Escândalo de trote na realeza destaca novos riscos da mídia
Por Rob Taylor
CANBERRA, 10 Dez (Reuters) - Em 2007, quando as investigações sobre o escândalo de grampos telefônicos na Grã-Bretanha envolvendo jornalistas que trabalhavam no império da mídia de Murdoch ganhavam força, um programa de comédia baseado em trotes telefônicos estreou de forma discreta no país.
"Fonejacker" se mostrou um sucesso tão grande com o público britânico que no ano seguinte o programa, no qual alguém disfarçado engana vítimas infelizes, ganhou um prêmio BAFTA de melhor comédia, ressaltando o sucesso dos trotes em meio à indefinição de um incessante ciclo de notícias da mídia social e de entretenimento.
Mas um trote semelhante para um hospital londrino --onde a esposa grávida do príncipe William, Kate, estava internada-- provocou uma explosão na mídia tradicional e social, depois do aparente suicídio de uma enfermeira que atendeu a ligação.
A maior parte da fúria vem sendo direcionada a atribuir a culpa pela morte da enfermeira aos radialistas australianos que passaram o trote, ou à mídia em geral. Os comentários mais duros vieram de perfis do Facebook e do Twitter.
A indignação da mídia social ganhou força própria e superou a notícia original do trote, fazendo com que o programa que transmite as ligações falsas perdesse anunciantes e provocando a suspensão dos dois locutores da rádio.
As ações da proprietária da emissora de rádio 2Day FM, a Southern Cross Austero, caíram 5 por cento nesta segunda-feira, com a reação do público ganhando força.
Críticos e analistas da mídia alertaram que as mudanças rápidas da mídia tradicional e social podem ter dado às pessoas uma maior liberdade de expressão, mas também ter liberado um animal que pode ter repercussões destrutivas ou negativas.
"Tudo está mudando tão rápido que as normas sociais voltaram para a confusão", escreveu a veterana colunista de jornal Jennifer Hewett no Australian Financial Review.
"O que está claro é que em breve olharemos para trás para contar os custos de montagem e a força destrutiva, assim como os grandes benefícios da explosão da comunicação em uma mídia de todos, para todos e o tempo todo no mundo", disse Hewett.
A enfermeira Jacintha Saldanha, de 46 anos, foi encontrada morta em um quarto de funcionários perto do hospital londrino King Edward VII na sexta-feira, depois de ter passado a ligação de trote para uma colega, que sem querer revelou detalhes do estado de Kate para os locutores da 2Day FM.
Sua morte, que ainda está sendo investigada, aconteceu enquanto a Grã-Bretanha ainda vive uma indignação com as escutas telefônicas.
E enquanto na Grã-Bretanha a imprensa popular foi rápida em adotar os padrões morais e apontar o dedo para os australianos, os analistas australianos apontaram para o outro lado, ou para a confusão com o papel mutante da mídia e a demanda pública voraz não apenas informação, mas cada vez maiores excitações.
"A condenação que a mídia social fez da morte de Saldanha deveria provocar uma reavaliação da ética na era das notícias de celebridades", disse Jim Macnamara, analista da mídia da Universidade da Tecnologia de Sydney, na Austrália.
"Há uma lição nisso para as organizações de mídia em toda parte, e para os jornalistas e personalidades da mídia, e é a de que eles precisam olhar para os padrões da comunidade e se autorregularem melhor", disse Macnamara.
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