecionados pelo governo e pela MTA, de acordo com a carta de intenção conjunta assinada por Lovasz e pelo ministro.
O Fórum de Trabalhadores da Academia, movimento fundado em janeiro por funcionários das instituições de pesquisa da MTA, disse em sua página no Facebook que o acordo não garante a independência das pesquisas.
?Os pontos na carta de intenção não incluem nenhuma garantia que pode ser levada a sério... sobre a manutenção da integridade científica e organizacional e da independência profissional da rede de pesquisa?, disse o Fórum, em uma publicação na rede social.
Preocupações sobre a erosão da liberdade acadêmica e outros direitos democráticos na Hungria motivaram vários protestos contra o governo nos últimos meses.
Em seu primeiro discurso como ministro das Relações Exteriores do Brasil, o chanceler do governo Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, citou a Hungria --juntamente com Israel, Estados Unidos, Itália e Polônia-- como um dos países que admira.
Em dezembro, a Universidade Centro-Europeia (CEU), fundada pelo bilionário George Soros, disse que foi forçada a sair da Hungria, em uma ?expulsão arbitrária? que violou a liberdade acadêmica, e confirmou planos de abrir um novo campus na Áustria.
(Reportagem de Sandor Peto)
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