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"Se não fizesse música eu ficaria louca, literalmente", diz Maria Rita

Maria Rita na turnê "Amor e Música" no Rio de Janeiro - Daryan Dornelles/Divulgação
Maria Rita na turnê "Amor e Música" no Rio de Janeiro Imagem: Daryan Dornelles/Divulgação

Lucila Sigal

Da Reuters, em Buenos Aires (Argentina)

20/09/2018 10h36

A cantora Maria Rita, que se apresentará em um show íntimo de voz e piano em Buenos Aires nesta quinta-feira, disse que a música é sua vida e a salvou, mas que nem sempre foi assim.

Ser filha de Elis Regina foi difícil durante a infância e a adolescência, pela pressão de ser comparada com a mãe, com quem, além de tudo, compartilha um tipo físico semelhante.

Como Elis Regina morreu com apenas 36 anos e Maria Rita era sua única filha, a cantora conta como muitas pessoas começavam a chorar quando a viam porque sentiam saudades de sua mãe. Naquela época, Maria Rita não entendia a reação e ficava muito incomodada.

"Quando era menor, ser a única filha de uma das cantoras mais importantes da história do Brasil foi pesado para mim, porque não tinha as ferramentas emocionais para lidar com isso", disse a cantora de 41 anos à Reuters em entrevista por email

Embora sempre tenha sentido que a música era sua vida, durante muitos anos negou esse sentimento porque era difícil estar sob a sombra de sua mãe, de quem tinha muito orgulho. Aos 16 anos se mudou para os Estados Unidos, onde ninguém a conhecia, e só depois conseguiu assumir que cantar era sua verdadeira vocação.

"Quando me dei conta de que se não fizesse música ficaria louca, literalmente, não seria uma boa pessoa para nada, toda essa pressão desapareceu... não me importava mais nada e pude focar em meu caminho, não é sequer uma carreira para mim, é meu caminho, minha vocação", acrescentou.

A cantora de MPB relembrou como, quando era mais nova, seus colegas de turma no colégio podiam adivinhar seu estado de espírito pelas músicas que cantava ao chegar à sala de aula. E que seu pai, o compositor César Camargo Mariano, nunca a pressionou e a criou para ser uma pessoa feliz, fazendo o que quisesse.

"A música é tudo para mim, a música sou eu. Sou quem sou devido à música... (A música) me salvou de mim mesma no passado, de minha história, e segue o fazendo. Agora, trato de explicar aos meus dois filhos o quão importante e crucial é a música".

No início de 2018, Maria Rita lançou seu oitavo álbum, "Amor e Música", baseado no samba, que, segundo ela, carrega forte simbolismo porque é alegre, mas tem um fundo triste relacionado à realidade do Brasil.

"Em minha humilde opinião, uma das razões para que seja um gênero tão brasileiro é essa característica que tem de estar tão próximo da realidade... Tem todos esses tambores e sons que te dão vontade de pular e dançar e, no fundo, tem esse instrumento que quase chora", disse, em referência à cuíca.

"Há muito simbolismo nisso, é alegria, mas também é uma forma de disfarçar uma realidade. O carnaval é exatamente isso. É o momento do ano em que toda a população, negros, brancos, ricos ou pobres, podem se esquecer de tudo. É quase como uma utopia", explicou.

Maria Rita acaba de passar por seis países europeus com o show que apresentará em Buenos Aires, no qual é acompanhada pelo pianista Rannieri Oliveira e que inclui alguns sucessos de seu primeiro álbum, como "Cara Valente" e "Num Corpo Só", além de novas versões de músicas antigas como "Grito de Alerta" e "Romaria".

"Não vou a Buenos Aires há muito tempo, o que é muito triste e, nesse sentido, me deixa um pouco ansiosa. Tenho muita vontade de estar lá, amo o país, amo a cultura e basicamente estou muito ansiosa", disse.