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Em Beirute, público revive em peça histórias de sobreviventes de estupro

25/11/2018 15h38

Por Maria Semerdjian

BEIRUTE (Reuters) - Quando criança, Riham acordava à noite com seu meio-irmão a molestando. Agora ela é uma das sete mulheres que relatam seu sofrimento em uma peça sobre violência sexual no Líbano.

As gravações das vozes das mulheres soam quando o público passa de sala em sala em uma casa em Beirute. O grupo de direitos das mulheres ABAAD colocou a peça intitulada "Shame on who?" neste fim de semana.

Em uma sala, uma garota de branco tenta se levantar, mas continua caindo. Em outra, uma mulher fala com sua mãe, mas não recebe resposta.

"Escolhi a idéia de uma casa porque a maioria desses incidentes acontecem com alguém muito próximo das vítimas", disse Sahar Assaf, que concebeu e dirigiu a peça.

"Supostamente, o lugar mais seguro para uma mulher deveria ser a casa dela."

Riham, 35 anos, lembra como ela contou à mãe que seu meio-irmão abusou dela por 20 anos desde que ela tinha oito anos. "Ela disse que eu era uma mentirosa e que nunca deveria falar de tal coisa."

Chefe da ABAAD, Ghida Anani, disse que a peça busca empoderar os sobreviventes e encorajar as vítimas a denunciar os ataques.

O público revive a história de Ward do ponto de vista do marido enquanto um ator anda em um quarto.

"Nós nos casamos ... mas ela começou a se incomodar porque eu gostava de dormir com ela pela força. Por trás", diz ele.

"Uma vez eu dei-lhe comprimidos para dormir e amarrei-a... Ela não podia fazer nada."

O Líbano aprovou uma lei há muito esperada em 2014 contra a violência doméstica. Mas os grupos de direitos humanos ficaram indignados com o fato de as autoridades terem diminuído tanto a criminalização do estupro conjugal. O casamento infantil também permanece legal.

As Nações Unidas dizem que um terço das mulheres em todo o mundo sofreram violência sexual ou física.

Um estudo nacional de 2017 da ABAAD descobriu que uma em cada quatro mulheres foram estupradas no Líbano. Menos de um quarto dos que enfrentaram agressão sexual relataram isso, segundo a pesquisa.

(Reportagem de Maria Semerdjian e Imad Creidi)