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Fotos mostram a "guerra das pichações" nas ruas de São Paulo

Policial confronta pichador em São Paulo - Reuters/Nacho Doce
Policial confronta pichador em São Paulo
Imagem: Reuters/Nacho Doce

Brad Haynes

São Paulo (BRA)

27/04/2017 12h53

Levou um minuto para o artista brasileiro Iaco pegar uma lata de tinta spray e escrever "doria" sete vezes em um muro cinza em São Paulo.

Levou quatro minutos para chegar um policial, tirar uma arma, algemar Iaco e o levar para a delegacia mais próxima -- uma resposta pronta para a provocação à guerra contra o grafite deflagrada pelo prefeito João Doria assim que assumiu o mandato, no início deste ano.

Esse não era qualquer muro.

Semanas antes, Doria usara um macacão laranja e uma máscara facial para ajudar a pintar de cinza quase 15 mil metros quadrados de arte de rua no mesmo trecho da Avenida 23 de Maio.

Pichador se arrisca em prédio para deixar sua marca - Reuters/Nacho Doce - Reuters/Nacho Doce
Pichador se arrisca em prédio para deixar sua marca
Imagem: Reuters/Nacho Doce

O destino desses murais, comissionados pelo prefeito anterior, levantaram um debate sobre o internacionalmente famoso cenário de grafite da maior cidade da América do Sul e seu lugar na paisagem mais limpa imaginada pelo projeto "Cidade Linda" de Doria.

Desde então, o prefeito chamou a decisão de repintar a movimentada avenida e agora insiste que sua luta não é contra a colorida arte de rua da cidade, mas contra o agressivo estilo de marcação conhecido como "pichação".

Fontes angulares e de estilo rúnico conquistaram faixas da paisagem de São Paulo à medida que pichadores escalam prédios e monumentos com rolos de tinta e latas de spray nas mãos, provocando a ira de muitos que adotam outras formas de grafite.

"O muralista é um artista, esses têm o nosso respeito", disse Doria em uma entrevista este mês, destacando seus planos de propor novos trabalhos de arte de rua. "Os pichadores são agressivos. Não é um problema social... É problema mental, criminal".

Doria diz que a polícia já flagrou mais de 100 pessoas escrevendo ilegalmente em muros em São Paulo desde que ele assumiu em janeiro.

Pichador posa em frente à grafite realizado na cidade de São Paulo - Reuters/Nacho Doce - Reuters/Nacho Doce
Pichador posa em frente à grafite realizado na cidade de São Paulo
Imagem: Reuters/Nacho Doce

O prefeito definiu uma multa para pichações de até 10 mil reais, o equivalente a mais de 10 salários mínimos. Entretanto, os pichadores disseram que isso não vai os dissuadir de escalar prédios altos e viadutos para deixar suas marcas.

"Que outro tipo de artista coloca sua segurança em risco pelo seu trabalho?", perguntou o pichador conhecido como Du.

"Toda arte envolve a liberdade de expressão, mas a pichação é a expressão da liberdade. Você está dizendo ao mundo, 'Eu estou aqui. Você não pode me ignorar'."

Alguns no mundo do grafite questionam a distinção feita entre outros tipos de arte de rua e a pichação, que foi incluída na Bienal de Berlim, na Fundação Cartier em Paris e no São Paulo Fashion Week.

Originalmente inspirada por capas de álbuns de heavy metal dos anos 1980, a caligrafia críptica conquistou admiradores no cenário de grafite internacional, incluindo a fotógrafa Martha Cooper, que tem documentado a subcultura em Nova York por quatro décadas.

"Eu sou uma grande fã do que eles estão fazendo em São Paulo. Eles inventaram seu próprio alfabeto", disse Cooper, que foi apresentada aos pichadores da velha guarda em recente visita ao Brasil.

"Não são atos aleatórios de vandalismo de jeito nenhum", disse Cooper. "É uma maneira de transformar em seu o ambiente."

Jovem pinta muro em comunidade de SP - Reuters/Nacho Doce - Reuters/Nacho Doce
Jovem pinta muro em comunidade de SP
Imagem: Reuters/Nacho Doce