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Releitura de Van Gogh por dramaturgo Antonin Artaud inspira exposição em Paris

11/03/2014 14h05

Por Alexandria Sage

PARIS, 11 Mar (Reuters) - Os gritos de mulheres enlouquecidas surpreendem visitantes que entram na nova exposição sobre Vincent Van Gogh no Museu d'Orsay, em Paris, um olhar sobre o trabalho do pintor sob a perspectiva do falecido dramaturgo e diretor francês Antonin Artaud.

"O Homem Levado ao Suicídio pela Sociedade", inaugurada nesta terça-feira, é um título apropriado para uma exposição de 55 obras de Van Gogh usando o próprio comentário de Artaud, para vê-las sob uma nova luz.

Conhecido por sua obra seminal de 1938 "O Teatro da Crueldade", Artaud foi, como Van Gogh, atormentado por alucinações e internado em clínicas psiquiátricas durante toda a vida.

No espaço de exposição, um caleidoscópio de frases violentas retiradas de uma análise de Artaud de 1947 sobre Van Gogh é projetado no chão: "angústia" e "delírio".

Gritos gravados dão o tom da exposição em que quatro autorretratos de Van Gogh encaram o espectador.

Artaud defendeu Van Gogh, o artista de cabelos ruivos que morreu depois de atirar no próprio estômago em 1890, em um livro de 1947, em que culpou a sociedade por sua morte. A editora convenceu o dramaturgo de que seus próprios problemas de saúde mental fariam dele um intérprete ideal de Van Gogh.

Para Artaud, Van Gogh não era um louco, mas alguém sem medo de retratar a realidade, um artista que poderia, como ele escreveu, "examinar o rosto de um homem com uma força tão avassaladora, dissecando sua psicologia refutável como se usasse uma faca".

A curadora da exposição em Paris, Isabelle Cahn, disse que o texto de Artaud desafia as ideias convencionais sobre a suposta loucura de Van Gogh.

"Artaud escreveu: 'Não, Van Gogh não é louco, ele foi empurrado para um desespero suicida por uma sociedade que rejeitou suas obras'", disse ela. "Daquele momento em diante, ele passou a acusar pessoas de empurrar Van Gogh ao suicídio e a sociedade como um todo."

Van Gogh queixou-se certa vez a seu irmão Theo da dificuldade de pintar, que seria semelhante a "encontrar seu caminho através de uma parede de ferro invisível" que separa sentimento de execução, uma frustração presente na obra de Artaud.

"Ninguém jamais escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu, inventou, a não ser para sair do inferno", escreveu Artaud, que foi encontrado morto em 1948 aos 51 anos em seu quarto numa clínica, possivelmente em consequência de uma overdose.