Opressão e seus opositores darão tom político ao Festival de Berlim de 2019
Por Thomas Escritt
BERLIM (Reuters) - O abuso de poder, a opressão estatal e a luta enfrentada por aqueles que tentam desafiá-la em países que vão da Rússia ao Brasil e aos Estados Unidos são temas centrais do Festival Internacional de Cinema de Berlim deste ano, cuja lista de atrações foi anunciada nesta terça-feira.
A edição deste ano do festival, que jamais se absteve de pautas políticas delicadas, destacou filmes brasileiros que anteciparam a guinada do país para a direita na eleição presidencial do ano passado em sua programação.
"Às vezes a arte tem que ser política", disse o diretor Dieter Kosslick, que comanda sua 18ª e última Berlinale.
"No caso do Brasil, vemos como os filmes fizeram uma leitura sismográfica do clima do país antes de o atual presidente ser eleito", acrescentou.
"Marighella", filme dirigido por Wagner Moura e exibido fora da competição, conta a história da resistência do escritor Carlos Marighella e sua morte em 1969 nas mãos da ditadura militar que havia derrubado um governo democrático alguns anos antes ? uma história que ecoa perturbadoramente a ascensão do presidente Jair Bolsonaro.
A diretora francesa Juliette Binoche, que já tem um Urso de Prata, preside o júri da competição principal do festival, que deve sua inclinação política a seu nascimento em 1951 em uma cidade dividida que se estendia pelas linhas de frente da Guerra Fria.
Um exemplar legítimo desta tradição é "Mr. Jones", da diretora polonesa Agnieszka Holland, que conta a história do jornalista galês Gareth Jones, cujas reportagens dos anos 1930 da União Soviética expuseram o horror da fome na Ucrânia apesar de governos e repórteres rivais que tentaram silenciá-lo.
A China também está bem representada na competição principal com "So Long, My Son", de Wang Xiaoshuai, que estuda as vidas de dois casais vivendo as mudanças econômicas revolucionárias que transformaram o país desde os anos 1980. Também exibido fora da competição, "Vice", do diretor norte-americano Adam McKay, trata do reinado de Dick Cheney como o vice-presidente mais poderoso dos EUA.
"Este é o filme que você tem que ver para entender a Presidência", disse Kosslick antes de recomendar, causando riso na plateia, uma exibição de "Watergate - Or How We Learned to Stop an Out of Control President", documentário de Charles Ferguson sobre a queda de Richard Nixon, no festival.
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