Português Vhils usa explosivos para desenhar retratos em paredes de cidades
O artista português Alexandre Farto, conhecido pelo pseudônimo Vhils, herdado de seus tempos como grafiteiro, literalmente abala as fundações quando explode bombinhas de pólvora inseridas em rebocos de fachadas ou usa furadeiras para cavar tijolos e concreto.
Quando a poeira baixa, impressionantes imagens de rostos enrugados se revelam. Os vívidos retratos de olhar profundo encaram os transeuntes em cidades que vão de Sydney a Xangai, de Moscou a Londres, do Rio de Janeiro a Honolulu e muitos outros lugares.
A fama do artista, de 27 anos, recentemente extrapolou as fronteiras da arte de rua, com a organização de sua primeira grande exposição individual em um museu no início deste ano. Nesta semana, ele lançou um vídeo feito para a banda irlandesa U2.
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Eu sempre fui interessado nesses lugares que expõem um pouco da fragilidade da cidade, mostram que tudo é efêmero
O clipe para a música "Raised by Wolves", filmado em câmera lenta para capturar as criações de Vhils com explosivos nos subúrbios de Lisboa, onde ele nasceu, integra o projeto "Films of Innocence", "uma coletânea visionária de 11 filmes de autoria dos artistas urbanos mais viscerais do mundo", de acordo com a descrição no site da banda U2.
Lisboa e seus subúrbios, com o charme decadente de suas fachadas dilapidadas, armazéns abandonados e murais revolucionários dos anos 1970 cobertos por camadas de propaganda e grafites, inspiraram Vhils a trocar as latas de spray de tinta por ferramentas de talhar em 2004, vindo depois a acrescentar explosivos ao seu arsenal.
"Eu sempre fui interessado nesses lugares que expõem um pouco da fragilidade da cidade, mostram que tudo é efêmero", disse Vhils à Reuters em seu estúdio de Lisboa, montado em uma garagem.
Expor as entranhas
A arte de Vhils é com frequência descrita como destrutiva, mas ele a considera menos destrutiva do que uma poesia sobre uma superfície de papel. Muitos de seus trabalhos mais internos são feitos de camadas de pôsteres antigos, tinta e reboco retirado de paredes.
"Ao cavar as entranhas dessas camadas, você expõe as entranhas da cidade... Paredes refletem as mudanças que aconteceram", disse ele.
Foi a crise financeira de 2010 em Portugal e no sul da Europa que o inspirou a usar explosivos: "Algumas vezes é preciso uma faísca. Explosões mostram o ciclo histórico, trazem camadas antigas de volta à superfície."
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Algumas vezes é preciso uma faísca. Explosões mostram o ciclo histórico, trazem camadas antigas de volta à superfície
A técnica, que envolve cargas de pólvora entre 0,5 e 2 gramas inseridas em buracos de variadas profundidades perfurados no cimento e cobertos com estufo, levou um ano para ser aperfeiçoada.
Os rotos retratados pelo artista são em geral de pessoas comuns "que simplesmente lutam para sobreviver".
"A ideia é tornar visíveis aqueles que são praticamente invisíveis na cidade, humanizar os espaços públicos", disse ele.
Levar essa arte ao museu significou superar a barreira entre a arte de rua a o circuito convencional de arte. Mas, segundo ele, "essa separação, que é limitadora para os artistas, vai desaparecer... vai haver mais diálogo" graças ao rico acervo visual disponível para uma nova geração por meio da internet, mesmo que não sejam necessariamente estudantes de arte.
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