Fabricantes de gôndolas de Veneza tentam manter viva a tradição
Por Isla Binnie
VENEZA, 22 Out (Reuters) - As elegantes gôndolas que deslizam por Veneza carregam a marca de um pequeno mas orgulhoso grupo de artesãos que luta para manter vivos os métodos tradicionais de construção do mais famoso símbolo da cidade alagada.
Cada uma conduzida por um gondoleiro com camisa listrada e chapéu de palha, a embarcação de luxo oferece um ambiente romântico para um calmo passeio e, não raro, um pedido de casamento.
Havia em torno de 7 mil gôndolas em Veneza há cerca de 700 anos, de acordo com a associação de gondoleiros Ento Gondola, mas o uso como transporte diário foi substituído por barcos mais modernos. As 433 restantes são agora, sobretudo, atrações turísticas.
No canteiro naval Tramontin, conhecido como "squero" no dialeto veneziano, o fabricante de gôndolas Roberto Tramontin explica porque seu negócio familiar, fundado em 1884 por seu tataravô, ainda fabrica o barco clássico.
"É como uma mulher sem muita maquiagem em um vestido Armani preto, com somente um diamante no pescoço", descreve ele.
Leva dois meses para construir uma gôndola a partir de 280 peças de variadas madeiras, incluindo carvalho, mogno, castanheira, elmo, entre outras, todas custando juntas cerca de 38 mil euros, diz Tramontin.
A madeira é tratada por até um ano antes de poder ser montada em uma forma ligeiramente assimétrica semelhante a uma banana, que permite a um único gondoleiro impulsioná-la em linha reta.
Os construtores de gôndolas praticam por anos antes de começar a construir barcos em tamanho condizente com o peso de cada gondoleiro.
"Comecei a trabalhar em 1970 e em 1994 fiz a minha primeira gôndola por conta própria", disse Tramontin, apoiando-se em um reluzente exemplar, pesando cerca de 500 kg e com 11,1 metros de comprimento.
Tramontin diz construir gôndolas 60 por cento de acordo com métodos antigos, mas que ele usa algumas peças de madeira cortadas por máquinas e um tipo de compensado moderno para a base do barco.
CULTURA EM DESAPARECIMENTO
"Nós trabalhamos no estilo antigo. Tudo é feito à mão", diz o fabricante de gôndolas Lorenzo Della Toffola, de 48 anos, trabalhando em uma gôndola pela metade no "squero" de San Trovaso, no bairro veneziano de Dorsoduro, que produz um ou dois barcos por ano, utilizando apenas técnica centenárias.
"Este trabalho já foi feito por dezenas de pessoas em diferentes oficinas ao redor da cidade", disse o fabricante de remos e cavilhas Saverio Pastor, enquanto ele e seu funcionário Pietro cortam um pedaço de madeira de castanheira usando um serrote de dupla empunhadura.
"No passado, todos sabiam como remar, agora poucos tem alguma habilidade para remos", disse Pastor, balançando a cabeça. "É uma cultura de milhares de anos que está se perdendo."
O artesanato em torno das gôndolas deve ser preservado, apesar dessa mudança de comportamento, disse o prefeito de Veneza, Giorgio Orsoni.
"A gôndola é um dos símbolos da cidade e por isso está claro que nós temos que fazer todos os esforços possíveis para preservá-la e também manter a profissão, as técnicas."
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