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Filhos de sobreviventes do Holocausto mantêm memória viva em novo livro

MICHAEL DALDER
Imagem: MICHAEL DALDER

09/12/2014 11h11

Por Philip Pullella

ROMA (Reuters) - Com a iminência do 70o aniversário da libertação de Auschwitz, no ano que vem, os descendentes do Holocausto enfrentam um dilema que irá se aprofundar com a passagem do tempo: como transmitir a “memória recebida” para as futuras gerações.

Em um livro chamado “Deus, Fé e Identidade a Partir das Cinzas: Reflexões de Filhos e Netos de Sobreviventes do Holocausto”, 88 deles contam como herdaram a lembrança e como esperam passá-la adiante.

“Muitas, senão a maioria dos filhos e netos de sobreviventes do Holocausto, vivem com fantasmas”, escreveu Menachem Rosensaft, ele mesmo um destes filhos, na introdução do livro que editou.

“De certa maneira, somos assombrados da mesma maneira que um cemitério é assombrado. Trazemos dentro de nós as sombras e os ecos de um perecimento angustiado que jamais vivenciamos ou testemunhamos.”

Os ensaístas são de 16 países e têm entre 27 e 72 anos de idade. Alguns nasceram em campos de Pessoas Deslocadas na Europa no final da Segunda Guerra Mundial, mas muitos são netos na casa dos 20 ou 30 anos. Nenhum deles tem nenhuma lembrança pessoal do Holocausto, no qual os nazistas assassinaram cerca de seis milhões de judeus.

Embora muitos livros e estudos sobre filhos e netos de sobreviventes do Holocausto se dediquem aos aspectos psicológicos, os ensaístas se concentram no modo como as experiências de seus pais e avôs ajudaram a moldar sua identidade e sua atitude em relação a Deus e ao judaísmo. Pelo menos um deles é ateu.

Entre os 51 homens e as 37 mulheres estão acadêmicos, escritores, rabinos, políticos, artistas, jornalistas, psicólogos, um ator e um terapeuta sexual.

Um dos mais jovens é Alexander Soros, o filho de 29 anos do investidor George Soros. A primeira vez em que os dois se sentiram ligados foi quando seu pai lhe contou sobre suas experiências de infância na Budapeste ocupada pelos alemães em 1944.

Uma das mais idosas, Katrin Tenenbaum, de 72 anos, da Itália, escreve que, à medida que a distância do Holocausto aumenta, “mais a tristeza perde o foco, tornando-se de certa forma mais difusa e, ao mesmo tempo, mas difícil de precisar”.

O livro começa com um prólogo do vencedor do Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel, de 86 anos, que sobreviveu aos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald.

Ele diz àqueles que receberam as lembranças: “Estamos sempre lhes dizendo que a civilização traiu a sim mesma ao nos trair, que a cultura terminou em falência moral, e ainda assim queremos que vocês aprimorem ambas, não uma ao custo da outra”.