ESTREIA-"A Promessa" ambienta melodrama no centro do massacre aos armênios de 1915
FILME-ESTREIA-PROMESSA:ESTREIA-"A Promessa" ambienta melodrama no centro do massacre aos armênios de 1915
SÃO PAULO (Reuters) - O cineasta irlandês Terry George sabe manejar um drama e identificar-se com temas sociais relevantes. Construiu sua carreira em torno de filmes como ?Hotel Ruanda? (por cujo roteiro foi indicado ao Oscar em 2005) e ?Mães em Luta? (1996), além de outra indicação ao Oscar como corroteirista de ?Em nome do pai? (1993), de Jim Sheridan.
Assim, não é nenhuma surpresa vê-lo à frente da direção e roteiro (dividindo créditos com a norte-americana Robin Swicord) no drama ?A Promessa?, uma coprodução entre Espanha e EUA, com um elenco internacional, focalizando o massacre dos armênios pelos turcos em 1915 --que se estima ter sido o primeiro genocídio do novo século e uma espécie de ?modelo? que os nazistas imporiam depois aos judeus.
A história é personalizada num melodrama a partir de uma família, os Boghosian, embalado por um triângulo amoroso temperado por problemas éticos, com três personagens fortes: o farmacêutico e estudante de medicina Mikael Boghosian (Oscar Isaac), a professora de dança Ana Khesarian (Charlotte Le Bon) e o jornalista norte-americano Chris Myers (Christian Bale).
Os três se conhecem em Istambul, onde Mikael, rapaz do interior, veio morar com um tio comerciante, Mesrob (Igal Naor) e sua família. A bela e emancipada Ana, que viveu em Paris, ensina dança às pequenas primas de Mikael e surge uma atração entre os dois. Mas há obstáculos sérios: Ana vive com o jornalista Chris e Mikael está preso a uma promessa de casamento, cujo dote, inclusive, é o que financia seus estudos.
Se os três atores enchem a tela com seu conflito amoroso, nem por isso Terry George descuida do contexto assustador em que suas histórias se desenvolvem. No início da I Guerra Mundial, os armênios --cristãos, ao contrário dos turcos, de maioria muçulmana-- começam a ser presos, mortos, enviados ao deserto, despojados de seus bens.
E são particularmente boas as cenas de deslocamentos de massas de populações, lembrando a saga dos refugiados atuais.
A trama se estrutura no sentido não só de exasperar a tensão entre o trio --lembrando o compromisso de Mikael com a noiva Maral (Angela Sarafyan)-- como de criar situações de perigo envolvendo todos eles, especialmente pelo desespero de Mikael para reencontrar os pais e o envolvimento do repórter para denunciar o massacre ao mundo.
Há nessa caracterização dos dois homens, especialmente, uma certa contaminação de clichês que contribuem para atenuar a qualidade dramática do filme, embora seja inegável a importância do tema que resgata --basta lembrar que até hoje a Turquia ainda não admite este genocídio, que se estima ter colhido a vida de 1,5 milhão de armênios.
Mais interessante é a personagem de Ana, por seu caráter ousado e pela fluidez com que ela se mostra capaz de atravessar diversas situações. Já a mãe de Mikael, Marta (Shoreh Aghdashloo) é outra a ser engolida pelo clichê.
Talvez tenha faltado a George um envolvimento mais de dentro, o que ele, como irlandês, foi inegavelmente capaz de atingir mais fundo nos dramas ?Mães em luta? e ?Em nome do pai?.
De todo modo, é visível que o filme teve a força de incomodar os negacionistas do genocídio armênio, tornando-se alvo de ?trolls? e uma incomum enxurrada de ?dislikes? ao seu trailer na internet. Nada de se estranhar.
Quando, em 2002, o cineasta egípcio canadense de origem armênia Atom Egoyan lançou seu filme sobre o tema, ?Ararat?, chegou a receber ameaças por parte de ultranacionalistas turcos. Por conta disso, o filme deixou de ser exibido em vários cinemas daquele país onde estava programado.
Neste sentido, ?A Promessa? cumpre um imprescindível papel: não deixar arrefecer a memória daqueles fatos, recolocando-os em discussão.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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